Investimento chinês no porto de Hamburgo leva a protestos inéditos na coligação

Olaf Scholz permite participação da Cosco em terminal do maior porto da Alemanha. Verdes e liberais dizem que dá poder à China para instrumentalizar parte da infra-estrutura essencial do país.

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Cargueiro da Cosco descarrega mercadoria no porto de Hamburgo. A empresa vai adquirir uma participação num dos terminais do porto FABIAN BIMMER/Reuters

O Governo alemão autorizou a compra pela chinesa Cosco de 24,5% de um terminal do porto de Hamburgo, o maior da Alemanha, numa decisão do chanceler, Olaf Scholz, que levou a um protesto inédito na coligação do Governo.

O investimento é menor do que os 35% pretendidos pela Cosco num dos três terminais da empresa de logística HHLA no porto de Hamburgo.

A vontade de permitir demasiado investimento chinês na Alemanha diminuiu com a experiência da dependência do gás russo, que levou o Governo a decretar a fase de dois de um plano de emergência do gás com três níveis – o terceiro, e mais grave, implica racionamento. A Alemanha, como outros países na Europa, impôs medidas de poupança de energia para preparar o Inverno e conseguiu assegurar reservas substanciais.

O investimento “aumenta desproporcionadamente a influência estratégica chinesa na infra-estrutura de transportes da Alemanha e da Europa, assim como a dependência alemã da China”, dizia um documento do Ministério dos Negócios Estrangeiros, liderado por Annalena Baerbock, dos Verdes, e que terá tido, segundo a Reuters, contribuições do Ministério da Economia, de Robert Habeck, também dos Verdes, e dos quatro ministérios liderados pelo Partido Liberal Democrata (FDP), do ministro das Finanças, Christian Lindner.

O documento diz que “há riscos consideráveis quando elementos da infra-estrutura de transportes da Europa são influenciados e controlados pela China – enquanto a própria China não permite que a Alemanha tenha participação nos portos chineses”.

A aquisição é anunciada pouco antes de uma viagem de Olaf Scholz à China, que já está a ser vista com desconfiança por vários analistas por incluir uma delegação de empresários, o que é visto como uma declaração de que pouco mudou na relação entre Berlim e Pequim. E além de ser uma questão de segurança, a compra “é ainda um sinal para parceiros importantes – nos EUA, no Indo-Pacífico, na Europa – que estão cada vez mais preocupados com a posição agressiva da China”, escreveu no Twitter o analista Ulrich Speck.

O protesto dos parceiros de coligação de Scholz é o sinal de descontentamento mais forte até agora e surge ainda depois de, ainda na semana passada, o chanceler recorrer a um poder que nenhum chanceler tinha antes usado por escrito para impor uma decisão política sobre a extensão do funcionamento de três centrais nucleares até Abril de 2023, em que tentou fazer um meio-termo entre a posição dos Verdes, que queriam o mínimo funcionamento possível do nuclear com apenas duas centrais, e do FDP, que queria manter as três centrais a funcionar até pelo menos 2024.

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