O dugongo, “o gigante mais gentil do oceano”, estará funcionalmente extinto na China

Artigo de investigação verificou que, na China, não há registos oficiais da presença do animal desde 2008. Similarmente, foram entrevistadas 66 comunidades piscatórias locais e apenas três de quase 800 pessoas disseram ter visto um dugongo nos últimos cinco anos.

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A degradação dos ecossistemas marinhos e a caça têm fragilizado muito os dugongos Universidade de Queensland/Reuters

O dugongo (Dugong dugon), mamífero marinho classificado como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla inglesa), pode estar funcionalmente extinto na China. Dizem-no a Academia Chinesa de Ciências e também cientistas da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, na sigla inglesa), que, em conjunto, elaboraram um artigo de investigação no âmbito do qual compilaram todos os dados históricos sobre onde e quando os dugongos haviam sido encontrados anteriormente na China. Descobriu-se que o animal não é avistado no terreno por cientistas desde 2000 e que não há registos oficiais da sua presença desde 2008.

Os autores do artigo de investigação também entrevistaram 66 comunidades piscatórias locais. Apenas três de quase 800 pessoas disseram ter avistado um dugongo nos últimos cinco anos. Em média, os indivíduos auscultados referem não ver o animal em águas chinesas há 23 anos.

“Com base nestas descobertas, somos forçados a concluir que os dugongos sofreram um declínio populacional rápido nas últimas décadas e agora estão funcionalmente extintos na China”, escrevem a Academia Chinesa de Ciências e a ZSL no seu artigo, publicado esta quarta-feira na revista Royal Society Open Science. Esta será, segundo os autores, “a primeira extinção funcional de um vertebrado de grande porte em águas marinhas chinesas”.

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Esqueleto de um dugongo no Museu Nacional das Filipinas Julan Shirwod Nueva

Diz-se que um animal está “funcionalmente extinto” numa dada região quando, nela, a população é composta por tão poucos indivíduos que estes acabam por ter um papel pouco significativo no ecossistema.

O conceito utiliza-se também “quando uma população já não é viável”, conforme Craig Hilton-Taylor, da IUCN, explicava ao PÚBLICO em 2019. Uma população já não é viável quando, por exemplo, “os indivíduos restantes já não são capazes de se reproduzir”, por serem todos do mesmo sexo ou então por “estarem tão amplamente dispersos que não se conseguem encontrar para se reproduzir”.

“A ausência do dugongo não só afectará o ecossistema, mas também servirá como um alerta: um lembrete sério de que podem ocorrer extinções antes que sejam desenvolvidas acções de conservação eficazes”, disse Samuel Turvey, da ZSL, na sequência da publicação do artigo.

O dugongo é um animal especial, sendo dos poucos mamíferos marinhos que são herbívoros. Como ele, há o manatim, que pertence à mesma ordem (Sirenia). Ambos são criaturas grandes e lentas (daí haver quem se refira ao dugongo como “o gigante mais gentil do oceano”). E o seu aspecto também é idêntico. Distingue-os a cauda do dugongo, que se assemelha à de uma baleia.

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Dugongo em águas egípcias Sebastian Gerhard/Venturemedia

Alimentando-se de ervas marinhas, o dugongo está dependente de habitats onde existam pradarias marinhas (que, diga-se de passagem, têm um papel ecológico muito relevante, sendo grandes sequestradoras de carbono). O animal pode ser encontrado em águas costeiras quentes que vão desde a zona Oeste do oceano Pacífico até a costa oriental de África. Acredita-se que, por estes dias, a maior e mais estável de população de dugongos esteja na Austrália.

A degradação dos ecossistemas marinhos e a caça têm fragilizado muito o animal. Além disso, as fêmeas dão à luz apenas algumas vezes durante a vida, o que também contribui para a vulnerabilidade da espécie.

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Dugongo fotografado debaixo de água Gejuni

“A IUCN já reconhece os dugongos como extintos em Taiwan e, com base nas nossas descobertas, recomendamos que o estatuto regional mais amplo da espécie seja reavaliado como Criticamente Ameaçado (Possivelmente Extinto)” em todas as águas chinesas e da região, realça o artigo de investigação da Academia Chinesa de Ciências e da ZSL.

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