Margareth Menezes aceita convite para assumir Ministério da Cultura de Lula

Cantora negra, ícone do Carnaval baiano, deve assumir pasta, mas não foi primeira escolha do Presidente eleito. Rapper Emicida e actriz Marieta Severo foram sondados.

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Margareth Menezes, ícone do Carnaval baiano e nova Ministra da Cultura na presidência de Lula da Silva Alexander Hassenstein/getty images

A cantora Margareth Menezes aceitou o convite do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o futuro Ministério da Cultura, a ser refundado na sua gestão. A artista, no entanto, tem enfrentado resistências no sector cultural e em algumas alas do PT, que preferiam um nome mais técnico.

Emocionada, a artista aceitou o convite, que partiu de uma sugestão da socióloga Rosângela Silva, mulher de Lula. O seu nome não foi a primeira opção do petista. Antes, a actriz Marieta Severo e o rapper Emicida foram sondados, mas não aceitaram a proposta.

Menezes já integra a equipa de transição da Cultura, para a qual foi convidada depois de criticar a ausência de negros entre os responsáveis por avaliar o sector na gestão do Presidente Jair Bolsonaro.

Após a vitória nas eleições, Lula manifestou o desejo de levar outra vez um símbolo ao Ministério da Cultura, para repetir o efeito da nomeação do compositor Gilberto Gil no seu primeiro mandato.

A ideia, de preferência, seria que fosse uma mulher ou um afro-descendente. Janja, como é conhecida a mulher de Lula, também apostava no impacto de um grande artista e, com o fracasso dos primeiros convites, defendeu o nome de Margareth Menezes, cantora negra, ícone do Carnaval baiano.

Logo que aceitou o convite, Menezes viu o seu nome ser recebido com algumas dúvidas, nomeadamente por não ter um passado sólido de gestora, salvo através da criação da Associação Fábrica Cultural, em Salvador.

Os críticos, porém, manifestam admiração pela sua trajectória na música. Ao contrário de Gil, que presidiu a Fundação Gregório de Mattos — equivalente da secretaria municipal da Cultura —, em Salvador, antes de assumir o Ministério da Cultura, ela não tem experiência em gestão pública.

Mais próximo de Janja, o secretário nacional de Cultura do PT, Márcio Tavares, manifestou simpatia pela indicação da cantora.

O ex-ministro da Cultura Juca Ferreira e a deputada federal Jandira Feghali eram nomes da área política defendidos por militantes e gestores.

"Artista é na trincheira"

Em grupos de WhatsApp, nesta sexta-feira, cresceu a oposição de agentes culturais ao nome de Menezes. Depois do vazamento do convite, Lula ouviu opiniões sobre as dificuldades para recriar a pasta e as vantagens de um quadro técnico. As ressalvas chegaram igualmente a Janja.

O fotógrafo e produtor Luiz Carlos Barreto, que manifesta a sua preferência por Ferreira, enviou um conselho ao PT e ao Presidente Lula pelo WhatsApp. E confirma que defendeu, em nome pessoal, um nome técnico.

"Sou um produtor de cinema e militante a favor de um projecto cultural brasileiro. Acho que o Ministério da Cultura não deve ter um ministro artista. Como diz a Fernanda Montenegro, quando ela foi convidada por Sarney para ser ministra da Cultura, o lugar de artista é na trincheira da criatividade, não é nos gabinetes das repartições públicas, oficiais", diz Barreto.

"Foram seis anos de demolição. Esse ministro tem que ser um grande gestor, que conheça bem as entranhas de Brasília. Não tenho nada contra Margareth. Tenho tudo a favor de Margareth. É uma pessoa extraordinária e fará muita falta na criatividade", acrescenta o produtor.

Ventilado nas redes sociais para o ministério, logo após a vitória de Lula, o nome da cantora Daniela Mercury, apoiante desde a primeira hora do PT, não encontrou sustentação.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo

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