Será hoje Isaltino um “autarca modelo”?

Quero acreditar que Isaltino percebeu tarde demais que este será o seu último mandato e que, infelizmente, já não sairá pela porta grande.

É verdade que Isaltino Morais fez coisas boas pelo município de Oeiras. Não estaria a ser sério, nem justo, se não o dissesse publicamente. Mas também seria insólito se não tivesse realizado muitas coisas boas em 30 anos (cerca de 11 mil dias) de exercício de funções executivas neste município…

O principal defeito de Isaltino Morais é que muitas das suas opções políticas (modelo típico dos “autarcas modelo” da década dos anos 80) irão ter um preço elevadíssimo a pagar por todos nós no presente e no futuro, sendo que só muito recentemente a maioria dos cidadãos começou a dar importância a estas problemáticas e a pôr em causa todo o modelo de desenvolvimento que tem sido definido e que jamais teve como prioridade o desenvolvimento sustentável. Na verdade, o que começa a ficar em causa neste momento é todo um reinado de Isaltino Morais!

Hoje irei ilustrar com uma situação gravíssima ocorrida na terça-feira e posta a nu nas cheias, e que poderá vir a trazer muitos dissabores para todos nós que vivemos e gostamos de Oeiras, pela total inacção e irresponsabilidade do presidente da autarquia durante 30 anos. Falo-vos daquele enorme muro que caiu no Dafundo e que só não foi uma tragédia por mero acaso…

Isaltino Morais conhece aquela situação perigosa há muitos anos e melhor do que ninguém! Na década de 1990, parte deste muro caiu e foi precisamente nesse dia que os eléctricos da Carris cessaram, para sempre, a sua circulação até à Cruz Quebrada.

Isaltino preferiu deixar tudo na mesma até aos dias de hoje, colocando em risco a vida e segurança dos seus munícipes, assim como optou por perder o eléctrico da Carris até à Cruz Quebrada. Será que um território onde morrem pessoas e existe tanta incúria define o conceito inovador da sua Oeiras Valley?

Toda aquela encosta é muito instável e Isaltino sabe melhor do que ninguém que existem no Alto de Santa Catarina terrenos argilosos, mas, mesmo assim, voltou a arriscar tudo aprovando um empreendimento de luxo nessa encosta, local onde vivem várias figuras públicas da nossa sociedade em habitações que custaram muitos milhões de euros.

É verdade que Isaltino fez muitas coisas boas pelo município, e não tenho qualquer problema em reconhecer isso novamente, mas também foi este mesmo político que desconsiderou questões ambientais básicas, questões de segurança de pessoas e bens elementares, que permitiu e incentivou a construção de forma desenfreada e sem respeito pelas regras e desprovidas de bom senso, que nunca gostou de ser contrariado ou de debater ideias alternativas com a população que representa, que apostou tudo no betão e quase nada na resolução de problemas graves que afectam as populações e a sua qualidade de vida (como a resolução da ribeira de Algés e Tercena, a limpeza e higiene urbana, a mobilidade, os transportes públicos, entre muitas outras temáticas que poderia detalhar), que não consegue assumir nunca as suas responsabilidades quando as coisas lhe correm mal ou quando erra (vejam a situação das cheias, onde culpa as malditas alterações climáticas, os municípios de Sintra e da Amadora e até o actual Governo de António Costa, ou seja, todos são culpados menos Isaltino o “autarca modelo”), ou, para dar outro exemplo, as dezenas de milhões de euros deitados à rua por causa do seu maior capricho chamado “SATUO”, que não quer nem pára para pensar em muitas decisões que nos irão afectar a todos, se nada fizermos enquanto comunidade e o deixarmos seguir para o abismo.

No futuro, tudo será culpa e responsabilidade do presidente em exercício, mas nunca de Isaltino, que geriu este território durante 30 anos, claro, e como não poderia deixar de ser na qualidade de “autarca modelo”.

Quero acreditar que Isaltino percebeu tarde demais que este será o seu último mandato e que, infelizmente, já não sairá pela porta grande, tudo devido ao caminho que insistiu teimosamente seguir neste mandato: com mais do mesmo na sua forma habitual de estar e fazer no exercício deste cargo público (investigações atrás de investigações e muitas suspeitas a serem analisadas pela Polícia Judiciária e por determinação do Ministério Público), assim como retomando as suas piores opções políticas dos últimos 30 anos de liderança do município de Oeiras, só que agora já reformado, com 73 anos de idade e em final de carreira política.

Muito sinceramente, sinto-me absolutamente desiludido, pois sempre acreditei que iria fazer um mandato de excelência, para só poder sair pela porta grande! Os oeirenses esperavam e mereciam isso dele, pois deram-lhe uma larga maioria absoluta.

Para terminar, a ironia das ironias é que as alterações climáticas puseram a nu as más opções políticas do “autarca modelo”. Não deixa de ser triste, um antigo ministro do Ambiente ficar para sempre carimbado com tamanha mancha negra no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável do território que gere há 30 anos, mesmo perto do apito final. Se Isaltino foi um “autarca modelo” nos anos 80/90, hoje poderei afirmar com toda a certeza que a sua visão para o futuro de Oeiras representa tudo o que fez há mais de 30 anos, menos as exigências do futuro que necessitam de liderança enérgica, seriedade, participação cívica e coragem política para cortar de vez com os males do passado.

P.S.: Caso haja algum tipo de dúvida sobre esta situação grave que hoje aqui relato, podem pedir mais informações ao antigo presidente da Junta de Freguesia da Cruz-Quebrada/Dafundo dessa época, Vidal Antão. Um autarca que dignifica o poder local há mais de 30 anos e que sempre defendeu a resolução desta situação para garantir a segurança dos seus fregueses e a retoma do serviço público da Carris na sua freguesia em prol da mobilidade sustentável da população.

Combati e combato as opções políticas de Isaltino Morais há mais de 20 anos, quer como autarca, quer como cidadão. Nunca me moveu nada contra a sua pessoa, com quem, aliás, tenho um relacionamento excelente e de respeito pessoal mútuo. Até hoje, nunca confundimos o nosso combate político com a nossa relação pessoal e tivemos combates públicos no passado, muito duros e difíceis. Pena que todos os políticos não tenham esta forma de estar na vida como regra, pois o interesse público seria melhor defendido.

Dirigente da Federação do PS de Lisboa e antigo candidato à presidência da Câmara Municipal de Oeiras

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