China apoia compensação de países por danos climáticos mas não dá dinheiro

China acredita não ter qualquer obrigação de participar na compensação climática. Na Cimeira do Clima no Egipto, admitiu que só o faz por uma questão de solidariedade para com os países vulneráveis.

Foto
O principal negociador climático da China, Xie Zhenhua, falou aos jornalistas na COP27, no Egipto Reuters/MOHAMED ABD EL GHANY

A China está disposta a apoiar um mecanismo de compensação aos países mais pobres por perdas e danos causados ​​pelas mudanças climáticas, afirmou esta quarta-feira o enviado Xie Zhenhua na Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP27), que decorre até 18 de Novembro no Egipto. Mas mais tarde Xie a China esclareceu que não se compromete com nenhum financiamento.

Xie Zhenhua afirmou que a China não tem qualquer obrigação de participar – e só o faz por uma questão de solidariedade para com os países vulneráveis que pedem maior apoio das nações ricas. O enviado chinês sublinhou ainda que a própria China tem sofrido com eventos climáticos extremos.

Depois destas declarações, um porta-voz da delegação chinesa à COP27 esclareceu que a China não contribuiria financeiramente para este mecanismo de perdas e danos. Uma tradução feita pela Reuters do discurso de Xie comprovou que ele não referiu nenhum compromisso financeiro da China, apenas se ofereceu para “cooperar” com os países desenvolvidos.

Recorde-se que a China é considerada um país em desenvolvimento pela Organização Mundial do Comércio, mesmo sendo o país a segunda maior economia do planeta.

No mês passado, o enviado especial dos Estados Unidos (EUA), John Kerry, disse aos jornalistas que a China deveria contribuir com seus próprios fundos para perdas e danos, “especialmente se eles acharem que” continuarão nos próximos 30 anos a aumentar emissões”, citado pelo Politico.

Desavenças com os EUA

Em resposta, Xie ​Zhenhua observou que John Kerry, “um amigo há 25 anos”, não havia levantado essa questão durante conversas informais na COP27 esta semana. E acrescentou que a China já contribuiu com mil milhões de yuans para os países em desenvolvimento investirem em mitigação climática.

Após a visita da presidente da Câmara dos Representantes norte-americana, Nancy Pelosi, a Taiwan em Agosto, a China disse que interromperia todo o diálogo com os EUA sobre o clima. Isto apesar de ter revelado um pacto de acção climática com os Estados Unidos aquando da COP26, realizada em Glasgow no ano passado.

Xie Zhenhua disse ainda que a visita de Pelosi “feriu os sentimentos do povo chinês”, mas observou que as discussões informais e a correspondência pessoal com os delegados dos EUA continuaram.

“A porta está absolutamente fechada (por parte dos EUA)”, disse ele. “Somos nós, China, que estamos a tentar abrir [o diálogo].”

Planos de redução de metano

As discordâncias sino-americanas não param por aí. Num evento separado também realizado esta quarta-feira, Kerry disse que a cooperação com a China é fundamental para limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5 graus Celsius e reiterou a necessidade de trabalhar com Pequim na redução das emissões de metano. Acrescentou que as conversas com a China sobre o clima ainda não estão a resultar e que uma grande sessão de negociaçãoantes da COP27 foi cancelada devido à visita de Pelosi.

O assessor da Casa Branca dos EUA, John Podesta, considera que a China deveria incluir planos de redução de metano no seu pacote de compromissos climáticos formais. “Acho que isso seria bom para o sistema e a integridade do acordo de Paris”, disse Podesta aos jornalistas esta quarta-feira na COP27.

Os planos de metano estão actualmente fora de sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla inglesa). As NDC são as contribuições que cada país faz para cumprir as metas do Acordo de Paris, assinado em 2015.

Sugerir correcção
Ler 8 comentários