O fim da sua relação deixou-o ressentido? Antes de mais, pense nos seus filhos

Os problemas do casal são do casal e, para os filhos, os pais podem ser bons, mesmo não o sendo para o outro progenitor. O filho deve ter a oportunidade de decidir, quando tiver maturidade para tal.

Foto
Os pais e mães devem ajudar os filhos a manter as rotinas, relacações interpessoais e atividades que gostam Nelson Garrido

Sim, este é mais um artigo sobre a separação de Shakira e Piqué, mas não pretendo falar sobre o mundo dos famosos, francamente não me interessa. Pretendo, sim, chamar a atenção para atitudes semelhantes de pessoas comuns, naturalmente num nível menos mediático, que acontecem após a dissolução de uma relação conjugal e que poderão representar também uma deslealdade, mas aos filhos.

Vejamos: Shakira lançou uma nova canção que representa a sua catarse sobre a traição do marido pondo a descoberto a situação, os seus sentimentos e também o que há de pior num acontecimento de ruptura entre os casais: a sede de vingança. Com isto expôs os filhos e pô-los numa situação difícil, onde as crianças nunca deveriam estar, a de julgar o pai e de tomar partido da mãe.

Um dos “primeiros mandamentos” de um ex-casal com filhos deve ser de não dizer mal do outro — sim, mesmo que este tenha sido mau companheiro. Por mais que seja difícil para quem sofreu nas mãos de outrem e que até tenha provas sobre o mau caráter do parceiro, os problemas do casal são do casal e, para os filhos, os seus pais podem ser bons, mesmo não o sendo para o outro progenitor. O filho deve ter a oportunidade de decidir, quando tiver maturidade para tal, sem ser influenciado pelas quezílias entre os adultos.

Entenda-se desde logo que não estou a dizer que se deve fazer de conta que nada aconteceu mantendo uma história de faz de conta. Os filhos têm o direito de saber que os pais não vão mais viver juntos apontando explicações que se coadunem com a sua idade e nível desenvolvimental, mas sem pormenores sórdidos ou que distorcem a imagem do ex-companheiro por mero ressentimento e retaliação.

O divórcio não é apenas um processo legal, mas também emocional e exigente em termos de adaptação social e psicológica para todos os elementos da família. Trata-se de um período de desestabilização emocional e de risco de desenvolvimento de psicopatologia, sobretudo, nos casos mais conflituosos, que deve ser gerido com cautela. As crianças, não devendo ser colocadas numa redoma, devem ser protegidas de discursos e atitudes que não trazem tranquilidade nem estabilidade, sendo que a sua melhor adaptação é, em grande parte, conseguida pela forma com que os pais comunicam um com o outro. Isto passa pelo modo como gerem tudo o que envolve a separação, como seja, a mudança de casa, as questões financeiras, a guarda das crianças, etc.

A exposição que muitas vezes, lamentavelmente, se impõe aos filhos poderá ter uma repercussão negativa e causar desajustamento. É preciso reorganizar-se e deixar o outro fazer o mesmo, recorrendo à sua rede de amigos e ao acompanhamento por um profissional, em caso de necessidade, para a gestão emocional e do conflito. A dimensão experiencial de cada um dos membros é muito importante para o ajustamento; não podemos esquecer que este também é um processo de luto e de desvinculação. Enquanto pais, a finalidade do ex-casal, independentemente das suas razões pessoais sobre o que aconteceu, deve ser a construção de uma coparentalidade cooperante, positiva e ajustada às necessidades desenvolvimentais dos filhos.

A investigação sobre o impacto do divórcio nas crianças é vasta, devemos então utilizar esta informação para satisfazer as suas necessidades. As diretrizes abaixo podem ajudar.

Lembre-se que cada criança deve ser considerada individualmente, de acordo com as suas características pessoais, com o seu próprio ritmo de desenvolvimento e acontecimentos exteriores que afetam as suas vidas.

Centre-se nas suas competências que permitem aumentar a sua capacidade de escolher formas de comunicação e interacção mais positivas com o outro progenitor

Procure a negociação coparental beneficiando os filhos.

Ambos os progenitores devem ter um envolvimento estável e significativo na vida da criança. Planeie o tempo que vai estar com a criança para dedicar-se a ela, não a deixando muito tempo ao cuidado de outras pessoas.

Os pais e mães devem ajudar os filhos a manter as rotinas, relações interpessoais e atividades que gostam.

A comunicação e a cooperação entre os progenitores são importantes. Regras e valores consistentes em ambos os lares transmitem um sentido de segurança para as crianças.

Mantenha a qualidade das relações entre irmãos e outros membros da família alargada que são importantes para ela.

Pai e mãe devem ter vontade de aprender e manter competências cuidadoras como alimentar, vestir, dar banho, ajudar com os trabalhos de casa, responder às necessidades emocionais e sociais dos filhos.

Pode ser importante estabelecer um plano parental que inclui como vão partilhar as responsabilidades parentais, o que terão de fazer para colocar as necessidades das crianças acima das vossas, como proteger as crianças dos conflitos, frustrações e preocupações dos adultos.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários