Afinal, quem faz mais em casa? Inquérito revela que ainda são as mulheres

No Dia dos Namorados foram reveladas as conclusões do estudo “Paridade dentro de Casa”. A investigadora responsável admite que “as mulheres perpetuam estas situações”.

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Nas tarefas domésticas, é no cuidado da roupa que os homens menos se envolvem CDC/Unsplash

Lá em casa, quem faz o jantar? E quem estende a roupa? 68,6% das mulheres considera que existe uma repartição equilibrada das tarefas em casa. Quando questionadas sobre cada tarefa da vida doméstica, as mulheres admitem que são sobretudo elas a ter essa responsabilidade. O estudo “Paridade dentro de casa”, realizado pela revista Visão em parceria com o Ikea, foi apresentado nesta sexta-feira em Lisboa, num encontro que reuniu várias personalidades para discutir: “Afinal, quem faz mais em casa?”.

A investigadora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas da Universidade de Lisboa (ISCSP), Paula Campos Pinto, confessa que ficou surpreendida quando 68% das mulheres respondeu que existe paridade na divisão das tarefas domésticas. Tais resultados podem explicar-se, diz a investigadora, com “uma falta de consciência” ou “boa vontade de pintar um outro cenário”. As mulheres podem ter dificuldade em “admitir que ainda têm papéis muito tradicionais”

Quando questionadas sobre determinadas tarefas da casa e da gestão familiar, as mulheres admitem que a responsabilidade recai maioritariamente sobre elas. No que concerne, por exemplo, aos filhos, 74,3% das mulheres diz ficar em casa quando os mais pequenos ficam doentes. Só 14,6 % dos homens faz o mesmo. Ao todo foram inquiridos 601 indivíduos.

Crianças: “um atropelamento à paridade”

As mulheres entre os 45 e os 54 anos são as que mais sentem a repartição desequilibrada em casa. Já as jovens entre os 18 e os 24 anos, na sua maioria solteiras e sem filhos, são as mais satisfeitas com o equilíbrio.

O psicólogo Eduardo Sá diz que a chegada dos filhos pode conduzir ao “desequilíbrio” das tarefas lá em casa. “As crianças são um atropelamento à paridade”, admite o especialista em família.

A presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) concorda que com os “filhos começa a desigualdade”. Teresa Fragoso sublinha, no entanto, que “os homens têm sido privados de afecto e de desenvolver as emoções”.

Relativamente à educação e vida escolar dos filhos, são também as mulheres, na sua maioria, as responsáveis pelas actividades escolares e reuniões de pais (57,7%). Os homens reconhecem que elas são mais dedicadas a esta parte da vida da criança.

A investigadora do ISCSP diz que “as mulheres perpetuam estas situações e assumem o papel de supermães”. “Somos todas responsáveis por isto” reconhece Paula Campos Pinto. A jornalista e escritora Isabel Stilwell admite-se como culpada: “Eu é que tenho dificuldade em abrir mão dos filhos.”

O chef Kiko Martins, que também esteve presente no encontro, admitiu que em casa é a mulher Maria a fazer tudo (menos cozinhar) por “acordo mútuo”. O cozinheiro deixa um alerta às famílias para que não tentem dividir tudo equitativamente: “Quando enveredamos por essa lógica começamos a divorciar-nos aos bocadinhos.”

“Não questionamos o papel”

Apesar de o mundo da restauração ser sobretudo masculino, em casa são elas que põem o avental: 62% das mulheres declara ser responsáveis por definir e preparar as refeições familiares; 29,5% responde que ambos o fazem em partes iguais. Os homens justificam esta desigualdade com uma falta de competência (49,9%). Já elas dizem que eles não têm disponibilidade (49,4%).

Eduardo Sá defende que “o mundo sempre foi machista e matriarcal”. “Há mulheres que falam do marido como se fosse o filho mais velho e dão um empurrão para mandar no jogo”, alerta o psicólogo.

É nas idas ao supermercado que a balança mais se equilibra: 48,5% dos homens e 43,9% das mulheres diz que ambos, em parte iguais, vão às compras. Nos pagamentos das contas domésticas também há um equilíbrio. As reparações domésticas e bricolage são, ainda hoje, um território muito masculino: 75,5% dos homens assume essa responsabilidade e 59,5% das mulheres concorda.

É no cuidado da roupa que os homens menos se envolvem: 80,4% das mulheres responde que só elas o fazem. Os homens (62,2%) admitem que elas tratam desta tarefa, sobretudo por uma questão de competência. Quanto ao passar a ferro, o cenário é semelhante (75,3 % das mulheres diz que é responsável pela lavandaria).

A presidente da CIG admite que esta é “uma dinâmica difícil de mudar”. “Muitas vezes não questionamos o papel que assumimos por hábito”, lamenta Teresa Fragoso. A académica defende que é precido “empoderar” tanto o homem como a mulher.

Para corrigir as assimetrias em casa, Paula Campos Pinto sugere que deixemos de criticar “o que ele faz”. O chef Kiko Martins termina com uma declaração que faz a audiência soltar uma gargalhada: “Quem manda em casa é o pai, mas ele só faz o que a mãe quer.”

Texto editado por Bárbara Wong

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