Figura do ano: Mia Mottley, a “representante do povo” na luta climática

A primeira-ministra de Barbados tem emprestado a sua voz à luta contra a crise climática. Defende a reforma no financiamento climático e pede acção. É a figura do ano escolhida pelo “Azul” para 2022.

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Mia Mottley Timothy Sullivan/UNCTAD

Um aquecimento global desenfreado será uma “sentença de morte”. É com esta ideia que Mia Mottley se tem afirmado nas cimeiras do clima para sublinhar o perigo que as alterações climáticas e um aquecimento global médio superior a dois graus Celsius representarão para o mundo — sobretudo para quem vive em países mais vulneráveis, como a ilha insular onde habita.

Mia Amor Mottley nasceu há 57 anos em Barbados, e em 2018 tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra da pequena ilha das Caraíbas. É também uma das principais vozes na luta por um planeta sustentável e critica duramente os dirigentes políticos que não cumprem os seus compromissos climáticos.

Tem reiterado a importância de se aumentar (e muito) o financiamento para combater a crise climática. “Venho de um país insular que tem ambição, mas não tem os meios para fazer a transição energética. Estamos limitados pela política seguida pelos países ricos”, asseverou em Novembro.

Uma das suas sugestões para resolver a lacuna de financiamento climático é a reforma de instituições financeiras internacionais. O objectivo é garantir que os países mais vulneráveis se conseguem adaptar às alterações climáticas, ao mesmo tempo que lidam com a recuperação de desastres naturais — sem que entrem numa dívida eterna.

Esta proposta de reforma, chamada “agenda de Bridgetown”, e a agilidade da primeira-ministra para simplificar o discurso, num campo minado de termos técnicos, são algumas das razões para que a sua voz se projecte da nação de cerca de 300 mil pessoas para o mundo.

Mia Mottley “fez de Barbados pioneiro no movimento ambientalista global”, lê-se no texto com o qual lhe atribuíram o Prémio de Campeã da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUA). Agora, o país está já a planear o abandono dos combustíveis fósseis até ao final desta década.

A primeira-ministra tem-se mostrado ainda perplexa pelos lucros estratosféricos obtidos por algumas empresas e pela sua recusa em aplicar “dez centavos” na adaptação às alterações climáticas. O caminho para a catástrofe climática está a ser liderado por um grupo de pessoas poderosas “sem rosto”, compara. O esforço, diz Mottley, tem de ser maior – e a acção é urgente.

Além da crise climática, a chefe de governo tem um longo percurso ligado ao combate à pobreza, à poluição e à desflorestação. Sente que é uma “representante do povo” e percebeu que a luta climática ajuda a combater outras desigualdades. Foi considerada uma das 100 pessoas mais influentes de 2022 pela revista Time.

Também ajudou que Mia Mottley fosse a impulsionadora do movimento para que a ilha, com 55 anos de independência, se tornasse uma república. Foi em 2021 que afiou as tesouras para cortar de vez as amarras ao colonialismo britânico, instaladas quase 400 anos antes.

“Chegou o momento de deixar para trás o nosso passado colonial”, declarou. A nação é recente, mas o futuro, ditado pelas alterações climáticas, torna-a incerta: “Queremos existir daqui a 100 anos.” E a responsabilidade para que isso aconteça, diz, está nos líderes de hoje.

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