Grupo de cidadãos lança petição contra demolição de antigo apeadeiro em Mortágua

Peticionários alegam “atentado ao património histórico ferroviário”. Infra-Estruturas de Portugal diz que demolição se deve à necessidade “de alteamento da plataforma de passageiros”.

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Infra-Estruturas de Portugal diz que demolição se fica a dever à necessidade “de alteamento da plataforma de passageiros”

Um grupo de cidadãos lançou uma petição pública contra a demolição do edifício-abrigo do apeadeiro de Monte de Lobos, na freguesia da Pala, concelho de Mortágua, no âmbito das obras de modernização da Linha da Beira Alta (LBA). Consideram mesmo o desaparecimento deste edifício, no lanço Pampilhosa-Santa Comba Dão, “um atentado ao património histórico ferroviário do país”.

Os abaixo-assinados dizem que nada os move contra as obras de modernização desta linha, cujo tráfego está suspenso desde Abril deste ano. Consideram mesmo que estas são “inquestionáveis”, esperando, “a partir de inícios de 2023, poder voltar a usufruir dos benefícios que o transporte ferroviário tem trazido a esta região ao longo dos últimos 140 anos”.

Manifestam-se é totalmente contra a demolição do edifício-abrigo do apeadeiro de Monte de Lobos que, dizem, a Infra-Estruturas de Portugal (IP) quer transformar num “abrigo simples, tipo paragem de autocarro”.

A IP justifica a demolição com a perda de pé-direito dos arcos devido à necessidade de aumentar a altura da plataforma para 76 cm (dos actuais 68,5 cm, i.e. 7,5 cm de aumento). Os signatários dizem não contestar nem comentar a necessidade de aumentar a altura da plataforma. No entanto, apelam à IP para que mostre “como um alteamento de 7,5 cm compromete o pé-direito útil dos arcos a ponto de inviabilizar a manutenção do edifício para quaisquer fins”.

“Mesmo que o actual edifício não possa ser integrado na futura plataforma alteada, os actuais cem metros de extensão da plataforma de embarque são certamente suficientes para que a IP — caso considere que deve construir um novo abrigo — preserve o actual edifício no seu local (mesmo que não integrado na futura plataforma alteada) e que construa o novo abrigo noutra zona da gare”, pedem, dizendo que isso já foi feito em outros locais.

Além de considerarem a demolição como “um atentado ao património histórico ferroviário”, dizem que ela é também “um desrespeito pelas populações (não consultadas em sede de consulta pública), um desperdício de recursos públicos e uma medida desnecessária, mesmo num contexto de alteamento da plataforma”.

Na petição, é ainda lembrado que este edifício data do início do século XX, “tendo uma traça arquitectónica tradicional que inclui materiais nobres, como o granito”. “É possivelmente o edifício de apeadeiro mais antigo — e certamente um dos mais icónicos — do troço da LBA entre Pampilhosa e Mangualde e é sem dúvida um pequeno símbolo patrimonial para as populações de Monte de Lobos e Vale de Remígio”, alegam.

Salientam ainda o facto de não se tratar de “nenhum edifício devoluto, tendo pelo contrário sido submetido a importantes obras de renovação pela Refer por volta de 2004”. Os signatários consideram também “um desperdício de dinheiros públicos a demolição de um edifício renovado há menos de 20 anos, nomeadamente quando o mesmo já hoje cumpre perfeitamente todas as funções de protecção e abrigo dos passageiros que dele são exigidas”.

Lembram que o pequeno Bairro do Apeadeiro de Monte de Lobos “foi já substancialmente descaracterizado quando em 2005 a Refer demoliu a histórica casa da guarda de passagem de nível”, “cuja necessidade (face a alternativas existentes) nunca foi demonstrada”.

“A demolição do edifício do apeadeiro, a concretizar-se, constituiria a destruição completa do pequeno património ferroviário de Monte de Lobos e Vale de Remígio, algo que nos parece ser inteiramente desnecessário para a concretização dos objectivos da actual modernização da Linha da Beira Alta”, referem.

Por fim, os peticionários manifestam mais uma vez a sua “total oposição” à demolição do edifício-abrigo do apeadeiro de Monte de Lobos e solicitam à IP que, “à semelhança do que sucedeu em anteriores modernizações da Linha da Beira Alta, mantenha este edifício no local existente (integrado ou não na futura plataforma alteada), não só devido ao seu valor histórico/patrimonial”, como “ao facto de que este já hoje cumpre perfeitamente as funções que dele são exigidas”.

A petição foi enviada para a IP, Câmara Municipal de Mortágua e Junta de Freguesia de Pala e até esta segunda-feira tinha recolhido 207 assinaturas.

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