Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro detido ao aterrar em Brasília

Anderson Torres era o responsável máximo pela segurança pública do Distrito Federal no dia da invasão aos edifícios governamentais na Praça dos Três Poderes.

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Anderson Torres foi detido assim que aterrou em Brasília Reuters/ADRIANO MACHADO

O ex-ministro da Justiça do Brasil Anderson Torres foi detido este sábado de manhã pouco depois de ter aterrado no aeroporto de Brasília. A prisão de Torres foi decretada no âmbito das investigações à invasão dos edifícios governamentais por apoiantes de Jair Bolsonaro no último domingo. A principal suspeita é de que o ex-responsável máximo da Segurança Pública na capital federal agiu em conivência com os bolsonaristas radicais que perpetraram os actos violentos.

Torres estava desde a semana passada na Florida, onde também se encontra o ex-Presidente, e embarcou para o Brasil na sexta-feira à noite, tendo chegado a Brasília por volta das 7h30 (mais três horas em Portugal continental).

Na terça-feira, o juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, tinha emitido um mandado de detenção em nome de Torres, que desde o início do ano tinha reassumido o posto de secretário da Segurança Pública do Distrito Federal. Era ele, por isso, o responsável máximo pela segurança da capital federal quando milhares de apoiantes de Bolsonaro invadiram os edifícios onde estão sediados o STF, o Congresso e o Palácio do Planalto, cometendo inúmeros actos de vandalismo.

O comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, o coronel Fábio Augusto Vieira, também já tinha sido detido. A Justiça brasileira pretende agora apurar se Torres teria dado instruções para que a Polícia Militar tivesse uma atitude conivente com os militantes bolsonaristas que invadiram os edifícios governamentais, incluindo com coordenação com sectores das Forças Armadas.

Nas imagens divulgadas no dia da invasão, foi possível verificar a facilidade com que milhares de pessoas passaram pelas poucas barreiras de protecção, entraram nos edifícios e lá permaneceram várias horas até que fosse posto em campo um contingente capaz de as retirar. O próprio Presidente, Lula da Silva, disse desconfiar que a entrada dos bolsonaristas no Palácio do Planalto foi "facilitada".

A tese de que, no mínimo, houve uma desvalorização da ameaça representada pelos apoiantes mais radicais do ex-Presidente é reforçada pelos vários alertas deixados pelos serviços de informação interna, que avisavam para a chegada de mais de cem autocarros com militantes para se juntarem às centenas de pessoas que já estavam acampadas em frente a um quartel do Exército há mais de dois meses.

No mandado de detenção, Moraes refere que a "omissão" de Torres "ficou amplamente comprovada pela previsibilidade da conduta dos grupos criminosos e pela falta de segurança que possibilitou a invasão dos prédios públicos".

O ex-ministro da Justiça já tinha revelado que iria regressar ao Brasil para se entregar às autoridades e negou as suspeitas de que terá facilitado os actos violentos do último domingo, que descreveu como um "execrável episódio". "Sempre pautei minhas acções pela ética e pela legalidade. Acredito na Justiça brasileira e na força das instituições", afirmou.

Para além de ter decretado a prisão de Torres, o juiz Alexandre de Moraes também deu ordem para que fossem realizadas buscas na residência do ex-ministro. Foi lá que a Polícia Federal encontrou um esboço de um decreto presidencial para que fosse declarado o estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral, após as eleições presidenciais em que Bolsonaro foi derrotado por Lula da Silva. Em última instância, este regime poderia visar a reversão inconstitucional dos resultados eleitorais.

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