Clima: para evitar o pior devemos limitar consumo de carne a dois hambúrgueres por semana

Relatório sobre a saúde do planeta diz que, para proteger o ambiente, alguns países devem reduzir o seu consumo de carne para o equivalente a cerca de dois hambúrgueres por semana.

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Autores do relatório reforçam a importância da redução do desperdício alimentar e da transição para dietas mais sustentáveis Rui Gaudencio

Para o mundo evitar as piores previsões respeitantes à crise climática, temos de ser seis vezes mais velozes do que temos sido a cortar com a geração de energia a carvão. Também temos de ser 2,5 vezes mais rápidos a baixar as actuais taxas de desflorestação. E a transição para dietas mais sustentáveis tem ainda de acontecer a um ritmo muito mais acelerado. O ideal era a população da Europa, das Américas e da Oceânia reduzir o seu consumo de carne para o equivalente a cerca de dois hambúrgueres por semana. Resumidamente, é isto que diz o Estado da Acção Climática 2022, um novo grande relatório sobre a saúde do planeta.

Os vários investigadores que assinam esta publicação internacional analisaram os progressos que, nos últimos anos, foram (ou não) feitos relativamente a 40 indicadores que, de alguma forma, remetem para os objectivos traçados no Acordo de Paris. O que concluem não é animador: não há um único indicador com uma avaliação satisfatória, o que leva a sugerir que, se até lá não houver uma reviravolta significativa — o que em alguns casos ainda não é um cenário totalmente irrealista, sublinham os autores do relatório —, o planeta chegará a 2030 numa posição extremamente precária.

Para seis indicadores, o diagnóstico é o de que estamos “na direcção certa”, mas a velocidade da mudança, sendo “promissora”, também está a ser “insuficiente”. Relativamente a 21 outros indicadores, também estamos no bom caminho, mas “bem abaixo do ritmo necessário”. Há ainda cinco indicadores em relação aos quais estamos a caminhar na “direcção totalmente errada” e oito cujo progresso não é avaliável de momento, por insuficiência de dados.

No que diz respeito ao capítulo da agricultura e alimentação, os investigadores referem que as “emissões globais da produção agrícola” aumentaram “cerca de 2% entre 2015 e 2019”. Um dos muitos gráficos do relatório mostra que, em 2019, as emissões decorrentes da actividade agrícola já estavam bem acima dos valores definidos como metas para 2030 e 2050.

Quanto à produção de carne por cada hectare de terreno agrícola, os autores do relatório dizem que esta atingiu um novo valor recorde em 2019. Isto, explicam, é positivo, pois significa — ou pelo menos pode significar — que está a haver uma maior produtividade neste sector. Os investigadores alertam, contudo, que o progresso até agora registado não é suficiente.

Estudos anteriores, que o relatório cita, afirmam que, entre 2001 e 2015 (e sobretudo na América do Sul), “45 milhões de hectares de terrenos florestais foram substituídos por pastagens”. Isto sugere que ainda está a haver uma expansão destas últimas para responder ao “aumento da demanda global de carne no século XXI”.

Além de ser fulcral o sector pecuário aumentar a sua produtividade e eficiência, “o cumprimento das metas climáticas exigirá também a redução do desperdício alimentar e a transição para dietas mais saudáveis e sustentáveis”, o que inclui a “redução do consumo de carne em países muito consumidores”, frisa o relatório.

Apesar de, em muitas das páginas do Estado da Acção Climática 2022, o tom ser de preocupação, há “sinais promissores que indicam que uma mudança acelerada é possível”. Os autores dão o exemplo da energia solar, que vem a ser progressivamente mais produzida.

O jornal britânico The Guardian informa que este relatório será discutido na Cimeira do Clima de 2022 (COP27), que acontece entre 6 e 18 de Novembro em Sharm el-Sheik, no Egipto.

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