Oposição da Nigéria recusa vitória do candidato do partido no poder e exige novas eleições

Observadores internacionais admitem “falta de transparência”, enquanto o segundo e o terceiro candidatos mais votados falam de “disparidades monumentais” entre os votos reais e a contagem oficial.

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Bola Ahmed Tinubu não venceu no seu estado de Lagos, onde foi governador JAMES OATWAY/Reuters

Já se antecipava que fossem das mais disputadas desde o regresso à democracia, em 1999, mas nas redes sociais há quem se queixe das “mais longas” eleições de sempre na Nigéria. Ao início da noite, os resultados finais das presidenciais de sábado continuavam por anunciar, depois de várias interrupções e falhas nos servidores da Comissão Eleitoral Nacional Independente (INEC). Os dados já conhecidos chegam para garantir a vitória ao candidato do partido no poder, Bola Ahmed Tinubu, mas a oposição, unida, denunciou resultados “manipulados” e exigiu novas eleições com um novo presidente da INEC.

Eram 19h30 de terça-feira na Nigéria (uma hora mais cedo em Portugal continental) quando o presidente da INEC, Mahmood Yakubu, “anunciou uma pausa de duas horas, depois de responsáveis da contagem em 14 estados e da capital federal terem apresentado os seus resultados no Centro Nacional de Contagem, em Abuja”, lia-se no Twitter da INEC, por entre imagens de alegadas fraudes, divulgadas na mesma rede, de pessoas a marcarem com a sua impressão digital uma série de boletins a fotografias de folhas Excel com dados mal somados, incluindo algumas manipulações, com recurso a imagens de outras eleições, esclareceu a BBC.

Numa conferência de imprensa conjunta, representantes dos três principais partidos da oposição anunciaram o abandono do processo de apuramento de resultados, afirmando ter perdido a confiança em Yakubu. “Pedimos à comunidade internacional que tome nota de que os resultados declarados no Centro Nacional de Contagem foram em grande medida adulterados e manipulados”, disseram os membros do Partido Democrático Popular (PDP), do candidato Atiku Abubakar; do Partido Trabalhista, do estreante Peter Obi, apoiado pela juventude nigeriana; e do Congresso Democrático Africano.

“A eleição não foi livre e está longe de ser justa ou transparente”, disse o presidente dos trabalhistas, Julius Abure, na conferência. Denunciando o que dizem ser as “disparidades monumentais” entre os votos reais e os anunciados, os opositores acusaram a INEC de não cumprir a promessa de divulgar os resultados em tempo real, o que deveria ter trazido transparência a um processo descrito como opaco, e considerando que a legitimidade da comissão está “irremediavelmente comprometida”.

De acordo com a contagem da agência Reuters, a partir dos resultados oficiais provisórios em todos os estados e na capital federal, Abuja, Tinubu, empresário e ex-governador do estado de Lagos, do Congresso Progressista (APC), no poder, liderava com 35% dos votos, ou 8,2 milhões de boletins válidos, seguido do ex-vice-presidente Abubakar, com 30% (6,9 milhões de votos) e de Obi, que somava 26%, ou 6,1 milhões de votos. Os últimos dados da INEC atribuíam 39% a Tinubu, 31% a Abubakar e 20% a Obi, com base em três quartos dos estados.

Os observadores da União Europeia, citados pela BBC e pela CNN, admitem que a falta de planeamento e de comunicação por parte da INEC puseram em causa a confiança no processo, considerando que “faltou transparência” a umas eleições (legislativas, para além de presidenciais) que ficaram aquém das expectativas.

Os partidos de Tinubu (e do Presidente cessante, Muhammadu Buhari) e de Atiku dominam a política no país desde o fim da ditadura militar. A candidatura de Obi, muito impulsionada pelos jovens, que representam um terço dos eleitores, foi a novidade das presidenciais e um abalo ao sistema de dois partidos. A anunciada e surpreendente vitória de Obi em Lagos, escreve o jornal Financial Times, “sublinha o seu apelo entre a classe média jovem e educada que vive nas áreas urbanas e nos estados do Sul”.

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