Mau tempo causa danos em Chaves e deixa Alijó em alerta

Município de Alijó alertou a população para a subida do caudal do rio Douro. Circulação de comboios na Linha do Douro entre o Marco de Canaveses e a Régua restabelecida.

Foto
Inundações em Chaves Ana Malheiro/FACEBOOK

Comerciantes da zona ribeirinha da cidade de Chaves aguardam a descida do caudal do rio Tâmega para poderem entrar nos edifícios e contabilizar os estragos causados pela cheia desta segunda-feira.

"Não posso fazer ponto de situação porque ainda não tenho qualquer conhecimento dos estragos, porque o nível da água continua a subir e eu estou impossibilitada de entrar", afirmou à agência Lusa Catarina Nascimento, proprietária do 83 Gastrobar, localizado na zona ribeirinha, junto à ponte romana de Chaves, no Norte do distrito de Vila Real.

A responsável disse que só depois do caudal do Tâmega baixar é que será possível contabilizar os estragos. O caudal do rio subiu cerca de três metros.

"Retirei o que podia, subi o que podia, mas efectivamente o equipamento está lá dentro. Chamei a Protecção Civil ontem (domingo) para me ajudar. Agora, contra a força da água ninguém pode fazer nada e é aguardar que baixe para contabilizar os estragos", salientou.

Com o bar aberto há cerca de um ano, Catarina Nascimento sofreu agora a primeira cheia. "Estou na zona ribeirinha, obviamente tenho noção que efectivamente acontece isto de quatro em quatro anos, ou de cinco em cinco anos. Agora, não pensava que fosse já este ano, é um negócio muito humilde, de muito esforço e muito sacrifício e de um investimento familiar no qual pus toda a minha força", referiu.

A comerciante disse que não sabe quando lhe vai ser possível reabrir o espaço. "Vamos ver onde a água pára e qual será o custo (...) Se subir mais do que um metro ao nível das mesas, o estrago é total. São equipamentos muito caros e vamos ver no que vai dar", apontou.

Nível do rio subiu entre 3 a 4 cm por hora

Devido ao agravamento das condições meteorológicas verificadas no domingo, a Protecção Civil Municipal alertou os residentes e comerciantes das zonas ribeirinhas da cidade para a adopção de medidas preventivas e salvaguarda de bens. Foram também interditadas algumas vias junto à zona ribeirinha, de forma a impedir o estacionamento de viaturas.

O presidente da Câmara Chaves, Nuno Vaz, disse, num ponto de situação feito ao início da tarde, que se espera uma estabilização do caudal do rio. "De facto, nas últimas horas o nível do rio tem subido entre três a quatro centímetros por hora. Continua a subir mas já existem alguns indícios de que estará a estabilizar", salientou.

No entanto, referiu que, apesar de um desagravamento das condições meteorológicas, o rio continua a receber a água resultante da precipitação intensa dos últimos dias.

Só depois da descida do caudal será possível realizar um levantamento dos estragos causados pela cheia quer ao nível dos estabelecimentos comerciais, como das habitações e dos equipamentos públicos. O relatório será, segundo o autarca, remetido à Agência Portuguesa do Ambiente e ao Ministério do Ambiente, com vista, se for necessário, à implementação de medidas de apoio.

O Tâmega galgou as margens direita e esquerda na madrugada desta segunda-feira e atingiu ainda campos agrícolas.

Nuno Vaz disse que é desejável que, no futuro, existam mais instrumentos de monitorização do rio, com nova tecnologia que permita conhecer a evolução da situação em "cada momento e nos pontos mais relevantes". Agora, explicou, é feita uma "avaliação visual, com medições em determinados pontos do rio".

O autarca afirmou ainda que, a montante de Chaves, não existe qualquer barragem no rio e lembrou que, a jusante, ainda está em construção a barragem do Alto Tâmega. "Não há bela sem senão. Se antes estávamos a falar de uma situação de seca, agora estamos a falar de uma inundação. Isto deve-nos fazer pensar, porque situações de alterações climáticas vão sendo recorrentes, os seus impactos vão ser ainda mais intensos, por isso todos temos que percepcionar que temos que fazer mais pelo ambiente", salientou.

Alijó alerta a população

No Sul do distrito de Vila Real, especificamente no Pinhão (Alijó) e Régua, as atenções estão centradas na subida do caudal do rio Douro, estando a situação a ser monitorizada em permanência.

O município de Alijó já alertou a população para a subida do caudal do rio Douro e possibilidade de alagamento da zona ribeirinha da vila do Pinhão, instando à adopção de medidas preventivas. Segundo uma mensagem divulgada pelo município através das redes sociais, nas próximas horas, deverá verificar-se "uma subida significativa do nível do rio Douro na zona do Pinhão, na sequência da libertação de caudais nas barragens espanholas e na barragem de Foz Tua".

"Alerta-se a população que, tendo em vista a possibilidade de alagamento da zona ribeirinha do Pinhão, deverão adoptar medidas preventivas e as devidas precauções para acautelarem a sua segurança, assim como dos seus bens", referiu a autarquia.

A câmara salientou que a Protecção Civil Municipal está a acompanhar a situação, estando em contacto permanente com as autoridades competentes. Também na cidade do Peso da Régua estão já no terreno os bombeiros, elementos da Protecção Civil, Polícia Marítima e GNR a acompanhar a subida do caudal do rio Douro.

Desde sábado que os acessos aos cais fluviais da Régua e Junqueira e à ecopista localizada junto ao rio estão interditados.

Segundo o comandante dos bombeiros do Peso da Régua, Rui Lopes, o caudal do Douro subiu esta segunda-feira cerca de 3,5 metros em cerca de seis horas, entrando cerca de 40 centímetros no edifício do bar que está instalado no cais da Régua, prevendo-se que o caudal continue a subir nas próximas horas.

A Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) colocou o distrito de Vila Real em alerta vermelho no domingo devido à precipitação intensa. Em igual situação estiveram os distritos do Porto, Viana do Castelo, Braga e Aveiro.

Circulação de comboios na Linha do Douro restabelecida

A circulação de comboios na Linha do Douro esteve interdita, mas foi restabelecida às 12h desta segunda-feira entre o Marco de Canaveses e a Régua, mantendo-se suspensa da Régua até ao Tua, disse fonte da Infra-estruturas de Portugal (IP).

A IP explicou à agência Lusa que, devido ao mau tempo que se fez sentir no domingo, verificou-se a queda de pedras para a linha, provocando, pelas 18h43, o descarrilamento de um bogie (roda) do comboio entre as estações do Pinhão e Peso da Régua.

Segundo a fonte, o comboio de socorro que se deslocou para o local sofreu também um descarrilamento de bogies, devido a pedras caídas na linha, um incidente que ocorreu ao quilómetro 70,610, entre as estações de Juncal (Marco de Canaveses) e Mosteirô (Baião), no troço entre Peso da Régua — Marco de Canaveses.

A circulação de comboios na Linha do Douro, entre o Pinhão e a Régua, já tinha estado suspensa na sexta-feira, devido à queda de pedras para a via.

Sugerir correcção
Comentar