Lista Vermelha tem más notícias sobre o mar: dugongos e corais correm maior risco

Actualização da UICN sobre as espécies marinhas em risco de extinção apresentada esta sexta-feira na conferência da Convenção da Biodiversidade das Nações Unidas, em Montreal.

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A população de corais-de-pilar diminuiu em 80% desde 1990 Françoise Cabada-Blanco
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As espécies que vivem no mar estão cada vez mais ameaçadas pelas alterações climáticas, poluição e outras actividades humanas. Duas populações de dugongos (grandes mamíferos marinhos herbívoros) entraram na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como “em risco crítico” ou “em risco”, na actualização apresentada nesta sexta-feira em Montreal, na 15ª Conferência da Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (COP15).

A Lista Vermelha que a UICN elabora é a fonte de informação mais exaustiva sobre o risco de extinção de animais, fungos e plantas e tem várias actualizações anuais. Nesta actualização apresentada na COP15, dedicada à vida marinha, além das duas espécies de dugongos, são identificadas como ameaçadas de extinção 44% de todas as espécies de moluscos do género Haliotis, conhecido internacionalmente como “abalone” e nos Açores também chamado orelha-do-mar. O estado das populações de corais de pilar deteriorou-se e é neste momento classificado como “em risco crítico”.

Quanto aos dugongos, o animal que inspirou os marinheiros a imaginar sereias, a UICN concluiu que são menos de 250 os indivíduos adultos que existem ainda na África Oriental, e menos de 900 na Nova Caledónia, um território francês abrange dezenas de ilhas no sul do oceano Pacífico.

Dugong, única espécie de mamífero marinho herbívoro, filmado em Marsa Alam, no Egipto. Imagem: Ahmed M. Shawky

A actividade humana está por trás das principais ameaças que enfrentam estes animais: captura não intencional nas artes de pesca em África e caça ilegal no Pacífico, e ferimentos causados por embarcações em ambos os locais, diz um comunicado da UICN. Na África Oriental, a exploração de petróleo e gás natural, pesca de arrasto, poluição química e projectos não autorizados nas regiões costeiras destroem as ervas das pradarias marinhas das quais se alimentam os dugongos. Na Nova Caledónia, a degradação das ervas marinhas resulta de efluentes agrícolas e também das minas de níquel. E as alterações climáticas são uma ameaça em todo o lado.

“Este ano já tínhamos publicado um estudo em que concluíamos que a população de dugongos chinesa estava funcionalmente extinta. Agora, mais duas populações estão um passo mais perto de desaparecerem para sempre”, constata Samuel Turvey, da Sociedade Zoológica de Londres (Reino Unido), citado no comunicado. “Há já várias populações de dugongos listados como ameaçados ou em risco crítico. Os dugongos são a maior espécie sobrevivente dos Sirenídeos, uma ordem antiga de mamíferos que tem adaptações únicas e uma longa história evolutiva”, disse, por seu lado, Thomas Lacher, da Universidade do A&M do Texas (EUA).

“Desde a poluição do seu habitat até ao aquecimento dos oceanos, os impactos humanos continuam a travar a recuperação dos ecossistemas marinhos, o que afecta o futuro destes animais icónicos e de muitas outras espécies”, concluiu Samuel Turvey.

Sabia que...

A Lista Vermelha da UICN inclui agora 150.388 espécies, das quais 42.108 estão ameaçadas de extinção. Mais de 1550 dos 17.904 animais e plantas marinhos avaliados estão em risco de extinção, com as alterações climáticas a terem um impacto considerável sobre 41% das espécies.

“A criação de mais áreas de conservação nos locais onde vivem os dugongos, em particular em torno do Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto, [na província de Inhambane, em Moçambique] poderia reforçar a capacidade das comunidades locais para desenvolver, pôr em prática e beneficiar de soluções que travem a longo prazo o declínio dos dugongos”, sugere Evan Trokzuk, que liderou a avaliação da população de dugongos da África Oriental.

Resultados provisórios do projecto de avaliação das Áreas Importantes de Plantas Tropicais de Moçambique indicam que “80% das espécies ameaçadas de plantas do país poderiam ser salvaguardadas se se protegesse formalmente apenas 3% da sua área terrestre”, acrescentou Ian Darbyshire, da equipa de África dos Jardins Botânicos de Kew (Reino Unido), envolvido no projecto em Moçambique.

Mais de 1550 espécies marinhas podem extinguir-se

A Lista Vermelha da UICN inclui agora 150.388 espécies, das quais 42.108 estão ameaçadas de extinção. Mais de 1550 dos 17.904 animais e plantas marinhos avaliados estão em risco de extinção, com as alterações climáticas a terem um impacto considerável sobre 41% das espécies.

É o que se passa com o coral-de-pilar (Dendrogyra cylindrus), nativo das Caraíbas. Passou de “vulnerável” para “em risco crítico”, pois a sua população diminuiu em 80% desde 1990. O problema mais premente, assinala a UICN, é a doença de perda de tecidos dos corais rochosos, que surgiu nos últimos quatro anos e é altamente contagiosa. A infecção espalha-se num raio de 90 a 100 metros por dia nos recifes de coral.

O coral de pilar é apenas um dos 26 corais do oceano Atlântico que agora são classificados como em risco crítico, devido às alterações climáticas e outros impactos”, comentou Beth Polidoro, da Universidade Estadual do Arizona (EUA) e coordenadora do grupo de especialistas em corais da UICN.

O branqueamento dos corais causado pelo aumento da temperatura da água do mar, e a contaminação da água com fertilizantes e esgotos têm enfraquecido os corais, tornando-os menos resistentes a doenças. A pesca excessiva nas zonas de recifes de coral deixou o mar sem os peixes que se alimentam das algas, permitindo que estas passassem a dominar o ecossistema, o que se torna uma pressão acrescida para os corais.

A actualização da Lista Vermelha da UICN destaca ainda outro animal, o molusco do género Haliotis, que é considerado um repasto delicioso em muitas regiões e alcança preços elevados. Em Portugal existe nos Açores, onde é chamado orelha-do-mar. Estão ameaçadas de extinção 20 das 54 espécies existentes no mundo, de acordo com a primeira avaliação global dedicada a este animal.

As ondas de calor marinhas têm causado mortalidade em massa destes moluscos, e agravam as doenças de que sofrem. O calor mata também as algas de que se alimentam, e a poluição causa o crescimento desmesurado de outras algas, que lhe são prejudiciais. Mas também há locais, como na África do Sul, em que são apanhados por redes criminosas, muitas vezes ligadas ao tráfico de droga internacional, salienta a UICN.

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