Em Lisboa, os brasileiros pintaram de vermelho a Cidade Universitária em apoio a Lula da Silva

“Violência, assaltos e pobreza”. Foi assim que vários eleitores descreveram os quatro anos do actual chefe de Estado, Jair Bolsonaro, no dia de eleições, junto à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Lula da Silva e Bolsonaro são os favoritos, mas a “esperança” é que o ex-Presidente regresse ao poder na primeira volta.

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Vários eleitores brasileiros vestiram vermelho em apoio ao antigo presidente, Lula da Silva Nuno Ferreira Santos
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O antigo Presidente Lula da Silva e o actual chefe de Estado, Jair Bolsonaro, surgem destacados nas sondagens Nuno Ferreira Santos
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Em Lisboa, são 45.273 os eleitores que votam nas eleições presidenciais deste ano Nuno Ferreira Santos

Às 10h30 deste domingo formava-se já uma longa fila de brasileiros residentes em Portugal, na Cidade Universitária. As primeiras pessoas chegaram muito antes das 8h, a hora marcada para a abertura das mesas. A partir das 5h, já havia eleitores à porta da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, ansiosos por poderem escolher o próximo Presidente do Brasil.

À medida que nos aproximamos da Cidade Universitária, as ruas ficam mais coloridas. Amarelo, verde e vermelho são as principais cores das roupas dos eleitores. Judite Primo, de 50 anos, e Marcos Pinheiro, de 64, vestem-se a rigor. Os dois professores, que vivem em Lisboa há mais de 30 anos, usam vermelho, a cor do Partido dos Trabalhadores (PT), para demonstrarem o apoio ao antigo Presidente Lula da Silva. E não são os únicos. Apesar do medo de expressar a posição política, Judite Primo explica que foram vários os movimentos de esquerda que decidiram voltar a usar esta cor e a apropriar-se dos símbolos nacionais. Houve quem usasse a bandeira LGBT+, o vermelho, a bandeira do Brasil, frases feministas e o nome de Marielle Franco — uma política do Partido Socialismo e Liberdade assassinada em Março de 2018.

André Arpino, de 29 anos, posa para a foto com uma bandeira de Lula da Silva ao pescoço. O jovem descreve os quatro anos da presidência de Jair Bolsonaro como uma ameaça à democracia e uma violação aos direitos humanos.

“Violência, assaltos e pobreza” é a situação actual do Brasil, conta Ana Fontes, de 43 anos, ao PÚBLICO. Quando visitou o país onde cresceu, em Junho deste ano, deparou-se com um cenário “muito triste”. “As crianças do Brasil vão ser a nova geração de novos criminosos do meu país.”

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A grande afluência que se regista em Lisboa reflecte o aumento superior a 100% no número de eleitores aptos para votar na capital, onde se situa o consulado que regista o maior número de inscritos fora do Brasil: só aqui são 45.273, num total de 80.896 eleitores brasileiros que votam nestas presidenciais, num universo de 250 mil cidadãos que residem em Portugal. Em 2018, estavam registados na cidade 21 mil, e havia 40 mil eleitores no país, explicou Wladimir Valler Filho à Agência Lusa.

Angústia interna

Com o passar do tempo, os eleitores vão ficando mais animados. Em frente à entrada da faculdade, ouvem-se gritos e aplausos por Lula da Silva e, ainda ao longe, percebe-se que há uma trombeta a tocar o hino do Brasil. Uma única voz clama por Bolsonaro, mas recusa-se a falar por não acreditar na imprensa.

Sem receio de partilhar o apoio a Jair Bolsonaro, Cristiana Oliveira, de 50 anos, diz ser um “desastre” e não “ter palavras” para o possível regresso de Lula, devido ao seu “histórico político e a tudo o que fez ao país”.

Em relação ao ano passado, houve um aumento do reforço de segurança da PSP e também privada nos locais de votação e nas áreas envolventes. Em Lisboa, o acto eleitoral ocupa 33 salas da Faculdade de Direito, distribuídas por três pisos e há 58 meses de voto. Por esta razão, no local onde se vota, o ambiente é de calma. Não há confusão. Mas a angústia interna é muita, partilha Vanessa Superchi, 42 anos. “Estou muito nervosa pelos meus pais no Brasil e a minha família, que está a viver um momento muito histórico.”

Vanessa acredita que o presidente Jair Bolsonaro foi “o pior líder que o Brasil já teve”. Aumentou as desigualdades que já eram sentidas no país, facilitou o armamento da população brasileira, não conseguiu proteger os cidadãos durante a pandemia, independentemente das suas convicções pessoais e separou os brasileiros.

“Bolsonaro enalteceu a liberdade de expressão em detrimento do respeito” pelo outro, diz Fernando Freitas, de 41 anos. Em 2020, Fernando mudou-se para Portugal com o marido, Robson Omena, 55 anos, dois anos depois da eleição de Jair Bolsonaro. Sabiam que havia uma política de ódio voltada para a comunidade LGBT+ que o actual presidente promove e viram Lisboa como um lugar seguro. Não têm planos para voltar. “Cada vez mais percebemos que esta mudança foi certa.” Vieram votar pela família e os amigos que permanecem no Brasil.

A esperança dos eleitores ouvidos pelo PÚBLICO é que Lula da Silva vença na primeira volta. Mas os resultados desta eleição preocupam Fernando e Robson. “Vai existir mais divisão, raiva e revolta.” Acreditam que Bolsonaro poderá agir tal como Donald Trump após os resultados das eleições presidenciais dos Estados Unidos. No dia 6 de Janeiro, houve uma invasão do Capitólio. Consideram a ameaça de golpe “bem possível”.

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