Supermodelo Adriana Lima como embaixadora do Mundial feminino? “Desconcertante”

A ex-membro do Conselho da FIFA Moya Dod acusa a escolha de disseminar uma ideia errada. É que, no futebol, uma mulher “é admirada pelo que pode fazer e não pela sua aparência”.

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Adriana Lima Lima foi nomeada para um papel em que terá de “desenvolver, promover e participar em várias iniciativas globais” Reuters/SARAH MEYSSONNIER/arquivo

A nomeação da supermodelo Adriana Lima pela FIFA como embaixadora global do Mundial de futebol feminino, que se realiza entre 20 de Julho e 20 de Agosto, na Austrália e na Nova Zelândia, foi considerada “desconcertante” pela ex-internacional australiana Moya Dodd.

Adriana Lima foi nomeada para um papel em que terá de “desenvolver, promover e participar em várias iniciativas globais”, vestindo a pele da primeira embaixadora dos adeptos da FIFA, afirmou o órgão numa declaração esta segunda-feira. Mas, contesta Dodd, “a imagem pública da modelo não parece servir uma organização que diz querer empoderar raparigas e mulheres”.

“Perguntei se a embaixadora da FIFA irá transmitir mensagens sobre imagem corporal, bem-estar e alimentação saudável", escreve a antiga atleta, que foi uma das primeiras mulheres a integrar o Conselho da Federação Internacional de Futebol. E questiona: “O que representará esta embaixadora para a grande e crescente população de mulheres futebolistas e adeptos que amam o jogo porque nos mostra como pode ser o empoderamento e a igualdade?”.

Nas declarações, publicadas nas redes sociais, Dodd recorda o facto de Adriana Lima ter avaliado o aborto como “um crime”, numa entrevista de 2006 à revista GQ.

Não havendo qualquer reacção oficial por parte da FIFA, o agente da modelo, Laurent Boye, veio a público sublinhar que as ideias de há 17 anos não são as mesmas de hoje. Além disso, Boye aproveitou a declaração para justificar a escolha da sua protegida para o papel de embaixadora: “Podemos dizer com orgulho que a senhora Lima tem vindo a promover um estilo de vida saudável há vários anos e, como muitas pessoas, a sua posição sobre muitas questões LGBTQIA+ e mulheres evoluiu, e ela é considerada uma aliada.”

O currículo da modelo, que foi um dos anjos (entretanto, caídos) da Victoria’s Secret, durante 19 anos​, porém, não impressiona Dodd, uma activista pelos direitos das mulheres no futebol, que vestiu as cores da Selecção australiana 24 vezes, entre 1986 e 1995, tendo participado no torneio feminino de 1988 que viria abrir as portas para a realização do Mundial três anos depois.

“Quando uma rapariga joga futebol, o mundo vê-a de forma diferente”, avalia Dodd. Isto porque, explica, “em vez de ser elogiada pela sua bela aparência ou pelo seu lindo vestido, é valorizada pelas suas jogadas que salvam o jogo e pela sua brilhante marcação de golos”. Ou seja: “É admirada pelo que pode fazer, e não pela sua aparência, colocando-a em pé de igualdade com os seus irmãos de uma forma que pode alterar toda a trajectória das ambições da sua vida.”

Uma ideia que, defende Dodd, deveria ser disseminada em ano de Mundial, mas que acaba por ser minada ao colocar uma supermodelo como embaixadora do campeonato. “Onde é que uma supermodelo se encaixa nisto é verdadeiramente desconcertante”, desabafou.

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