Carta aberta pede aos líderes mundiais que combatam a desinformação climática

Carta tem já várias centenas de signatários e foi escrita após dois grupos de organizações terem comprovado, através da realização de um inquérito, a prevalência de diversos equívocos ambientais.

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A desinformação impede a sociedade de exigir que os políticos defendam o clima mais ambiciosamente Reuters

Não podemos combater as alterações climáticas sem combater também a desinformação que lhes está associada. É o que diz uma carta aberta que tem como destinatários os decisores políticos presentes na Cimeira do Clima de 2022 (COP27), que decorre na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh desde 6 de Novembro e até esta sexta-feira, dia 18. Os autores da carta, que tem já algumas centenas de signatários, são duas alianças, a Climate Action Against Disinformation (que junta organizações envolvidas no combate à desinformação climática) e a Conscious Advertising Network (que junta agências publicitárias e organizações da sociedade civil que, em conjunto, procuram assegurar que o mundo da publicidade é inclusivo e respeitante dos direitos humanos).

As duas alianças escreveram a carta após terem realizado um inquérito no âmbito do qual conversaram, online, com pessoas de seis nações distintas: Alemanha (2115 entrevistados), Austrália (1203), Brasil (1117), Estados Unidos (2396), Índia (1026) e Reino Unido (2029). Procurando garantir que os inquiridos eram representativos da população de cada uma das diferentes geografias, a Climate Action Against Disinformation e a Conscious Advertising Network colocaram-lhes várias questões sobre as alterações climáticas e temas como carros eléctricos, combustíveis fósseis, energias renováveis e neutralidade carbónica. Os resultados mostram que há um negacionismo climático que persiste, da mesma forma que persistem vários outros equívocos em relação a questões ambientais.

Olhemos para algumas percentagens. No Brasil, 44% dos inquiridos acreditam que as alterações climáticas “não são provocadas principalmente pela actividade humana”. Na Alemanha, 28% acham que os esforços para mitigar as mudanças do clima prejudicam os cidadãos, fazendo subir os preços e provocando também várias mudanças ao nível do estilo de vida. Na Índia, 47% sentem que investir-se em tecnologias para sequestrar dióxido de carbono (CO2) é mais importante do que reduzirmos as nossas emissões deste gás com efeito de estufa (GEE).

Relativamente aos Estados Unidos, há dois números que saltam especialmente à vista: 35% dos entrevistados acham que há pouco consenso entre cientistas no que diz respeito às causas das alterações climáticas, enquanto 23% acreditam que estas são uma invenção de organizações como o Fórum Económico Mundial e outras.

Criar uma “definição universal” de “desinformação climática”

No que diz respeito ao consumo de energia, 57% dos indianos, 40% dos brasileiros, 39% dos americanos, 34% dos australianos e 25% dos alemães acham que o gás natural é uma energia amiga do ambiente. O CO2 que se emite quando se queima gás natural é menor do que quando se queima carvão ou petróleo, mas o principal componente do gás natural é o metano, que também é um GEE — e que, embora tenha um tempo de vida útil mais curto do que o CO2, é mais potente do que este a curto prazo. Apenas 14% dos britânicos disseram à Climate Action Against Disinformation e à Conscious Advertising Network que o gás natural é uma energia limpa.

Se no Reino Unido parece haver um olhar mais crítico sobre o gás natural, há também alguma desinformação no que toca às energias renováveis. No relatório referente ao inquérito, que pode ser lido online, as duas alianças responsáveis pelo mesmo assinalam que 27% dos inquiridos britânicos afirmaram pensar que só é possível produzir energia eólica e solar quando o vento está a soprar ou o Sol a brilhar, pelo que não é possível um país viver exclusivamente na sua dependência.

Este relatório mostra como declarações que veiculam desinformação climática ferem os cidadãos, levando-os a formular ideias erradas das mudanças do clima e do modo como a queima de combustíveis fósseis as agrava, diz a Climate Action Against Disinformation num comunicado de imprensa sobre o inquérito.

Numa era em que estamos a “ficar sem tempo para evitar as consequências mais devastadoras da crise climática”, a desinformação impede a sociedade de exigir aos decisores políticos mais ambição no seu desenvolvimento de medidas de mitigação e adaptação à crise do clima, acrescenta a aliança.

Na carta aberta que foi publicada ao mesmo tempo que o relatório, a Climate Action Against Disinformation e a Conscious Advertising Network apelam aos decisores políticos presentes na COP27 que desenvolvam um plano claro de acção contra a desinformação climática”. Na óptica dos signatários, isto começa com a adopção de uma “definição universal” do termo. “Sem uma definição clara, e sem que reconheçamos a existência da indústria multimilionária que sustenta esta desinformação climática, como é que poderemos enfrentá-la?”, pergunta-se na carta.

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