Não há risco de Espanha abrir as comportas no Minho, Douro, Tejo e Guadiana

Espera-se que as escorrências para as linhas de água ao longo dos próximos dias se traduzam num aumento substancial das reservas de água de superfície em Portugal.

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Apesar das chuvas, as barragens tanto do lado português como espanhol, ainda têm capacidade de regulação dos caudais Nicolau Botequilha

Apesar da intensa precipitação atmosférica dos últimos dias, a capacidade de encaixe das albufeiras espanholas nos rios Minho, Douro, Tejo e Guadiana está longe do pleno enchimento e da necessidade de proceder a descargas que pudessem traduzir-se em inundações no curso dos rios em território português.

Os dados publicados pelo Ministério da Transição Ecológica e do Desafio Demográfico (Miteco), relativos a esta terça-feira, referem que a reserva de água nas 16 bacias hidrográficas espanholas ascende, no seu conjunto, aos 20.021 hectómetros cúbicos (hm3), 35,7% de sua capacidade total. Nos rios internacionais, a reserva na bacia hidrográfica do Minho está nos 53,5%, no Douro situa-se nos 36,8%, no Tejo é de 43,3% e no Guadiana 24,7% – portanto, todos ainda longe do pleno enchimento.

A hipótese de eventuais descargas no Tejo a partir da barragem de Cedillho não se põe na situação presente. O PÚBLICO solicitou informações sobre a situação neste curso de água a Paulo Constantino, dirigente do movimento Protejo, que garante não se registar nenhum aumento anormal no caudal do rio. As observações que, entretanto, lhe têm sido reportadas indicam que “há um aumento pouco significativo do caudal em Almourol” e que nas barragens de Fratel e Belver, construídas no curso do rio em território português, “corre um fio de água”.

Com efeito, os dados publicados pelo Miteco referem que, no dia 12 de Dezembro, a barragem de Alcântara, construída em território espanhol, tem um volume de água de 53% e a barragem de Cedillo instalada junto à fronteira, está com 84% da sua capacidade máxima, o que é normal, pois é através desta albufeira que os espanhóis fazem a gestão da água antes de ela entrar em Portugal.

Paulo Constantino referiu que no país vizinho “estão a conter as águas que podem”, uma decisão que será do conhecimento dos responsáveis da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). “Os dois países estão coordenados nesta matéria e não haverá decisões sem o conhecimento dos portugueses” salientou.​

Assim, as afluências vindas de Espanha através do rio Tejo, cerca de 2 mil metros por segundo, não são passíveis de vir a provocar cheias em território português. E os caudais do rio Zêzere foram “fechados” para armazenar a reserva de água nas albufeiras de Cabril e Castelo do Bode. Estas infra-estruturas têm respectivamente 63% e 78% do seu volume de armazenamento, afastando-se assim a hipótese de se proceder a descargas, diz Paulo Constantino.

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Portugal chegou a 65% do seu armazenamento

As reservas nacionais de água garantidas pelas 79 barragens do Serviço Nacional de Informação e Recursos Hídricos (SNIRH) somam, no seu conjunto, uma capacidade de armazenamento de 13.213 hm3. No dia 12 de Dezembro, o volume armazenado era de 8618 hm3, o que representa 65% do total. Espera-se que as escorrências que irão chegar nos próximos dias aumentem o volume de água nas albufeiras.

No Alto Minho, a problemática barragem do Lindoso já apresenta uma reserva de água de 66%. No entanto, o caudal armazenado na barragem do Alto Rabagão continua baixo, nos 36%.

A bacia do Douro concentra, neste momento, os mais elevados valores a nível nacional, entre 91% e 102%, em 11 das 15 barragens ali instaladas. Na bacia do Mondego, os valores oscilam entre os 59% e os 79% nas suas oito reservas de água.

No Sul do país, o cenário continua a revelar baixos níveis de armazenamento nas bacias do Tejo, Sado, Guadiana, Mira e na região algarvia. Nas 19 barragens da bacia do Tejo, o quadro do SNRIH apresenta oito albufeiras com um volume entre os 82% e os 100% Quatro albufeiras apresentam um volume entre os 22% e os 31%, cinco entre os 63% e os 78% e duas com 52% e 56%. A barragem do Divor já não está no vermelho.

Contudo, é na bacia do Sado que persiste a escassez de água armazenada nas dez barragens públicas. Campilhas (3%) e Monte da Rocha (8%) continuam no vermelho e sem registar débitos trazidos pelas chuvas dos últimos dias. As restantes apresentam um volume armazenado entre os 24% e os 54% e apenas o caudal armazenado na barragem do Alvito se destaca, com 73%.

Na barragem de Santa Clara, na bacia do Mira, o nível da água continua a manter-se inalterável, nos 40%, e nas nove barragens da bacia do Guadiana destacam-se as pequenas albufeiras do Enxoé (72%) e Lucefecit (79%) e Alqueva, com 65%. As seis restantes estão entre os 22% e os 58% no seu nível de armazenamento.

A EDIA diz que a albufeira de Alqueva recebeu ao longo do dia 11 de Dezembro um volume de afluências que chegou aos 701 metros cúbicos por segundo. No dia seguinte, o caudal vindo de Espanha foi reduzido para os 252 metros cúbicos por segundo. O nível de água armazenado em Alqueva ainda precisa de preencher uma coluna de água com sete metros até que seja atingido o seu pleno enchimento.

A barragem da Bravura, no Algarve, permanece no vermelho, com uma reserva de água de 10% e as duas barragens que suportam, em grande parte, o abastecimento do Algarve – Odeleite (43%) e Odelouca (31%) continuam a suscitar preocupações.

Espera-se que as escorrências que irão chegar nos próximos dias aumentem o volume de água nas albufeiras. Com as afluências que chegaram à rede de albufeiras nacionais durante a última semana, há esperança de que no próximo ano não haja restrições no fornecimento de água para a agricultura, a indústria e o consumo humano.

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