IP vai mesmo demolir apeadeiro de Monte de Lobos em Mortágua

Empresa não se mostrou sensível aos argumentos de um grupo de cidadãos que considera a demolição um “atentado ao património histórico ferroviário”.

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Apeadeiro de Monte de Lobos

Não é um edifício monumental nem uma obra de arte. Mas é um edifício histórico, da primeira metade do século XX, com uma traça arquitectónica tradicional do Estado Novo, com materiais nobres, que incluem granito e azulejos. Trata-se do apeadeiro de Monte de Lobos e está na lista dos edifícios que a Infra-Estruturas de Portugal (IP) quer demolir no âmbito das obras de modernização da Linha da Beira Alta e que incluem todos os apeadeiros do concelho de Mortágua.

Um grupo de cidadãos lançou uma petição pública para salvar o apeadeiro, alegando que se trata de um “atentado ao património histórico ferroviário” e que não faz sentido substituir um edifício “que já hoje cumpre perfeitamente as funções que dele são exigidas” por um “abrigo simples tipo paragem de autocarro”.

A petição, que reuniu 207 assinaturas, foi enviada para a IP e para o Ministério das Infra-Estruturas, mas nenhuma destas entidades respondeu. Já à Câmara de Mortágua, que também questionou a IP sobre o assunto, a gestora de infra-estruturas respondeu que mantém a intenção de demolir o edifício do apeadeiro de Monte de Lobos, dado que, “após análise técnica realizada pelos serviços da IP, confirma-se que o apeadeiro em causa colide com o layout da infra-estrutura em obra e não apresenta condições para ser aproveitado, pelo que a sua demolição é indeclinável”.

Pedro Gomes, um dos promotores da petição, diz que a IP não explica em que medida a manutenção do edifício colide com o projecto em curso, nem que alternativas a empresa estudou para evitar a sua demolição, nem o motivo pelo qual as considerou inviáveis.

Tudo parece resumir-se à necessidade de altear a plataforma para que esta fique ao nível das portas das carruagens, facilitando a entrada e a saída dos passageiros. Mas Pedro Gomes diz que esse alteamento “não parece provocar um desnível tão grande que não possa ser vencido através de um degrau ou de uma rampa, por exemplo”. E dentro do princípio de que não basta contestar, deve-se também propor soluções, o abaixo-assinado que ajudou a lançar apresenta várias alternativas e exemplos de estações e apeadeiros que foram alteados e preservados ao mesmo tempo. É o caso de Donas e Fundão (Beira Baixa), Canelas e Aveiro (Linha do Norte) e Caminha (Linha do Minho), cujos edifícios “foram preservados apesar de total ou parcialmente desintegrados das respectivas plataformas de embarque, pelo que não vemos motivos para demolir o apeadeiro de Monte de Lobos”.

Pedro Gomes recorda que o apeadeiro foi renovado pela IP em 2004. “Pavimentaram e prolongaram a plataforma e repararam o edifício, incluindo o telhado, pintaram-no e valorizaram-no. Agora querem demoli-lo”, disse.

A Junta de Freguesia da Pala, no concelho de Mortágua, também já manifestou o seu apoio ao abaixo-assinado. Em contacto com os trabalhadores, um dos elementos desta junta soube que haveria a intenção da IP de salvar os azulejos para os colocar no futuro abrigo. Mas Pedro Gomes diz que nada substitui aquele que é o apeadeiro mais icónico daquele troço da Linha da Beira Alta. “Seja como for, ainda que o venham a demolir, fica registado para a posteridade que o fizeram contra a vontade das populações”, alerta, lamentando a falta de sensibilidade da IP.

O PÚBLICO questionou várias vezes a IP sobre a intenção de demolir este apeadeiro, mas nunca obteve resposta.

A empresa nem sempre tem dado prioridade à preservação do património ferroviário nos seus projectos de modernização das linhas. Em Maio do ano passado demoliu o antigo bairro ferroviário da estação de Belmonte, sem sequer ter ouvido o município. Na Linha do Norte viu-se confrontada com a contestação das populações à construção de passagens superiores inestéticas na Granja e na Aguda

E no Alentejo projectou demolir os edifícios oitocentistas das estações de Alcáçovas e Alvito, mas terá recuado na decisão depois de as autarquias da região se terem insurgido contra essa intenção.

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