“Salvaguarda urgente”: moliceiros e carpintaria naval da ria de Aveiro já são Património Cultural Imaterial

Com inscrição no inventário, celebram-se as artes do moliceiro, que estão em risco. Só há cinco mestres construtores e um pintor, não há aprendizes. Mas há planos para salvar o futuro.

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Pela Ria de Aveiro num barco moliceiro, estaleiro de moliceiros na Torreira Adriano Miranda
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Passeio de barco moliceiro no Percurso de Salreu - um dos percursos do Bioria, Rede de percursos pedestres e ciclaveis do concelho de Estarreja Adriano Miranda
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Só já há um pintor de moliceiros, e com muita arte: José Oliveira Adriano Miranda
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Pela Ria de Aveiro num barco moliceiro Adriano Miranda
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Pela Ria de Aveiro num barco moliceiro Adriano Miranda
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O Moliceiro "O Presidente " pelo mestre Antonio Esteves, estreado em 2019 Adriano Miranda
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Adriano Miranda
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Pelos canais da Ria de Aveiro num moliceiro Nelson Garrido
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Restam cinco mestres e um pintor. Qual será o futuro do moliceiro? Adriano Miranda
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No moliceiro O Presidente, a ver as estrelas da ria ADRIANO MIRANDA

A Direcção-Geral do Património Cultural, ressalvando a "necessidade de salvaguarda urgente", inscreveu no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial o barco moliceiro e a arte da carpintaria naval da região de Aveiro.

A inscrição foi confirmada com despacho publicado esta quinta-feira em Diário da República.

"A construção do Barco Moliceiro insere-se na tradição da arte de construção naval tradicional" da região de Aveiro, expõe aquela direcção-geral. "Este tipo de embarcação foi inicialmente criado e utilizado para a apanha do moliço, uma das mais importantes actividades económicas que a região conheceu durante várias décadas", refere-se.

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São uma atracção turística e um ícone da ria, mas faltam aprendizes Adriano Miranda

"A necessidade de salvaguarda urgente a este saber-fazer", informam em comunicado, prende-se com o facto de, actualmente, ser "apenas praticado de forma regular por cinco mestres construtores e por um pintor de moliceiros" – estes estão nos concelhos de Estarreja e Murtosa. O grande problema para o futuro desta arte: não se tem "conseguido atrair novos aprendizes nos anos mais recentes".

A inscrição, feita sob proposta do Departamento de Museus, Monumentos e Palácios da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), parte do "pedido de registo do referido saber-fazer" submetido em Março pela Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, que "desenvolveu trabalho de investigação para aprofundar o conhecimento desta arte e elaborou um Plano Estratégico de Salvaguarda a 10 anos (2022-2032)".

É um passo "essencial e exigido pela DGPC" para a inclusão e que tem por objectivo "dinamizar e estruturar o processo de salvaguarda desta manifestação cultural, tão relevante para a identidade e o desenvolvimento desta região".

O plano "envolve o compromisso dos vários municípios que compõem a comunidade intermunicipal" e integra "uma série de iniciativas em articulação com a comunidade escolar e com o ensino profissional", uma "proposta de desburocratização dos processos de licenciamento" e a "criação de um regime excepcional para estas embarcações" que "tornem mais atractivas as condições para a sua produção e aquisição".

O moliceiro terá adquirido as formas actuais "nos finais do século XVIII, tendo depois observado, nos séculos XIX e XX, um grande crescimento no número de embarcações", resume-se. "Uma arte de construção artesanal de processos simples" mas a que se associam "um conjunto de técnicas, ferramentas e saberes imateriais", que são "transmitidos entre gerações (não apenas dentro das mesmas famílias)": o conhecimento passa de mestres para aprendizes. Mas, sem aprendizes, há um futuro em "risco".

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Barcos Moliceiro na Ria de Aveiro ADRIANO MIRANDA

O "declínio no número de embarcações" deve-se ao "abandono da prática da apanha do moliço". Hoje em dia, o Barco Moliceiro, além de ícone da região e da ria, é basicamente "utilizado para a actividade turística", uma "transição que permitiu evitar a sua perda". Nos últimos anos têm-se criado novos moliceiros, com base na preservação e nos projectos turísticos, científicos e recreativos. Mas, ainda assim, sublinha-se, "tem sido difícil captar novos profissionais que possam assegurar de forma continuada esta arte".

Todo o processo e informação sobre a inscrição do "Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro" no inventário nacional está já disponível no site dedicado ao Património Cultural Imaterial Português.

Depois desta inscrição, avança-se para o passo seguinte, a meta mais desejada: a inscrição como Património da Humanidade pela UNESCO.

Esta quinta-feira, foi também publicada em Diário da República o despacho de inscrição das Festas Antoninas.

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