Como vai a comunicação entre a família e a escola?

O trabalho que tem de ser feito em matéria de comunicação é grande e urgente.

“Hoje vou à escola fazer uma reclamação: ontem à tarde enviei um e-mail e a professora não me respondeu.” Esta e outras situações semelhantes estão a ser o pão nosso de cada dia nas escolas. A facilidade com que o discurso se torna crispado e se tomam atitudes intempestivas e pouco pensadas é muito grande.

A instabilidade organizacional e financeira criada na maioria dos setores da sociedade tem sido transportada para as relações interpessoais e para o discurso e linguagem que utilizamos uns com os outros. A ânsia de se fazer ouvir e de fazer prevalecer a sua ideia, a sua mensagem é visível até de olhos fechados.

Podemos pôr as culpas na pandemia, nos isolamentos sucessivos, no distanciamento criado e nas comunicações sucessivas por online, que não desapareceram, mas estão para durar, e as que não duram, perguntamos se há essa possibilidade, para evitar a deslocação e podermos participar.

O trabalho que tem de ser feito em matéria de comunicação é grande e urgente. Problemas de comunicação sempre existiram nas escolas tal como em todas as outras organizações e sempre soubemos resolvê-los, ou pelo menos acalmar os ânimos. A questão neste momento passa por recuperar hábitos antigos e trazer de volta estratégias para lidar com comportamentos mais desabridos e crispados. A nossa comunicação revela o nosso comportamento. Estratégias de desenvolvimento da nossa escuta ativa e comunicação não violenta. São cada vez mais necessárias.

A outra situação óbvia e que está com tendência para se manter neste período de pós-pandemia é a não-existência de horários. Nos tempos de isolamento e com o trabalho e a vida familiar, escola e casa sem fronteiras, enviar um e-mail fora de horas e exigir a resposta logo a seguir tornou-se um hábito. Todos sabemos que o envio dos e-mails pode ser programado. Já lá vai o tempo em que enviar um e-mail às tantas da noite mostrava a nossa dedicação ao trabalho.

Houve neste campo um caminho feito e o respeito pelo tempo de descanso de todos era tido em consideração. Com a inevitável mistura de horários de trabalho, de tempo familiar e de lazer, no tempo da pandemia, o tudo e todos ficou confundido, parecendo existir uma autorização tácita de contactar a escola a qualquer hora do dia e da noite. E contactar a escola, quer dizer, contactar os professores, os diretores e coordenadores.

É necessário recuperar, recordando, reativando e implementando de novo, velhas estratégias e hábitos pré-pandemia. A expectativa de resposta a um e-mail deve ser proporcional ao assunto veiculado. Algumas escolas até tinham no rodapé dos e-mails, que depois das 18h e antes das 8h30, os e-mails não seriam entregues aos destinatários. A implementação desta medida fazia parte das medidas de saúde e bem-estar dos professores e dos outros colaboradores da escola.

Isto para dizer que já vivemos tudo isto e sabíamos como resolver. O que há de novo? Talvez a surpresa de comportamentos disruptivos e crispados em pais que pareciam saber dizer o que queriam quando não concordavam com alguma coisa ou quando tinham uma opinião a dar e que, de repente, de um dia para o outro e parecendo estar tudo bem, fazem um pé-de-vento e reclamam por alguma situação impossível de concretizar.

Ou seja, reclamar, parecendo que estamos a expiar todos os nossos fantasmas e consumições e não por uma situação definida e concreta. Na maioria das vezes, estas situações têm outras por detrás, que nada tem a ver com o que parece ser o objeto em causa.

Mais cedo ou mais tarde, na conversa de esclarecimento e talvez de negociação, acabam por desabafar as verdadeiras causas de tanta zanga: situações profissionais, do pouco apoio que têm em casa, da escassez do ordenado, que chega ao fim antes do fim do mês, da perda de um familiar que era o esteio psicológico da família, do stress e da ansiedade por não conseguirem alcançar os objetivos para os quais traçaram estratégias e alocaram competências, seja lá em que área da sua vida que este desabar esteja a acontecer.

É necessário reactivar as competências comunicacionais adquiridas anteriormente, desenvolver novas formas de comunicação eficaz e promotoras de consenso, de paz, ou seja, de criar empatia e confiança.

É essencial a recuperação de bons hábitos de educação tão simples como “não se telefona para casa de ninguém a partir da hora do jantar” e cada resposta deve ser adequada à pergunta objetivamente e duvidando do invólucro do estilo de comunicação em que vem embrulhado, até porque na maioria das vezes não tem concretamente nada a ver com o assunto.

A saúde mental tem sido muito falada neste momento de pós-pandemia, de inflação desenfreada, do aumento do custo de vida e de instabilidade profissional e de manter um dos bens essenciais das famílias que é o direito à habitação. Estará a saúde mental a ser efectivamente considerada com campanhas de sensibilização e consciencialização e oferta de medidas realmente eficazes? Detectamos os sinais? Proporcionamos autoreflexão? Estamos realmente a cuidar uns dos outros?


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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