Prolongar prazo do PRR? Cada Governo que faça o trabalho de casa, defende Durão Barroso

O antigo presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro discorda a europeização dos fracassos e da nacionalização dos sucessos.

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Durão Barroso fala sobre a PRR e a guerra na Ucrânia Daniel Rocha

O antigo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, defende que os governos não devem abdicar das suas responsabilidades na execução de programas financiados com fundos europeus. Embora não querendo falar directamente sobre o pedido feito por Portugal para prologar para lá de 2026 a execução do Plano de Recuperação e Resiliência, o antigo primeiro-ministro argumenta que cada governo deve fazer o trabalho de casa e não procurar pretextos.

Depois de um longa intervenção feita no encerramento do segundo dia da escola de Verão da representação da Comissão Europeia em Portugal, em que abordou os principais temas da actualidade internacional, Durão Barroso falou aos jornalistas mas recusou falar do pedido feito pelo Governo português para que o órgão executivo comunitário prolongue o prazo de execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) além de 2026.

Ainda assim, e falando em abstracto sobre este assunto, Durão explica não ter “dados para responder” sobre a viabilidade de tal prolongamento, mas afirma não ser contra a ideia: “Se puder ser feito, não vejo porque não.”

Contudo, o antecessor de Jean-Claude Juncker como presidente da Comissão vinca discordar de uma tendência muitas vezes observada ao nível da União Europeia e que passa pela europeização dos fracassos e nacionalização dos sucessos.

“Se a Europa não deve abdicar das suas responsabilidades, os governos também não. Os governos têm a tendência para quando não estão a fazer as coisas bem feitas, pôr a responsabilidade na Europa. Cada governo tem de fazer o seu trabalho de casa. Europeizar o fracasso e nacionalizar o sucesso é algo com que não concordo. Cada governo que faça o trabalho de casa e não procure pretextos”, defende.

“É uma ilusão pensar que [Putin] vai aceitar uma derrota”

Sobre a guerra na Ucrânia, o ex-primeiro-ministro avisa que “só estamos no início de uma crise muito mais funda”. “Não estou a ver o desfecho desta situação. Não estou a ver um desfecho no curto nem no médio prazo”, afirma num tom pessimista.

De qualquer forma, Durão está satisfeito com a forma como a UE tem vindo a reagir ao conflito militar, considerando que aprendeu com os erros cometidos aquando da crise financeira internacional, quando o próprio liderava o órgão executivo comunitário.

“Até agora a Europa reagiu com força e determinação. [Vladimir] Putin não estava à espera” nem da resistência da Ucrânia, nem do Ocidente. Considerando que a Europa tem estado “muito bem”, Durão sinaliza a “grande coragem” demonstrada pela União e sublinha acreditar que “a Europa se faz nas crises”.

Já relativamente à capacidade da Europa e dos europeus para aguentarem os efeitos económicos e sociais decorrentes da guerra, em especial em matéria energética num Inverno que se antecipa difícil, Durão antevê dificuldades mas está optimista. A Europa vai aguentar? “Acho que sim, mas vai ser difícil”, responde.

Por outro lado, Durão afasta a ideia de que o presidente russo possa aceitar um desfecho para o actual conflito que configure alguma espécie de derrota. “Daquilo que conheço de Putin, e estive muitas vezes com ele, é uma ilusão pensar que ele vai aceitar uma derrota”, declara, não afastando mesmo uma generalização do conflito.

“Vamos ver como será, a Rússia ainda tem muitos meios que não utilizou. Tenho também receio que isto se possa generalizar.”

Durão Barroso abordou ainda as eleições presidenciais angolanas, sustentando que “antes de comentar resultados temos de pensar que houve eleições” pois “houve tempos em que Angola foi um regime de partido único”. “Ainda bem que houve eleições.”

“Havendo contestação [aos resultados eleitorais] espero que seja resolvido de acordo com as vias institucionais previstas”, remata.

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