Mato seco em chamas vence Festival Caminhos do Cinema Português

Para o júri, Mato seco em chamas é “um jogo híbrido que dissipa fronteiras e convoca uma estética distópica, a partir da qual se antecipa o utópico”.

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O filme Mato seco em chamas, de Joana Pimenta e Adirley Queirós, venceu o Grande Prémio da 28.ª edição do Festival Caminhos do Cinema Português DR

O filme Mato seco em chamas, de Joana Pimenta e Adirley Queirós, venceu o Grande Prémio da 28.ª edição do Festival Caminhos do Cinema Português, que termina este sábado, em Coimbra.

Sobre este trabalho recentemente premiado no Festival de Cinema do Rio de Janeiro, o júri considerou tratar-se de “um filme que se adentra no seio de uma comunidade forte”, no qual “a sensualidade, a resistência e a chama da revolução ardem entre petróleo, música e corpos que próximos sugerem outros futuros”.

Para o júri, Mato seco em chamas é “um jogo híbrido que dissipa fronteiras e convoca uma estética distópica, a partir da qual se antecipa o utópico”.

O prémio de Melhor Ficção foi para Fogo fátuo de João Pedro Rodrigues — também premiado há pouco tempo no Festival, tendo o júri considerado que,"depois do isolamento pandémico”, é um trabalho que, “com inteligência”, “reclama a sala de cinema como experiência colectiva onde os risos se contagiam, as cores e os espaços deliciam”.

Quanto ao prémio de Melhor Curta-Metragem, o júri atribuiu-o a 2.ª pessoa, de Rita Barbosa, considerando-o um “filme desassombrado que oferece o seu tempo a uma voz testemunhal para o resgate de histórias por contar”. “Através de uma câmara planante sobre as superfícies verticais da cidade somos conduzidos ao segredo”, sustentou o júri.

Atrás dessas paredes, de Manuel Mozos, foi a escolha do júri para o prémio de Melhor Documentário, considerando tratar-se de um trabalho no qual “imagens de outros tempos, como fantasmas, trazem de volta um passado que, não esquecido, adensa o hoje se não nos demitirmos de reflectir sobre lugar público e privado”.

Ice Merchants, de João Gonzalez, venceu o prémio de Melhor Animação, considerando o júri tratar-se de “um filme sensorial e vertiginoso na escolha da perspectiva, com um uso brilhante da cor como símbolo e ausência, do som como extensão dos movimentos e adensamento da acção”.

O prémio Revelação foi para a jovem actriz Lua Michel que, “na qualidade inocente com que se entrega a cada relação” no filme Alma Viva encontra “em cada uma delas um estar denso, construindo uma ideia interior da relação entre o real e o transcendente”. Alma viva, realizado pela luso-francesa Cristèle Alves Meira, é o filme que vai representar Portugal nos Óscares.

O prémio de Melhor Interpretação Principal foi atribuído a Pedro Fasanaro, em Deserto Particular, pela sua “interpretação inteira na construção das duas personagens, Sara e Robson”, enquanto o galardão de Melhor Interpretação Secundária foi para Ana Padrão, em Alma viva que com “uma interpretação despojada numa travessia corajosa” vai “alicerçando a fronteira entre os géneros de ficção e documentário”.

Quanto aos restantes premiados na 28.ª edição do Festival Caminhos do Cinema Português, o Melhor Filme da Selecção Outros Olhares foi para Objectos de luz, de Acácio de Almeida e Maria Carré, tendo sido ainda atribuída uma Menção Honrosa a Luana, de Maria Simões e Tiago Melo Bento.

Na Selecção Ensaios, o júri atribuiu o prémio de Melhor Ensaio Internacional a Ventanas, de Jhon Ciavaldini, e uma Menção Honrosa para Ensaio Internacional a The Midwife, de Anne-Sophie Bailly.

A Menção Honrosa Ensaio Nacional de Animação foi para Rua do Caneiro, de Leonor Faria Henriques, o Melhor Ensaio Nacional de Animação para A maior gaiola do mundo, de Marta Ribeiro e Catarina Colaço, o Prémio de Melhor Ensaio Nacional para Mistida, de Falcão Nhaga e a Menção Honrosa Ensaio Nacional para No Fim do Mundo, de Abraham Escobedo-Salas.

Viagem ao Sol, de Ansgar Schaffer e Susana de Sousa Dias, arrecadou o Prémio de Imprensa, e Às vezes os dias, às vezes a vida, de Janine Gonçalves, a Menção Honrosa.

No que respeita à Federação Internacional de Cineclubes, o Prémio D. Quijote foi para Alma viva, de Cristèle Alves Meira, e a Menção Honrosa para Garrano, de David Doutel & Vasco Sá.

Na categoria Selecção Caminhos, o prémio de Melhor Som foi atribuído a Ed Trousseau (Ice Merchants), o de Melhor Realização a Cristèle Alves Meira (Alma viva), e o de Melhor Montagem a Miguel da Santa (Aos dezasseis).

O prémio de Melhor Guarda-Roupa foi para Patrícia Dória (Fogo fátuo), o de Melhor Fotografia para Joana Pimenta (Mato seco em chamas), o de Melhor Direcção Artística para João Rui Guerra da Mata (Fogo fátuo), o de Melhor Cartaz para Tiago Carvalho (Aos dezasseis) e o de Melhor Caracterização para Sofia Frazão (A rapariga imaterial).

Carlos Guerreiro e Manuel Riveiro (Os demónios do meu avô) venceram o prémio de Melhor Banda Sonora Original, Cristéle Alves Meira e Laurent Lunetta (Alma viva) o de Melhor Argumento Original, Ana Padrão (Alma viva) o de Melhor Interpretação Secundária e Pedro Fasanaro (Deserto particular) o de Melhor Interpretação Principal.

Lua Michel (Alma viva) venceu o Prémio FSS Revelação, 2.ª pessoa (Rita Barbosa) o Prémio União de Freguesias de Coimbra Melhor Curta-Metragem e Ice Merchants (João González) o Prémio Turismo do Centro Melhor Animação.

O Prémio Universidade de Coimbra Melhor Documentário foi para Atrás dessas paredes, de Manuel Mozos, o Prémio Cidade de Coimbra Melhor Ficção para Fogo fátuo (João Pedro Rodrigues), o Grande Prémio Cidade de Coimbra para Mato seco em chamas (Joana Pimenta e Adirley Barbosa e o Prémio do Público Crisótubos para Alma Viva (Seleção Caminhos), Cesária Évora (Outros Olhares) e Midnight glow (Ensaios).

A 28.ª edição do Festival Caminhos do Cinema Português começou no dia 5 e durante o certame foram exibidos 162 filmes no Teatro Académico de Gil Vicente, na Casa do Cinema de Coimbra, no Auditório Salgado Zenha e no Convento de São Francisco.

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