Durão Barroso elogia governo de Passos por ultrapassar pré-bancarrota com “grande dignidade”

Antigo presidente da Comissão Europeia levantou o véu sobre os bastidores da política europeia durante a apresentação do livro “Diplomacia em tempos de troika”.

Foto
Durão Barroso assumiu que acompanhou "dilacerado" o programa da troika LUSA/TIAGO PETINGA

Perante alguns dos protagonistas da época em que Portugal teve intervenção da troika, o antigo presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso deu o seu testemunho sobre a forma de actuar da Alemanha no contexto da União Europeia e, como português, saudou o Governo de Passos Coelho por ter ultrapassado a “com grande dignidade” e sem “humilhação” a situação de quase bancarrota.

O antigo primeiro-ministro falava esta tarde na apresentação do livro Diplomacia em tempos troika, do embaixador Luís de Almeida Sampaio em Berlim, com prefácio de Pedro Passos Coelho, que esteve ausente da sessão por morte de um familiar próximo.

Durão Barroso assumiu que, enquanto português, acompanhou “dilacerado”, a execução do programa de ajustamento a Portugal entre 2011 e 2014. “Portugal, graças ao governo liderado por Pedro Passos Coelho conseguiu ultrapassar a situação com grande dignidade, nunca se pôs numa situação de humilhação perante os seus credores”, disse, perante uma plateia onde estavam antigos ministros daquele Governo, como Maria Luís Albuquerque, Jorge Moreira da Silva, Nuno Crato e Paulo Macedo.

O antigo presidente da Comissão Europeia, assumindo que a sua “sinceridade aumenta a cada dia” desde que já não exerce aquele cargo, deu alguns detalhes sobre a forma como a Alemanha exerce o seu “interesse nacional” e sobre como a antiga chanceler Angela Merkel tinha constrangimentos nas suas decisões, a começar pelo sistema alemão complexo. “A Alemanha é um grande navio que demora tempo a mudar de rota, mas quando muda, muda mesmo”, disse, apontando o exemplo actual do pós-invasão da Ucrânia, quando Berlim suspendeu as importações de gás e determinou o envio de armamento para aquele país.

“[Merkel] tinha de convencer o seu partido, a coligação, o Budestag (Parlamento) e o Tribunal Constitucional alemão”, contou, lembrando que acontecia o oposto em França, o que levou o então presidente francês Nicolas Sarkozy, numa reunião informal, a admitir ter um “Parlamento mais fácil mas um povo difícil”. Assumindo que a União Europeia não estava preparada para a crise das dívidas soberanas, Durão Barroso recordou que havia o entendimento, nomeadamente da Alemanha, de que os resgates não eram possíveis. “As pessoas esquecem-se, mas não podia haver programas de bailout. Que era contra os tratados, era o entendimento da Alemanha”, disse.

Apesar de ainda ser “cedo” para assumir alguns acontecimentos da altura, Durão Barroso revelou que na Comissão Europeia gerava-se impaciência pela demora de resposta da Alemanha ou por ser taxativa como aconteceu no caso dos eurobonds. Só agora, em resposta à pandemia, foi possível a mutualização da dívida, referiu o antigo primeiro-ministro do PSD.

Sobre a sobrevivência do euro, Durão Barroso considerou que a “vontade política da Alemanha” foi subestimada assim como a de outros países, incluindo Portugal e Grécia. “Mesmo pagando um preço elevadíssimo, a Grécia queria ficar no euro”, disse, revelando que a preocupação do ex-presidente norte-americano Barack Obama era se a Alemanha acreditava numa “unidade política” da Europa. Porque isso, concluiu o antigo primeiro-ministro, significava existir “solidariedade”.

Sugerir correcção
Ler 12 comentários