“Oeiras pode ser o Silicon Valley português”

Horas antes de serem conhecidas as buscas à câmara de Oeiras, Isaltino Morais fez um balanço do mandato até agora. O encontro serviu sobretudo para fazer anúncios para a próxima década.

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Miguel Manso

Poucas semanas depois de declarar que quer fazer de Paço de Arcos a Saint-Tropez de Portugal, Isaltino Morais diz agora que “Oeiras pode ser o Silicon Valley português”. Por isso anunciou esta quarta-feira o lançamento do Oeiras Valley, que explicou ser “um conceito que visa definir o modelo de desenvolvimento deste território”. Ou seja: a câmara está apostada em atrair grandes empresas tecnológicas para o concelho.

Ainda não se sabia que a câmara estava a ser revistada pela Polícia Judiciária por suspeitas de corrupção e abuso de poder relacionadas com a aprovação de um megaplano urbanístico para a foz do Jamor. Isaltino Morais chamara os jornalistas ao Parque dos Poetas para uma conferência de imprensa de balanço de seis meses de mandato, mas o evento assemelhou-se mais a um comício.

Iniciou-se com a transmissão de um vídeo com paisagens oeirenses, acompanhadas por música de discoteca, e seguiu depois com um discurso de três quartos de hora de Isaltino Morais, que haveria de terminar com um aplauso longo e entusiástico da numerosa plateia, depois de um jornalista ter perguntado se o autarca sentia necessidade de fazer um balanço de seis meses de mandato por ter cumprido pena de prisão. “Fui condenado, passei pela prisão, foi uma experiência dolorosa, mas estou aqui de pé”, disse, arrancando a grande ovação do dia.

Antes, o presidente da câmara de Oeiras já dissera que a autarquia prevê investir “350 a 400 milhões de euros nos próximos oito anos” em áreas como a educação, a higiene urbana, a habitação, os transportes, o património cultural, o urbanismo, a economia. A este propósito, afirmou que é sua intenção “rever o Plano Director Municipal (PDM)” para garantir “o acolhimento de mais empresas tecnológicas”. Instado a precisar, Isaltino pôs água na fervura: “Não estou a dizer que vamos alterar radicalmente o PDM.”

A última revisão do PDM de Oeiras aconteceu em 2015 e gerou muita controvérsia. Os críticos dizem que o documento liberalizou a construção em todo o território municipal e abriu caminho à construção de projectos como o previsto para a foz do Jamor. Essa revisão do PDM foi aprovada pela assembleia municipal às 23h52, oito minutos antes de entrar em vigor uma nova Lei de Bases do Solo, do Ordenamento do Território e do Urbanismo que o tornaria inviável.

Mas Isaltino Morais garante que as mexidas que quer agora fazer são pontuais e cirúrgicas, para permitir a instalação de empresas em sítios onde actualmente não é possível construí-las. “Tendo Oeiras este core business que é o sector tecnológico, nós fechamos a porta a algumas empresas só porque o PDM não o permite? Não podemos fechar.”

Para lá de várias medidas que já tinha elencado ao PÚBLICO numa entrevista recente, o autarca disse ainda que quer assumir a gestão de vários espaços emblemáticos do concelho, agora nas mãos do Estado, como a Real Quinta de Caxias, o Convento da Cartuxa ou a Estação Agronómica Nacional, onde há muito património degradado. “Durante muitos anos, a câmara tentou junto do Estado resolver algumas vergonhas nacionais. Já perdemos a paciência”, afirmou Isaltino. Neste momento decorrem negociações com vários ministérios para a transferência da gestão deste património e, garante o presidente, “o município já tem reservados alguns milhões de euros para o recuperar”.

No fim da sessão, Isaltino Morais inaugurou uma exposição na qual estão patentes as muitas dezenas de promessas para os próximos anos. Antes de almoçar favas com chouriço, o autarca ainda aprendeu a tirar selfies.

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