Albert Serra: “O Mal somos nós todos”

Pacifiction é possivelmente a obra-prima de Albert Serra, uma contemplação atordoada da opacidade dos poderes políticos contemporâneos. Conversa com o realizador.

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Magnífico regresso de Albert Serra, num filme com características que ainda não tinha experimentado. Para trás ficam as fantasias históricas e literárias baseadas no Dom Quixote ou no Marquês de Sade. Pacifiction é um conto político, difusamente político mas num mundo totalmente contemporâneo e reconhecível, seguindo os dias da viagem de um representante do Estado francês (Benoît Magimel) à Polinésia, revelando manobras políticas de pequena e grande escala e preparações clandestinas para a retoma dos testes nucleares franceses nas ilhas da região. Nesta conversa, Serra lima as diferenças entre este filme e os anteriores, falando da preponderância da ideia de sempre usar a realidade da presença dos actores para criar um mundo “artificial e fantasioso”, um “falso mundo passado”. Mas a atmosfera hipnótica de Pacifiction é também o atordoamente provocado pela contemplação da opacidade dos poderes políticos contemporâneos, quase como os thrillers de Pakula nos anos 70. Ou do Apocalypse, Now, de que Serra, a propósito das ressonâncias “conradianas” de Pacifiction, diz ser o “anúncio do mundo moderno”, da “total ambiguidade entre o Bem e o Mal”, de um mundo em que, no fundo, “o Mal, somos nós todos”.

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