Mães sentem-se mais preocupadas e julgadas do que os pais, avança novo estudo

A saúde mental é dos temas que mais preocupa pais e mães. As mulheres confessam que se sentem mais julgadas por terceiros, pela forma como exercem a maternidade.

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Apesar das dificuldades, a maioria dos pais defende que ter filhos é gratificante Sérgio Azenha/Arquivo

Com a pandemia em curso e instalada uma crise de saúde mental entre as crianças, um inquérito do Pew Research Center revela que os pais têm muitas preocupações na cabeça — as mães, em particular, estão a carregar grande parte deste fardo mental.

O inquérito de Pew a mais de 3.700 pais nos Estados Unidos, realizado nos últimos meses de 2022 e divulgado esta terça-feira, revelou que os pais estão preocupados com os filhos por diversas razões, mas são os receios relacionados com saúde mental a liderar a lista.

As mães revelam-se especialmente stressadas, com quase metade (46%) a relatar que estão "extremamente" ou "muito" preocupadas com o facto de os seus filhos virem a lutar com ansiedade ou depressão em algum momento da vida. Do outro lado, 32% dos pais disseram o mesmo.

Quando questionadas sobre uma série de potenciais ameaças aos seus filhos —incluindo desafios de saúde mental; bullying; rapto; ataques físicos; problemas com drogas ou álcool; levar um tiro — as mães estavam igualmente mais preocupadas do que os pais.

Em particular, são as mães hispânicas as mais preocupadas quando comparadas com mulheres caucasianas, negras ou asiáticas. Estas confessam estar extremamente ou muito preocupadas que seus filhos possam enfrentar a maior parte destes perigos, avança a sondagem. O inquérito não encontrou um padrão comparável entre os pais de todos os grupos raciais ou étnicos.

No seu conjunto, os resultados do relatório reflectem de forma impressionante a intensidade de o que é a maternidade actualmente. As mães são mais susceptíveis do que os pais de dizer que ter filhos é stressante e cansativo durante todo ou a maior parte do tempo. Disseram, ainda, que fazem mais do que os seus parceiros para gerir as responsabilidades de cuidar dos filhos — a maioria dos pais afirmou, contudo, que a divisão do trabalho é mais ou menos igual.

No que toca ao julgamento de terceiros, são as mães que sentem mais na pele esse opinar sobre a forma como vêem a maternidade, sobretudo por parte de familiares, amigos e outros pais. Por vezes, são os próprios avós a julgar as decisões dos filhos (47%) ou outras mães da comunidade (41% de mulheres, em comparação com 27% de homens).

Os pais, por outro lado, dizem mais vezes sentir-se julgados pela companheira pela forma como exercem a paternidade. Contudo, são também elas a admitir mais vezes que ter um filho é "muito mais difícil" do que esperavam — 30% das mães deram esta resposta, em comparação com 20% dos pais.

Para as mães, a parentalidade é um dos elementos que mais define a sua identidade: 35% das mulheres descreveram ser essa a característica mais importante da sua personalidade, em comparação com 24% dos homens.

Pandemia como pressão adicional

Uma das responsáveis pela investigação, Rachel Minkin, diz notar ligações entre as respostas ao inquérito. "As mães vêem o trabalho da maternidade como muito importante, mas também mais cansativa e stressante", explica — o que talvez não seja surpreendente dado que também são elas a relatar fazer a maior parte dos cuidados infantis.

"As mães dizem que estão mais preocupadas, e depois quando se trata de estilos parentais também são mais propensas a dizer que são superprotectoras. Assim, podemos ver como estas questões se influenciam umas às outras", observa.

O relatório é o primeiro estudo abrangente sobre a parentalidade nos Estados Unidos que a Pew realiza desde 2015. "É importante para nós ter sido capazes de fazer este inquérito agora", celebra a investigadora. Os resultados do inquérito anterior ilustraram os desafios em conciliar o trabalho e a família, tanto as mães, como os pais relataram que tinham dificuldades em equilibrar as responsabilidades profissionais com os papéis parentais. Também já se falava das preocupações sobre a segurança mental e física dos filhos.

As fontes de stress só se intensificaram nos anos seguintes, já que a pandemia colocou uma pressão adicional, em particular, sobre as mães trabalhadoras. Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças também têm vindo a alertar para um declínio precipitado da saúde mental entre adolescentes, sobretudo como sequela dos confinamentos.

A navegar nestas águas atribuladas e, apesar de serem confrontados com uma multiplicidade de desafios, a grande maioria dos pais — cerca de 8 em cada 10 mães e pais — admite ser prazeroso (82%) e gratificante (80%) ter filhos durante todo ou a maior parte do tempo.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Inês Duarte de Freitas

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