Em 2050, mais de 2 mil milhões de crianças estarão expostas a ondas de calor

Unicef pede acção aos políticos para manter o aquecimento do planeta até 1,5 graus e que as crianças sejam preparadas para um mundo com o clima alterado.

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Crianças num campo de refugiados no Quénia, que saíram das suas terras por causa da seca Thomas Mukoya/REUTERS

Hoje, 559 milhões de crianças estão expostas a ondas de calor mais frequentes. Além destas, 624 milhões de crianças estão expostas a um de três outros indicadores utilizados para analisar eventos de calor extremo: ondas de calor mais longas, mais severas ou temperaturas extremas. Mas um novo relatório da Unicef prevê que, até 2050, mais de 2 mil milhões de crianças, a nível global, estarão expostas a ondas de calor mais frequentes.

A crise climática é uma crise de direitos das crianças — e já está a causar danos devastadores na vida e no futuro de muitas crianças”, escreve Catherine Russell, directora-executiva da Unicef, no lançamento do relatório O ano mais frio do resto das suas vidas: proteger as crianças dos impactos crescentes das ondas de calor.

“Uma em cada três crianças já vive em países que enfrentam temperaturas extremamente elevadas e quase uma em cada quatro está exposta a ondas de calor mais frequentes, uma situação que só tenderá a agravar-se” até 2050, diz Catherine Russell. Isso acontece quer se use um cenário de baixas emissões de gases com efeito de estufa, com uma estimativa de 1,7º graus Celsius de aquecimento em 2050, ou um cenário de emissão de gases com efeito de estufa muito elevado, em que se estima uma subida de 2,4 graus Celsius da temperatura média global do planeta.

As crianças são menos capazes de regular a sua temperatura corporal, por isso as ondas de calor são especialmente nocivas para elas, diz o relatório. E, à medida que passam por mais ondas de calor, aumentam as probabilidades de sofrerem problemas de saúde como doenças respiratórias crónicas, asma e doenças cardiovasculares. Os bebés e as crianças pequenas correm um maior risco de morte devido ao calor. As ondas de calor também podem afectar o ambiente, a segurança, a nutrição e o acesso à água, bem como a educação e a subsistência futura das crianças.

“Nos próximos 30 anos, mais crianças serão afectadas por ondas de calor mais longas, mais intensas e mais frequentes, pondo em perigo a sua saúde e bem-estar. O quão devastadoras serão estas mudanças dependerá da acção que tomarmos agora”, apela a directora da Unicef. Até 2050, quase metade de todas as crianças em África e na Ásia estará exposta a temperaturas extremamente elevadas constantes, diz o relatório.

Acompanhe a COP27 no Azul

A Cimeira do Clima das Nações Unidas é o ponto mais alto da diplomacia em torno das alterações climáticas, onde os países discutem como travar as emissões de gases com efeito de estufa que causam o aquecimento global. Este ano é no Egipto, de 6 a 18 de Novembro. Acompanhe aqui a Cimeira do Clima. 

Existem actualmente 23 países com o mais alto nível de exposição infantil a temperaturas extremamente elevadas. Este número aumentará para 33 países em 2050, num cenário de emissões reduzidas, ou para 36 países, num cenário de emissões muito elevadas. Burkina Faso, Chade, Mali, Níger, Sudão, Iraque, Arábia Saudita, Índia e Paquistão estão entre os países que devem permanecer na categoria mais elevada em ambos os cenários.

“No mínimo, os governos devem limitar urgentemente o aquecimento global a 1,5° graus e duplicar o financiamento para a adaptação às alterações climáticas até 2025. Esta é a única forma de salvar a vida e o futuro das crianças, e o futuro do planeta”, apelou Catherine Russell.

“As crises climáticas de 2022 deixaram um forte aviso do perigo crescente que enfrentamos”, disse Vanessa Nakate, activista do clima e embaixadora da Boa Vontade da Unicef. “As ondas de calor são um exemplo claro. Por mais quente que este ano tenha sido em quase todo o mundo, este será provavelmente o ano mais frio do resto das nossas vidas”, escreve no prefácio do relatório.

Vanessa Nakate apela à pressão sobre os líderes políticos: “O termómetro está a subir no nosso planeta e, no entanto, os líderes mundiais ainda não transpiraram. A única opção é continuarmos a pressioná-los para corrigir o curso em que nos encontramos. Os líderes mundiais devem pôr tudo isto em acção na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27) para proteger as crianças em todo o mundo, mas especialmente as mais vulneráveis e as que vivem nos locais mais afectados.”

Sabia que...

Uma onda de calor é qualquer período de três dias ou mais durante o qual a temperatura máxima de cada dia é 10% superior à média local de 15 dias

A Unicef apela aos governos que tomem medidas que protejam as crianças dos danos causados pelas alterações climáticas, adaptando os serviços sociais, de saúde e de água de saneamento; preparem as crianças para a vida num mundo em que o clima está alterado, dando-lhes educação sobre redução dos riscos de catástrofes e competências ecológicas, por exemplo; dêem prioridade às crianças e jovens na atribuição de financiamento para adaptação às alterações climáticas.

“Os países desenvolvidos devem cumprir o compromisso assumido na COP26 de duplicar o financiamento da adaptação para pelo menos 40 mil milhões de dólares por ano até 2025, com o objectivo final de 300 mil milhões de dólares anuais para a adaptação até 2030”, especifica o relatório.

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