Siza Vieira sentiu “desconforto” com “húbris” demonstrada por Costa em entrevista

Ex-ministro da Economia e amigo do primeiro-ministro admite ter sentido “desconforto” com o tom usado por António Costa na entrevista dada à Visão, na qual viu alguém “hiperconfiante”.

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Pedro Siza Vieira foi número dois no anterior Governo chefiado por António Costa Nuno Ferreira Santos

Amigos, amigos; comentários à parte. Pedro Siza Vieira, ex-ministro da Economia e amigo de longa data do primeiro-ministro António Costa, que levou o advogado para o Governo, criticou o tom e a atitude demonstrados pelo líder socialista na entrevista dada à revista Visão e publicada esta semana.

No programa Bloco Central, da TSF, que integrou após sair do Governo, Siza Vieira, que chegou a ser número dois no segundo executivo chefiado pelo actual primeiro-ministro, admite que a longa entrevista de Costa lhe "deixa uma sensação mista". O advogado assume mesmo ter sentido "desconforto" ao ler a entrevista, em particular "perante a forma como se refere à oposição".

A dada altura, António Costa defende que a mudança de liderança na Iniciativa Liberal se deve ao "facto de Cotrim de Figueiredo não se conseguir adaptar a este novo estilo histriónico que a IL quer ter, de guinchar um bocadinho mais alto do que o Chega. Fica é ridículo. Porque os 'queques', quando tentam guinchar, ficam ridículos perante o vozeirão popular que o [André] Ventura consegue fazer".

"A maneira como se fala, a maneira como um chefe de Governo fala também tem impacto, também tem importância porque é o chefe de Governo de um executivo que governa para o país", afirma Siza Vieira no programa emitido ao início da noite desta sexta-feira.

Para o actual sócio da PLMJ, a forma como o primeiro-ministro falou "é uma maneira de falar que me sugere aquela expressão grega, húbris. Aquela tentação, aquele sentimento de quem que se sentia infalível e que punha em causa os deuses". E continua: "Não é só a Iniciativa Liberal, fica evidente que ele acha que não há nenhuma ameaça que venha da oposição, não sente que possa dali vir qualquer coisa que que que possa pôr em causa a sua situação de poder e de capacidade de influenciar."

Para concluir esta ideia afirmando que António Costa não chegou ainda ao ponto de Cavaco Silva quando era primeiro-ministro, e a quem é atribuída a afirmação de que "raramente" ter dúvidas e "nunca" se enganar. Costa "ainda não está lá", diz Siza que, porém, considera serem "muitos [os] indícios que nos fazem lembrar esse tempo".

Voltando às histórias dramáticas helénicas, Pedro Siza Vieira acrescenta que "sabemos que nas tragédias gregas aqueles que se deixavam cair na hubris acabavam por depois não ter um final muito feliz".

A posição assumida por Siza Vieira representa mais um passo no distanciamento face a António Costa desde que aquele não foi convidado para o Governo saído das legislativas de 30 de Janeiro. Quando já em Março deixou funções governamentais, Siza ignorou o seu amigo de faculdade no vídeo de despedida que publicou numa rede social.

Já em Setembro passado, Siza Vieira não se coibiu de criticar a descida transversal do IRC defendida pelo seu sucessor no Ministério da Economia, António Costa Silva, por sinal uma das principais e mais inesperadas apostas de António Costa para este seu terceiro executivo.

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