Plano de drenagem em Lisboa resolve cheias? Moedas diz que sim, Costa disse em 2014 que não

O autarca da capital quer avançar com a construção de dois túneis de drenagem para resolver problema. Quando liderava a autarquia lisboeta, António Costa garantiu que “não existe solução”.

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Última semana foi marcada pelo mau tempo em Portugal e de forma particular em Lisboa Daniel Rocha

Dezembro de 2022: Carlos Moedas diz que as cheias de 7 de Dezembro não teriam acontecido se já estivesse concluído o Plano Geral de Drenagem de Lisboa, em particular os dois túneis previstos. Outubro de 2014: confrontado com as cheias que em Setembro desse ano atingiram a capital, António Costa, então presidente da autarquia, garantiu que “o plano de drenagem não faz desaparecer estas situações, a solução não existe”.

Sobre as cheias e inundações que atingiram Lisboa no dia 7 de Dezembro, o actual presidente da câmara da capital defendeu que, com os túneis de drenagem há cerca de 20 anos projectados, "o que aconteceu ontem [7 de Dezembro] não tinha acontecido".

"Esta é uma situação que se vive na cidade há muitos anos. Por isso, esta obra estrutural que temos de fazer (…) vai permitir resolver esta situação", disse Carlos Moedas em declarações à SIC Notícias.

Certo é que a construção dos túneis arrancou em Setembro, projecto com um custo estimado em 133 milhões de euros, sendo que, globalmente, o plano de drenagem da capital pressupõe um investimento de 250 milhões. Os túneis anunciados em Julho quando Fernando Medina presidia à autarquia, são maiores do que previa o plano de drenagem inicial e, como tal, representam um investimento mais elevado.

Um primeiro túnel, com cinco quilómetros, prevê ligar Monsanto a Santa Apolónia e o segundo terá um quilómetro e ligará Chelas ao Beato. O objectivo passa por captar água que será depois despejada no rio Tejo.

O social-democrata diz mesmo que esta obra será o principal “legado” que deixará enquanto autarca da capital. "Há um legado que vou deixar seguramente, que é transformar aquilo que é invisível em visível e esta obra é invisível aos olhos das pessoas, mas será a maior obra em Lisboa no nosso mandato”, declarou Moedas em Julho.

Todavia, em Outubro de 2014, quanto António Costa ainda liderava a Câmara de Lisboa, o agora chefe de Governo defendia que "o plano de drenagem não faz desaparecer estas situações, a solução não existe", considerando que permitiria apenas “minorar” o problema.

"Temos de ter consciência de que estamos sempre sujeitos a situações atmosféricas anómalas e, perante situações atmosféricas anómalas, as consequências são anómalas", dizia Costa, para quem "a natureza será sempre mais forte do que nós". "S. Pedro goza de um estatuto de imunidade que está acima das responsabilidades", concluía.

O já citado plano de drenagem começou a ser sinalizado em 2002 como fundamental para tratar o problema das cheias. Desde então, como já escreveu a agência Lusa, houve seis presidentes do executivo camarário: Pedro Santana Lopes (PSD), António Carmona Rodrigues (independente, apoiado pelo PSD), Marina Ferreira (PSD), de forma interina, António Costa (PS), Fernando Medina (PS) e Carlos Moedas (PSD).

Quem deve telefonar?

Não é apenas a eficácia dos túneis a separar Costa e Moedas. Depois das duas cheias que atingiram Lisboa no presente mês de Dezembro, a autarquia lisboeta deu conta de que em nenhum dos casos recebeu qualquer tipo de comunicação da parte do primeiro-ministro.

À SIC, fonte do gabinete de Costa diz que os contactos oficiais foram feitos pelos ministros da Presidência e da Administração Interna, respectivamente Mariana Vieira da Silva e José Luís Carneiro.

Questionado nesta quinta-feira, em Bruxelas, sobre não ter telefonado a Moedas, António Costa começou por querer seguir a regra de não falar de assuntos locais quanto está no estrangeiros para depois dizer que, “se for necessário”, contactará o autarca lisboeta, e de seguida acrescentar: "Pergunte-lhe porque é que ele não me contactou a mim, que tive a casa inundada."

No entanto, já nesta sexta-feira, a TSF, com base em afirmações de vizinhos do primeiro-ministro, deu conta de que o apartamento de Costa, num 3.º andar, não teve qualquer inundação, mas sim e apenas a sua garagem do prédio onde habita.

Entretanto, ao final da tarde desta sexta-feira, Costa pediu "desculpa" a Moedas. "Estava cheio de sono, fiz um aparte irritado e peço desculpa”, disse nesta sexta-feira, já em Lisboa, em resposta aos jornalistas, acrescentando que aquilo que afirmara na véspera foi "impróprio".

À TSF, o presidente da Junta de Freguesia de Benfica, o socialista Ricardo Marques, confirmou que houve “uma inundação muito grave na garagem” e que “alguns carros ficaram submersos”, porém frisou que “não houve nenhuma viatura do senhor primeiro-ministro”. “Isso é um mito”, rematou.

Diferente foi a actuação de Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República acompanhou Moedas no terreno logo na noite de 7 para 8 de Dezembro.

Já nesta sexta-feira, ao lado de Moedas, Marcelo começou por dizer não querer “formular um juízo sobre a maneira como os responsáveis políticos, em cada caso, reagem”, para acabar dizendo que “é muito importante que as populações sintam que o poder está próximo, quer os presidentes de câmara, quer os responsáveis das freguesias”. "Quem está teoricamente mais distante deve acompanhar o que está a acontecer nas autarquias", atirou.

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