Metrobus poderia “ser um pretexto” para mudar a face da Pasteleira, diz CDU

Sistema de autocarros a hidrogénio vai ligar Casa da Música à Praça do Império, deixando de fora uma “zona mais carente” e que teria “elevada procura”, lamentam comunistas.

Foto
Canal de metrobus está a ser instalado na avenida da Boavista. Obras deverão estra concluídas em 2024. Paulo Pimenta

As obras para instalar um sistema de metrobus no Porto arrancaram este mês, numa linha que parte da Casa da Música e tem dois ramos: um até à Praça do Império, na Foz, outro até à Anémona, já em Matosinhos. No entanto, a CDU considera que este investimento de 66 milhões de euros, que conta com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência, “defrauda os interesses da população”.

A vereadora da Câmara Municipal do Porto (CMP), Ilda Figueiredo, recordou que havia estudos que mostravam que outra ligação, entre as praças da Galiza e do Império, através da rua Diogo Botelho, teria “elevada procura”. Esse traçado permitiria servir o pólo 3 da Universidade do Porto, a Universidade Católica, uma importante zona comercial e “o mais denso território de bairros municipais da cidade”, apontaram os comunistas, nesta sexta-feira, numa conferência de imprensa em que questionaram vários dos investimentos recentes em mobilidade na cidade.

A instalação do metrobus nesse canal, registou a vereadora sem pelouros, não ajudaria apenas a fazer a ligação das pessoas que vivem nesses bairros ao resto da cidade, como “podia ser um pretexto” para ajudar a resolver os problemas associados ao tráfico de droga na Pasteleira, acrescenta o deputado na Assembleia Municipal pela CDU, Rui Sá. “Deixaram de fora a zona mais carente”, lamenta Ilda Figueiredo.

O metrobus seria apenas parte de uma solução que, para a coligação, inclui a instalação de mais equipamentos municipais. Colocar trânsito a atravessar o bairro criaria movimento e também dificultaria o tráfico, considera Rui Sá. O próprio desenho daquela zona, com becos sem saída, potencia o problema, refere a vereadora, que defende a abertura de uma via que altere essa característica e permita fazer o atravessamento.

Assim, escreve a CDU, num texto distribuído aos jornalistas, a linha de metrobus fica “longe de corresponder às necessidades da cidade e da sua população”, mais parecendo “investimentos cujo objectivo principal é executar o PRR para cumprir compromissos assumidos com Bruxelas”.

Aproveitar o Ramal da Alfândega

A CDU vai insistir no aproveitamento do Ramal da Alfândega para transporte público. A Câmara Municipal do Porto chegou a lançar a discussão pública, foi criado um site para apresentar as soluções para a via que está por aproveitar há mais de 30 anos, mas o processo não avançou.

Da discussão muito impulsionada pelo Grupo de Acção para a Reabilitação do Ramal da Alfândega (GARRA), saíram duas hipóteses com mais peso: transformar a via num canal para circulação de transporte colectivo eléctrico ou numa ciclovia.

Na próxima Assembleia Municipal (que deverá ser no dia 27 de Fevereiro), avança Rui Sá, a CDU, que defende a instalação de autocarros eléctricos naquele circuito, vai propor que se retome a discussão sobre o Ramal da Alfândega, com a marcação de uma reunião extraordinária para o efeito.

Outra estrutura no miolo da cidade que continua sem aproveitamento é a ponte Maria Pia, desactivada em 1991 e na esfera da Infra-Estruturas de Portugal. A CDU sustenta que antiga ponte ferroviária poderia ser convertida numa ligação entre as margens do Douro para modos suaves, numa intervenção que não teria um custo muito elevado, diz Rui Sá.

As críticas dos comunistas estendem-se ainda ao desenho da Linha Rosa do Metro do Porto (actualmente em construção) e ao impacto que terá a nova travessia sobre o rio Douro, para servir a Linha Rubi. A outra ponte em cima da mesa – rodoviária, entre Campanhã e Oliveira do Douro – sobre a qual ainda paira um espectro de indefinição, é outros dos pontos referidos.

A CDU questiona ainda o futuro da travessia fluvial entre o Ouro (Porto) e Gaia (Afurada), suspensa desde 2020. No que toca à mobilidade, entende Ilda Figueiredo, o Porto tem sido palco de “decisões que se atropelam umas às outras”, faltando “uma intervenção coerente e articulada”.

Sugerir correcção
Comentar