Vamos partilhar dicas e truques que funcionam com os filhos

Não vale a pena falarmos apenas de como não se deve gritar com os filhos, é preciso pensar em alternativas.

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"Não esteja sempre a perguntar pelas notas e pelos testes" @designer.sandraf

Querida Mãe,

Devíamos parar de competir uns com os outros, de comparar métodos de parentalidade, e passar mais tempo a partilhar dicas e truques que, por milagre, funcionam com os nossos filhos. É verdade que podem não funcionar com mais ninguém mas tem, pelo menos, a vantagem de dar a perceber que 1. não estamos sozinhos nisto; e 2. a ter ideias originais.

Mãe, é que não vale a pena falarmos apenas de como não se deve gritar com os filhos, é preciso pensar em alternativas.

Aqui vão três das minhas dicas, que resultam de 12 anos de experiência, mas como não tenho filhos com mais de 12 anos, a mãe podia fazer-me o favor de acrescentar já outras que funcionam dai para a frente.

#1 Arma secreta para pôr o mais novo no banho sem sequer ter de dar a ordem
Encher o banho, com espuma, e acrescentar uns brinquedos. Chamar a criança, mas quando ela responder, limitarmo-nos a pedir que venha ter connosco à casa de banho. Sem especificar o assunto. Quando chegar, conversar descontraidamente e deixar cair que se calhar vamos para o banho. 95% das vezes ainda antes de ter falado em banho, já se despiram e estão lá dentro. O banho para uma criança pequena pode parecer uma coisa muito abstracta, mas ali, mesmo à frente dos olhos, torna-se bem apetecível!

#2 Como parar com os lanches e lanchinhos antes do jantar
Tinha uma ideia cultural muito enraizada de que o jantar tinha de ser... à hora de jantar, mas desde que fiz uma amiga inglesa que janta com os filhos às 17 horas, percebi que é uma convenção como outra qualquer. Uma convenção que se perpetua com os horários de trabalho tão pesados dos pais. Mas, em sendo possível, encontrei todas as vantagens em antecipá-lo. Agora, sempre que os meus filhos começam a ir procurar um segundo ou terceiro lanche depois das 17h, dou-lhes de jantar! Assim não só comem menos bolachas e bolachinhas, como fica toda a gente mais relaxada porque o jantar já está despachado e é muito mais fácil metê-los na cama a horas decentes.

#3 Como sair de casa rapidamente
Esta é uma dica muitíssimo pessoal que só pode ser usada por um determinado tipo de pessoas: basicamente é sair de casa de manhã sem pensar em roupas e casacos, confiando que como o meu carro está tão catastroficamente cheio de tralha vou certamente encontrar lá tudo o que preciso — incluindo sapatos extras do mais novo, em quem decidi pegar ao colo e levar para o carro sem reparar que estava descalço!


Querida Ana,

Posso começar por te dizer que o teu conselho sobre o carro é, mesmo, espera-se, pessoal e intransmissível. É um armário ambulante, embora reconheça que pode salvar-te em situações extremas, duvido que haja muita gente a conseguir conviver com esse nível de caos. Mas, como argumentas sempre em tua defesa, quando se vive com uma cara-metade (abençoadamente) arrumada, é preciso encontrar um espaço pessoal de desorganização. Adiante.

Agora ideias para facilitar a vida para quem tem filhos adolescentes. A mais radical, mas tenho a certeza de que seria a melhor para todos, é os pais ganharem a lotaria e mudarem-se para um apartamento num prédio ao lado. Isso sim, era vê-los crescer em responsabilidade, com muito menos dores de cabeça para todos.

Utopia à parte, a minha sugestão é que leiam e releiam os diários que escreveram com aquela idade, e se não escreveram nada, perguntem aos vossos pais que vos ajudem a recordar. Fazemos guerras por assuntos que, de facto, não valem a pena.

#1 Não entre no quarto deles
Por muito que grite e ameace, vai acabar por não resistir a arrumá-lo, o que além de lhe fazer mal às costas, vai passar-lhes a mensagem de que se o desarrumarem mesmo a sério, a mãe não resistirá a fazer o trabalho por eles. Como mãe de filhos adultos posso assegurar que os exemplos contam e quando têm casa própria tornam-se surpreendentemente organizados.

#2 Não estude com eles
Dá asneira, de certeza — o clima de tensão torna-se insuportável, e a minha interpretação psicanalítica é que nós, pais, suportamos mal a incompetência dos nossos filhos, que se reflecte no nosso narcisismo; e eles, filhos, não aguentam falhar aos olhos dos pais. Por isso, se for mesmo preciso, encontre um sobrinho, um vizinho universitário, alguém próximo que o ajude nesta tarefa.

# 3 Não esteja sempre a perguntar pelas notas e pelos testes
Numa sondagem a adolescentes que, há uns anos, encomendei para a revista Adolescentes, a maior queixa contra os pais era que a primeira coisa que lhes perguntavam quando os viam ao fim do dia era “Que nota tiveste?” ou “Amanhã tens algum teste?”. Os pais andam obcecados com a escola e as notas e muitos filhos ficam com a sensação (verdadeira?) de que não são eles, como pessoas, que contam, mas apenas os seus resultados. Depois, os pais não se podem queixar que entendam a escola, e a aprendizagem, como um lugar onde estão, para onde vão, com o principal objectivo de realizar os sonhos dos adultos e não os seus. O que a médio prazo, distorce tudo.


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.

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