Membros da UNITA na Comissão Eleitoral demarcam-se dos resultados já anunciados

Autoridades “em prontidão” para lidar com qualquer “situação anormal” de “alterações da ordem”, garante o ministro do Interior angolano. Declarações dos membros da CNE surgem depois de a UNITA ter recusado reconhecer os resultados oficiais.

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O MPLA já reivindicou a vitória, com base nos resultados provisórios SPHIWE SIBEKO/Reuters

Os comissários da UNITA que integram a Comissão Nacional Eleitoral angolana recusam associar-se aos resultados já anunciados entre quinta e sexta-feira. Angola foi a votos na quarta-feira: tendo em conta os resultados oficiais, o Presidente, João Lourenço, já agradeceu aos angolanos, enquanto o principal partido da oposição garante que “o MPLA não ganhou as eleições”.

“Demarcamo-nos de todos os actos que visam subverter o direito e a lei e que comprometem a seriedade do processo eleitoral e colocam em risco a vontade soberana dos eleitores”, afirmou a comissária Maria Pascoal numa conferência de imprensa este sábado à tarde. Os membros da UNITA na CNE denunciaram as “constantes violações da lei” que apontam à Comissão neste processo. Por tudo isto defendem que a CNE “deveria ter a noção exacta das suas responsabilidades e do papel que lhe reserva a Constituição”.

Entre as falhas e irregularidades apontadas, os comissários que pertencem ao partido de Adalberto Costa Júnior referem o facto de só existir um centro nacional de escrutínio de votos e de parte do processo ter ficado a cargo da empresa espanhola Indra. “A escassas horas ou dias da publicação dos resultados definitivos das eleições, os comissários [da UNITA] manifestam o seu descontentamento pelo facto de os resultados provisórios terem sido alvo de aproveitamento político”, acrescentou Maria Pascoal.

Segundo a última contabilização oficial divulgada, com 97,03% dos votos escrutinados, o MPLA (partido no poder desde a independência em 1975) obteve 51,07% e 124 mandatos, enquanto a UNITA reuniu 44,05% e elegeu 90 deputados (três formações mais pequenas elegeram os restantes seis deputados). Mas a UNITA não reconhece estes dados: “Não existe a menor dúvida em afirmar que o MPLA não ganhou as eleições de 24 de Agosto”, disse na sexta-feira o presidente do partido, e candidato à presidência, Adalberto Costa Júnior.

Como os outros partidos, a UNITA está a realizar a sua própria contagem a partir das actas síntese (que têm o resultado somado de todas as mesas em cada assembleia de voto) – as mesmas que terão sido usadas na contagem oficial. Sem terem ainda terminado a contagem, os dirigentes da frente unida que concorreu sob a bandeira da UNITA apontam discrepâncias “brutais” que conduziriam obrigatoriamente a um resultado final diferentes. Por isso, afirmou Adalberto Costa Júnior, “a direcção da UNITA desafia a Comissão Nacional Eleitoral, em nome da verdade, a aceitar a estruturação de uma comissão de inquérito com participação internacional para ser feita a comparação entre as actas síntese em posse da CNE com as actas síntese em posse dos partidos políticos”.

Na província do Moxico, por exemplo, a contagem da CNE, com 95,2% dos votos contados, atribuía 45.058 votos à UNITA; já a contagem do partido, com apenas 79% das actas escrutinadas, vai em 61.378. Na prática, isto significaria a eleição de pelo menos mais um deputado pela oposição.

Ainda na sexta-feira, o líder da oposição pediu “serenidade” e paciência aos angolanos. Este sábado foi a vez do ministro do Interior, Eugénio Laborinho, fazer um apelo semelhante. “Temos de aceitar os resultados que a Comissão Nacional Eleitoral anunciou. É hábito e acontece sempre, quem perde nunca aceita os resultados, eu só apelo a que haja serenidade, haja acalmia, haja ponderação porque nós estamos aqui para garantir a ordem e segurança pública”, sublinhou, questionado pelos jornalistas durante as cerimónias fúnebres do ex-presidente, José Eduardo dos Santos.

O ministro garantiu ainda que não há preocupações quanto a tensões na rua “porque as forças estão em prontidão”, e garantiu que haverá intervenção policial em qualquer “situação anormal”. “Sem haver eleições, já havia alterações da ordem, agora neste momento em que estamos é possível que haja, mas estamos prontos para responder”, reforçou. Uma manifestação convocada para sábado na Praça 1.º de Maio acabou por não acontecer, mas há relatos de detenções ainda sem confirmação oficial.

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