Bakhmut “praticamente cercada” pode ser a grande vitória do Inverno russo

Moscovo garante que cerco a Bakhmut está próximo. Prigozhin deixa conselho a Zelensky: ordenar a retirada dos seus soldados, que têm “dias” de vida.

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Destruição causada por bombardeamentos russos contra Bakhmut Reuters/STRINGER

O fim do impasse na longa disputa por Bakhmut parece aproximar-se. Enquanto os soldados russos, em especial o grupo Wagner, anunciavam cada passo como uma vitória na aproximação à cidade de Donetsk, a Ucrânia manteve-se certa de que a defenderia com sucesso. Bakhmut está hoje "praticamente cercada".

“O inimigo não desiste da esperança de conquistar Bakhmut e continua a acumular forças para ocupar a cidade”, escreveu esta quinta-feira o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, no Telegram, sobre "a mais difícil" das batalhas, como a descreveu Volodymyr Zelensky.

Num gesto de celebração dos avanços recentes — progressos que foram quase uma miragem para a Rússia no último semestre — membros do grupo paramilitar Wagner subiram esta quinta-feira até ao topo de um edifício em ruínas, a dois quilómetros do centro da cidade que querem conquistar, e levantaram a bandeira que os representa. "Os rapazes estão a fazer uma festa. Trouxeram isto de Bakhmut esta manhã, praticamente no centro da cidade", comentou o líder do grupo, Yevgeny Prigozhin​, citado pelo seu serviço de imprensa no Telegram.

Esta sexta-feira, a mesma escolha de palavras, numa ambiguidade necessária quando se anuncia uma conquista ainda antes de a ter nas mãos: a cidade está “praticamente cercada”.

Bakhmut tem valor por várias razões, nenhuma determinante para o desenrolar da guerra. Mas pode ser vital para Yevgeny ​Prigozhin e Vladimir Putin: Prigozhin precisa de dar provas do seu poder militar, principalmente para içar a bandeira do grupo Wagner perante um Exército russo enfraquecido; Putin precisa de anunciar uma nova conquista russa na Ucrânia, e de renovar a esperança de controlo do Donbass.

Por isso, os ataques às rotas que atravessam a cidade não têm cessado, numa tentativa de travar as movimentações ucranianas, já que a rendição não parece opção para Kiev, e que a estratégia russa tem falhado em derrubar os batalhões adversários.

Ainda esta sexta-feira foram divulgados vídeos de uma explosão numa ponte muito próxima do centro da cidade, mas não terá sido uma manobra russa. Terá sido, ainda que a informação não esteja confirmada de forma independente, provocada pelos ucranianos, o que gerou (novos) rumores sobre a preparação de uma retirada, alegações que Kiev tem negado sempre.

Desta vez, não foi diferente. “A ponte que está a ser mostrada como prova de que estamos a recuar já explodiu há muito. Os que estão em Bakhmut sabem disso”, justificou a 46.ª brigada do Exército ucraniano, que combate nesta cidade em ruínas. “Não alimentem o pânico. E sim, pode atravessar-se ali o rio sem uma ponte.”

Ainda não há sinal de retirada, mas era essa a vontade de Prigozhin, que esta manhã apelou a Volodymyr Zelensky para que ordenasse a saída das suas tropas em Bakhmut.

“Bakhmut está praticante cercada por unidades do grupo militar privado Wagner. Resta apenas uma estrada (aberta aos ucranianos). As tenazes estão a apertar”, avisou, num vídeo gravado em Paraskoviivka (como indica a geolocalização), sete quilómetros a norte da "cidade mais desejada da Ucrânia", localidade que os mercenários anunciaram ter ocupado a 17 de Fevereiro.

“Os ucranianos estão a lutar, mas as suas vidas na zona de Bakhmut serão curtas — um dia ou dois. Dê-lhes uma oportunidade para deixar a cidade. A cidade está de facto cercada”, insistiu o "chef de Putin", dirigindo-se ao Presidente ucraniano.

Em vez de ordens de retirada, soldados na linha da frente garantem que as tropas estão a ser reforçadas; mesmo perante os combatentes "mais experientes" de Moscovo, como descreveu o comandante do Exército ucraniano, Oleksandr Syrskyi, que visitou esta sexta-feira os seus soldados em Bakhmut.

“Eles não contam as suas perdas nas tentativas de tomar a cidade. A tarefa das nossas forças em Bakhmut é infligir tantas perdas quanto possível ao inimigo", admitiu Volodymyr Nazarenko, comandante adjunto da Guarda Nacional da Ucrânia.​ "Cada metro de terreno ucraniano custará centenas de vidas ao inimigo."

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