Grupo FTX deve perto de três mil milhões aos 50 maiores credores

O passivo total do grupo FTX está avaliado em mais de 10 mil milhões de dólares (9,69 mil milhões de euros). Dois dos principais credores têm mais de 190 milhões de euros em falta cada.

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O valor das dívidas partilhado este fim-de-semana ainda não é final Reuters/DADO RUVIC

As empresas do grupo FTX devem mais de três mil milhões de dólares (o equivalente a 2,96 mil milhões de euros) aos seus 50 maiores credores. A informação foi revelada este fim-de-semana em documentos entregues no tribunal federal dos Estados Unidos que está a lidar com os pedidos de insolvência da bolsa de criptomoedas FTX e da empresa-irmã Alameda Research.

Segundo avança o jornal Financial Times, a lista demorou a ser compilada porque a equipa da FTX estava com dificuldades em localizar registos fiáveis do grupo que colapsou no começo de Novembro devido a uma crise de liquidez e acusações de desvio de fundos dos clientes.

O valor partilhado este fim-de-semana não é final: o grupo FTX salienta que ainda está a rever informação e poderá ter de actualizar a lista. Por ora, sabe-se que dos 50 maiores credores, todos com valores acima de 20 milhões de euros cada, dois têm mais de 200 milhões de dólares (193 milhões de euros), cada, em falta. Documentos entregues previamente mostram que o passivo total das empresas, com mais de um milhão de credores, ultrapassa os dez mil milhões de dólares (9,69 mil milhões de euros).

A contagem realça o número de entidades que investiram consideravelmente na FTX Internacional, com apenas três anos de existência. Embora o documento não inclua o nome dos credores, várias empresas de investimento e capital de risco apoiavam a FTX – é o caso da Sequoia Capital e da Tiger Capital.

Até Novembro, a bolsa era considerada uma das mais fiáveis no sector das criptomoedas. Em Janeiro, a FTX tinha sido avaliada em 32 mil milhões de dólares (cerca de 31,5 mil milhões de euros) e o então presidente executivo, Sam Bankman-Fried, reunia-se frequentemente com legisladores norte-americanos para falar sobre o futuro das criptomoedas.

Só que, apesar da imagem de prosperidade, a empresa estava profundamente endividada. A FTX usava a FTT, uma criptomoeda própria, para incentivar clientes a manter os depósitos. O dinheiro na FTX era usado para actividades especulativas da Alameda Research.

A 11 de Novembro, o ex-líder da FTX, Sam Bankman-Fried, submeteu um pedido de insolvência e com a empresa incapaz de dar resposta ao número de clientes que queriam retirar os fundos da plataforma.

“[Nunca] vi um fracasso tão grande ao nível dos controlos empresariais, nem uma ausência total de informação financeira de confiança”, resumiu o novo presidente executivo da FTX, John Ray III, nos documentos entregues no tribunal do Delaware que está com o caso. O norte-americano, que assumiu o controlo da FTX, tem experiência em lidar com empresas em crise – foi Ray III quem supervisionou o processo de liquidação da ex-líder de energia Enron no começo dos anos 2000.

Os documentos entregues no tribunal do Delaware também revelam vários dos problemas na organização do grupo FTX. De acordo com Ray III, no grupo FTX “a concentração do poder [estava] nas mãos de um grupo muito pequeno de indivíduos inexperientes, pouco sofisticados e potencialmente comprometidos.” Algumas das práticas de gestão incluíam utilizar “uma conta de e-mail de grupo, não segura, para aceder a chaves privadas confidenciais e dados sensíveis” e a “utilização de software para ocultar a má gestão dos fundos dos clientes”.

Parte da missão do grupo FTX era em construir uma rede de lobbies nos corredores do poder em Washington. Notas de uma reunião de 19 de Setembro, vistas pela agência Reuters, mostram que o grupo FTX investiu cerca de dois mil milhões de dólares (1,95 mil milhões de euros) em “aquisições para fins regulamentares”. A parceria com o IEX Group, uma plataforma de negociação de acções, facilitava o contacto com a entidade reguladora do mercado de capitais nos Estados Unidos, a Securities and Exchange Comission (SEC).

A primeira audiência de Sam Bankman-Fried está marcada para a manhã de terça-feira no U.S. Bankruptcy Court for the District of Delaware, o tribunal federal responsável por tratar assuntos de falência no Delaware.

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