Político crítico de Putin condenado a oito anos e meio de prisão

Ilia Iashin gravou um vídeo em que responsabilizava as forças russas pelo massacre de Bucha. Foi condenado à luz da legislação que pune a divulgação de informações “falsas” sobre a guerra.

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Ilia Iashin foi condenado a oito anos e meio de prisão YURI KOCHETKOV / POOL / EPA

O político da oposição russa Ilia Iashin foi condenado a uma pena de oito anos e meio de prisão por ter acusado publicamente as Forças Armadas russas de terem cometido massacres na Ucrânia.

Iashin, que é conselheiro municipal em Moscovo, foi condenado por ter divulgado “informações falsas” sobre a chamada “operação especial militar” da Rússia na Ucrânia – a designação oficial dada pelo regime à guerra em curso. Em causa está um vídeo de Abril que o político gravou e publicou na sua conta de YouTube em que abordou o massacre de Bucha, responsabilizando o Exército da Rússia.

Após a retirada russa dos arredores de Kiev, foram descobertos dezenas de cadáveres de civis em Bucha que, de acordo com investigações posteriores, foram abatidos por militares russos, levando a Ucrânia a acusar Moscovo de ter cometido crimes de guerra. O Kremlin diz que as provas apresentadas não passam de uma “encenação” para difamar a Rússia.

Iashin foi considerado culpado em virtude das leis russas, aprovadas logo nos primeiros dias da invasão, que vieram reforçar as penas para quem divulgue informações consideradas falsas pelo Governo. Um dos exemplos é a utilização do termo “invasão” ou “guerra” para descrever a “operação militar especial” na Ucrânia. Centenas de russos já foram condenados ao abrigo desta legislação, mas a pena aplicada a Iashin é a mais pesada, segundo o jornal Moscow Times.

Durante o julgamento, Iashin disse que deu tanto a versão russa como a ucraniana acerca do massacre de Bucha. Nas suas alegações finais, o político disse que a sua prisão é “o desejo de Vladimir Putin”, responsabilizando o Presidente russo pelo “banho de sangue” na Ucrânia.

A partir da prisão, Alexei Navalny, o rosto mais conhecido da oposição russa, disse que a decisão do caso de Iashin é “mais um veredicto sem vergonha e ilegal do tribunal de Putin”.

Acusações de Putin

O Presidente russo voltou a direccionar velhas críticas aos países ocidentais, acusando-os de “explorar” a Ucrânia e de fazer do seu povo “carne para canhão” em nome das suas ambições globais. “Eles multiplicam deliberadamente o caos e agravam a situação internacional”, afirmou Putin num vídeo que foi transmitido durante uma cimeira regional de defesa, em Bishkek, no Quirguistão.

Para Putin, a Alemanha e a França, especificamente, são responsáveis pela quebra de confiança entre Moscovo e o Ocidente por causa da falta de aplicação dos Acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015, que tinham como objectivo alcançar uma solução política para a guerra no Donbass.

Ainda assim, Putin não fechou as portas a negociações futuras a propósito da Ucrânia. “De qualquer forma, no fim da análise, nós teremos de chegar a algum acordo. Já disse muitas vezes que estamos preparados para esses acordos”, garantiu.

Na semana passada, o Presidente dos EUA, Joe Biden, disse que qualquer negociação com a Rússia terá de ter como ponto de partida uma retirada militar do território ucraniano, mesmo de regiões que o Kremlin considera integrantes da Federação Russa.

Putin deixou ainda em cima da mesa a ameaça de um corte da produção de petróleo como resposta ao limite “estúpido” ao preço dos barris russos imposto pelo G7 recentemente.

Novo caça

Entretanto, a Itália e o Reino Unido decidiram unir os seus planos de desenvolvimento de um caça de nova geração com um projecto paralelo com o Japão. As duas iniciativas estavam a ser discutidas há vários anos, mas, num contexto de mudanças profundas no xadrez geopolítico, os dois projectos parecem ter ganho nova vida, fundindo-se num só.

O acordo anunciado esta sexta-feira junta os consórcios European Tempest, dos dois países europeus, e o F-X, do Japão.

A Bloomberg explica que o desenvolvimento e fabrico de caças são um processo caro e demorado. “Os prazos podem prolongar-se durante décadas e os orçamentos ascender a centenas de milhares de milhões de dólares, portanto adicionar o peso financeiro japonês ao know how europeu desenvolvido numa sucessão de caças que culminam no Eurofighter representa um passo decisivo no desenvolvimento de uma nova aeronave”, acrescenta a agência.

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