O Riso dos Necrófagos do Teatro Griot recebe Premio Internazionale Teresa Pomodoro

Espectáculo encenado por Zia Soares parte de testemunhos da Guerra da Trindade, na ilha de São Tomé.

Foto
O Riso dos Necrófagos teve estreia em Abril de 2021 na Culturgest SOFIA BERBERAN

A peça O Riso dos Necrófagos, com encenação e direcção de Zia Soares, uma co-produção do Teatro Griot e da Culturgest, foi distinguida este mês com o Premio Internazionale Teresa Pomodoro para o Melhor Espectáculo 2021/2022 apresentado em Milão, Itália.

O prémio é promovido pelo Teatro No'hma, e já vai na sua 14.ª edição. Na apreciação, o júri elogiou o espectáculo português “pela transposição da dimensão carnavalesca de um ritual de procissão para uma performance hipnótica e de energia irreprimível, que mantém em vida a memória dos mortos, estimulando a consciência dos vivos e erguendo-se com a força do corpo e da voz contra qualquer forma de imperialismo e de racismo”, precisa a informação divulgada pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes).

A peça, estreada no Grande Auditório da Culturgest em Abril de 2021, tem por base testemunhos da Guerra da Trindade, encontrados na ilha de São Tomé, pela encenadora Zia Soares e pelo músico Xullaji, através de “dos que a viveram e dos que a ouviram contar”, assim como de “relatos de memórias desfocadas pela passagem do tempo”.

“Nesta guerra, os mortos foram amontoados em valas comuns ou no fundo do mar, num exercício de violência, perpetrado pelo invasor que acredita que, ao despojar os mortos dos seus nomes, os condena ao esquecimento. Mas para os santomenses, são presenças na ilha como símbolo encarnado e, para os celebrar, anualmente, no dia 3 de Fevereiro, cumprem um itinerário ritualístico, desfilando ao longo de várias horas numa marcha amplificadora de falas, cantos, risos e sons que saem de corpos convulsos”, lê-se na apresentação da peça do Teatro Griot.

O espectáculo constitui, assim, um “prolongamento desse percurso celebratório, entrópico, onde os actuantes manipulam tempos e imagens, desossam e riem do delírio, reconfigurando os vestígios e os fragmentos do morticínio, a partir da ideia de celebração - a festa, a liturgia e os aspectos ritualísticos do quotidiano”.

Presidido pela directora artística do Spazio Teatro No'hma, Livia Pomodoro, o júri do prémio integrou ainda Lev Abramovic Dodin, director artístico do Teatro Maly, de São Petersburgo, o encenador grego Stathis Livathinos, fundador e director artístico da Compagnia Teatrale Enzo Moscato, o encenador espanhol Lluís Pascal, o director da Suzuky Company of Toga, do Japão, Tadashi Suzuki, o encenador alemão Peter Stein, o fundador e director artístico do Oskaro Korsunovo Teatras de Vilnius, Oskaras Korsunovas, a directora do Teatro Nacional de Nice, Muriel Mayette-Holtz, o director artístico do Teatro Nacional Tunisino, Fadhel Jaïbi, e o presidente dos Teatros da União Europeia e director do Teatro Húngaro de Cluj (Roménia), Gabór Tompa.

Os prémios foram anunciados no passado dia 3, numa cerimónia em que estiveram presentes Zia Soares, directora artística do Teatro Griot e encenadora da peça, e parte da equipa artística do espectáculo, nomeadamente Benvindo Fonseca, Daniel Martinho, Mick Trovoada, Neusa Trovoada e Xullaji.

No ano passado, depois da estreia na Culturgest, O Riso dos Necrófagos foi representado no Convento São Francisco, em Coimbra, e, este ano, foi posta em cena no Teatro No'hma, em Milão, e na Bienal de São Tomé e Príncipe.

No passado mês de Janeiro, a companhia estreou Uma Dança das Florestas, uma das mais conhecidas dramaturgias do escritor nigeriano Wole Soyinka, sobre “o que é ser independente e estar livre”, como a encenadora Zia Soares disse então à Lusa.

Em Setembro, levou à Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a performance Fanun Ruin, que propõe uma reflexão sobre passado colonial, identidade e luto.

Em Outubro, estreou, no Cineteatro Louletano, No Meio do Caminho, uma adaptação da obra clássica A Divina Comédia, de Dante Alighieri.

Sugerir correcção
Comentar