Inflação a subir nos EUA abre dúvidas sobre aumento de juros mais agressivo

A inflação subjacente, que exclui a variação de preços de produtos mais voláteis, como a energia e os alimentos, teve a maior escalada em 40 anos.

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Jerome Powell, presidente da Fed, deve anunciar em Novembro nova subida dos juros e a dúvida é a dimensão do aumento EPA/JIM LO SCALZO (Arquivo)

A ideia de que a Reserva Federal dos EUA poderia suavizar aumentos nas taxas de juro deve ter caído por terra. Os dados hoje divulgados mostram que a inflação de Setembro foi de 8,2%, em termos homólogos, o que até representa um ligeiríssimo abrandamento face a Agosto (+8,3%), mas que está a ser interpretado como um mau sinal para a economia por diversos sectores.

A preocupação central está na chamada inflação subjacente, que exclui a variação de preços de produtos mais voláteis, como a energia e os alimentos, e que teve a maior escalada em 40 anos. A variação foi de 6,6%, o que é a subida mais acentuada desde Agosto de 1982.

Isto parece mostrar que as cinco intervenções anteriores da Reserva Federal (Fed) ainda não estão a surtir efeito e que a inflação está a espalhar-se por um conjunto vasto de produtos para além daqueles mais expostos a constantes ou súbitas variações de preços como os combustíveis ou os produtos alimentares frescos.

A Fed já tinha sinalizado a possibilidade de voltar a subir as taxas de juro por mais duas vezes até ao final de 2022. Na reunião de Setembro, quando a taxa subiu mais 0,75 pontos percentuais, a expectativa era a de que a “pressão inflacionista iria persistir no curto prazo. Quando sobe as taxas, a Fed espera “arrefecer” a economia para controlar a inflação, fazendo-a descer. Em Março, a taxa estava no intervalo dos 0%-0,25%. Com cinco subidas desde então, colocou-se no intervalo actual de 3%-3,25%. E não ficará por aqui.

Até hoje, esperava-se novos aumentos em Novembro (+0,75 pontos percentuais) e Dezembro (+0,5 pontos percentuais). No entanto, já há analistas a concluir que os dados hoje revelados abrem espaço para uma dúvida, ou um debate, sobre se a subida em Novembro não será ainda mais pronunciada do que o esperado, com a Fed a optar por um aumento de um ponto percentual em vez dos 0,75.

Os números da inflação, tal como todas estas dúvidas de curto prazo, mexem, pelo menos, com as expectativas imediatas dos investidores. Os que estão no mercado bolsista viram o índice S&P 500 deslizar 2,2%, após a divulgação da taxa de inflação, e o índice tecnológico Nasdaq perdia 2,9%, enquanto o industrial Dow Jones caiu 1,8%. Os três índices alteraram, no entanto, a rota, depois do choque inicial na abertura de Wall Street, e voltaram a terreno positivo.

Também a dívida norte-americana saiu pressionada por estes números da inflação. Segundo agências internacionais, a taxa de retorno da dívida a dez anos dos EUA subiu quase 0,1 pontos para 3,97%, aproximando-se ainda mais dos 4%, um valor que não é atingido desde Abril de 2010. Já a taxa da dívida a dois anos subiu 0,14 pontos, para 4,43%.

Os dados desta quinta-feira também influenciam a luta política nos EUA, que vai às urnas a 8 de Novembro para escolher a Câmara de Representantes e 35% dos lugares do Senado. Neste momento, os democratas têm uma vantagem de nove mandatos na Câmara dos Representantes, enquanto no Senado há um empate de mandatos (50-50), que é desfeito com o voto da Vice-Presidente, Kamala Harris.

Para o Presidente Joe Biden, o desafio é manter o controlo do Congresso, mas se a inflação tiver mais influência do que o nível baixo de desemprego, o Partido Democrata pode ter uma vida mais difícil nesse objectivo. “Os preços estão muito altos”, reconheceu Biden, numa declaração citada pela Reuters. “Combater esta inflação global que afecta muitos países e muitas famílias de trabalhadores aqui nos EUA é a minha prioridade.”

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