Post-it de ano novo

Não levar a peito e ficar com vontade de chorar quando não tenho nenhuma resposta num grupo de WhatsApp. Não estar em tantos grupos de WhatsApp. Sair da minha zona de desconforto.

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"Ler mais poesia. Treinar tríceps. Começar a pôr creme de dia. Acabar o livro" Ben White/Unsplash

Diminuir o tempo de ecrã. Perder 3% de massa gorda. Ler as notícias do dia. Não me enervar com as notícias do dia. Chegar menos atrasada aos compromissos. Não marcar tantos compromissos. Não deixar mensagens lidas no WhatsApp pensando que depois respondo e depois esqueço-me. Não adiar dar os parabéns que depois esqueço-me. Não querer discutir com pessoas que votaram no Chega. Não fazer da conversão dessas pessoas a minha missão da noite.

Não tentar fazer análises psicanalíticas das pessoas o tempo inteiro. Não corrigir mentalmente o português das pessoas. Não corrigir oralmente o português das pessoas.

Não construir tantos objectivos pela negativa.

Aprender finalmente a cozinhar. Reduzir drasticamente o açúcar. Reduzir consideravelmente os advérbios de modo.

Arranjar uma planta. Manter a planta viva. Ir ver mais filmes à cinemateca. Parar de desejar secretamente que a cinemateca tenha pipocas.

Ter finalmente a coragem de dizer que não gosto de discotecas, nem de rúcula, e não deixar que me impinjam nenhuma das duas.

Pôr protector solar nos ombros. Escrever menos crónicas com factos irrelevantes sobre mim. Levar os sacos para o supermercado. Ler mais poesia. Treinar tríceps. Começar a pôr creme de dia. Acabar o livro. Comprar lâmpadas de luz amarela. Dançar com as minhas filhas. Tentar gostar de gengibre. Endireitar as costas. Ir ao concerto do Chico Buarque. Manter o carro limpo. Ter mais carimbos no passaporte.

Não levar a peito e ficar com vontade de chorar quando não tenho nenhuma resposta num grupo de WhatsApp. Não estar em tantos grupos de WhatsApp. Sair da minha zona de desconforto.

Voltar ao Brasil. Voltar ao dentista. Voltar à psicanálise. Parar de querer a aprovação de desconhecidos. Ler o Em busca do Tempo Perdido. Apagar o LinkedIn. Não tentar adivinhar o ascendente astrológico das pessoas. Pendurar os quadros. Ser menos dependente emocionalmente. Ser menos dependente do GPS.

Estudar mais História. Beber mais água. Fazer o meu próprio IRS. Andar mais de bicicleta. Ensinar as minhas filhas a andar de bicicleta. Arrumar gavetas. Perceber Lacan. Viajar. Amar. Abraçar. Não me queixar. Parar de rimar. Aceitar que talvez nunca vá perceber bem Lacan. Ligar mais aos meus pais. Escrever mais à mão. Reduzir os carboidratos à noite. Reduzir os emojis de chorar a rir. Rir com os meus amigos.

Perder o medo de palhaços, de mecânicos e de ir ao oftalmologista.

Aumentar a imunidade. Fazer voluntariado. Arranjar uma agenda. Ir ao teatro. Comer menos carne. Tomar menos Brufen. Não assumir que tenho de preencher todo e qualquer silêncio em convívios de grupo. Postar menos. Passar menos tempo dentro do carro. Dizer menos “opá” e “tipo”.

Ir tomar os cafés prometidos e não realizados. Desistir de pôr “comer menos chocolate” nos objectivos. Desistir de fazer as sobrancelhas.

Caminhar todos os dias ao pé do mar.

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