À medida que as contas do supermercado sobem, a fome pode selar o destino de Bolsonaro

Um em cada três brasileiros diz enfrentar dificuldades para alimentar a família.

Lucas Saraiva, 27 anos, Kellen Saraiva, 9, Maria Saraiva, 2, e Eduarda Saraiva, 10, comem a única refeição do dia Reuters/DIEGO VARA
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Lucas Saraiva, 27 anos, Kellen Saraiva, 9, Maria Saraiva, 2, e Eduarda Saraiva, 10, comem a única refeição do dia Reuters/DIEGO VARA

A inflação galopante e a pandemia empurraram os brasileiros para a fome: um em cada três diz ter dificuldades em alimentar a família. E isso está a afectar a popularidade de Jair Bolsonaro: as sondagens mostram que o apoio dado ao actual Presidente do Brasil está a estagnar, ou a diminuir, entre os brasileiros mais pobres.

Alguns beneficiários do programa de ajuda à alimentação do país, entrevistados pela Reuters, dizem estar a considerar o voto em Lula da Silva que, durante os anos de mandato, teve um papel importante na redução da fome e pobreza.

Nas favelas, as famílias passam fome: "Nós somos os que ficam esquecidos. Não há almoço, hoje", diz Monica, que vive na favela do Arco-Íris. No centro de São Paulo, Carla Marquez vive num quarto pago por uma igreja, com o marido e a filha: "Não compramos comida há séculos. Os preços são absurdamente altos. Não tenho nada para dar à minha filha", diz, em lágrimas. 

Há oito anos, o Brasil atingiu, antes do tempo previsto, o objectivo das Nações Unidas para a eliminação da malnutrição que se espalhava pelo país. Desde então, nos últimos 12 meses, aumentou em 36% o número de brasileiros que diz não conseguir alimentar a família. Mais de 33 milhões de brasileiros dizem não conseguir comer uma refeição todos os dias, segundo um inquérito da Rede PENSSAN, que foi muito critica pelo ministro da Economia, Paulo Guedes: "É mentira. É falso".

As eleições brasileiras realizam-se este domingo, 2 de Outubro. Entre a fome, as armas e os ataques à credibilidade do sistema eleitoral, o Brasil prepara-se para decidir nas eleições centradas em duas figuras, onde a palavra-chave é "polarização". 

Thawanny e Rafael Silva de Souza, de seis e nove anos, almoçam arroz, feijão e ovo, na favela do Arco-Íris, no Recife
Thawanny e Rafael Silva de Souza, de seis e nove anos, almoçam arroz, feijão e ovo, na favela do Arco-Íris, no Recife Reuters/UESLEI MARCELINO
Luciana Messias dos Santos, de 29 anos, posa para uma foto em frente ao frigorífico vazio. "As pessoas dizem que Bolsonaro está ajudando. Mas ele dá e depois tira. Foi muito melhor com Lula", diz. Na sua barraca de madeira na Estrutural, a maior favela de Brasília, Luciana teve de adaptar o fogão para cozinhar com lenha, porque o gás é muito caro
Luciana Messias dos Santos, de 29 anos, posa para uma foto em frente ao frigorífico vazio. "As pessoas dizem que Bolsonaro está ajudando. Mas ele dá e depois tira. Foi muito melhor com Lula", diz. Na sua barraca de madeira na Estrutural, a maior favela de Brasília, Luciana teve de adaptar o fogão para cozinhar com lenha, porque o gás é muito caro Reuters/ADRIANO MACHADO
O almoço de Thawanny Silva de Souza
O almoço de Thawanny Silva de Souza Reuters/UESLEI MARCELINO
Carla Marquez, 36 anos, grávida de seis meses, chora ao falar sobre os preços da gasolina e dos alimentos. Marquez e a família moram num quarto pago por uma igreja e lutam para alimentar a filha. "Não compramos comida há séculos. Os preços são absurdamente altos. Não tenho nada para lhe dar", diz, em lágrimas
Carla Marquez, 36 anos, grávida de seis meses, chora ao falar sobre os preços da gasolina e dos alimentos. Marquez e a família moram num quarto pago por uma igreja e lutam para alimentar a filha. "Não compramos comida há séculos. Os preços são absurdamente altos. Não tenho nada para lhe dar", diz, em lágrimas Reuters/AMANDA PEROBELLI
Luciana Messias dos Santos, 29 anos, com o filho. Usa lenha para cozinhar no exterior da sua casa, na favela da Estrutural, em Brasília
Luciana Messias dos Santos, 29 anos, com o filho. Usa lenha para cozinhar no exterior da sua casa, na favela da Estrutural, em Brasília Reuters/ADRIANO MACHADO
Elvira de Fátima Saraiva, 57 anos, prepara o jantar, a única refeição do dia da família, em Porto Alegre. Elvira, viúva, é responsável por uma família de 22 pessoas. Apenas consegue preparar uma refeição por dia. Alimenta a família à noite, para que "as crianças não durmam com fome", diz
Elvira de Fátima Saraiva, 57 anos, prepara o jantar, a única refeição do dia da família, em Porto Alegre. Elvira, viúva, é responsável por uma família de 22 pessoas. Apenas consegue preparar uma refeição por dia. Alimenta a família à noite, para que "as crianças não durmam com fome", diz Reuters/DIEGO VARA
Vista da favela Brasília Teimosa, no Recife
Vista da favela Brasília Teimosa, no Recife Reuters/UESLEI MARCELINO
Maria José com o almoço: uma tigela de arroz. Vive na favela Arco-Íris, Recife
Maria José com o almoço: uma tigela de arroz. Vive na favela Arco-Íris, Recife Reuters/UESLEI MARCELINO
Luciana Messias dos Santos, 29 anos, alimenta o filho de dez meses, que está sentado no colo do seu marido, Felipe dos Santos, 26 anos. Vivem na favela Estrutural, em Brasília
Luciana Messias dos Santos, 29 anos, alimenta o filho de dez meses, que está sentado no colo do seu marido, Felipe dos Santos, 26 anos. Vivem na favela Estrutural, em Brasília Reuters/ADRIANO MACHADO
Carla dos Santos Feliciano, 38 anos, empurra um carrinho com frutas e legumes doados por comerciantes no centro de abastecimento da CEASA, no Rio de Janeiro
Carla dos Santos Feliciano, 38 anos, empurra um carrinho com frutas e legumes doados por comerciantes no centro de abastecimento da CEASA, no Rio de Janeiro Reuters/PILAR OLIVARES
Carla dos Santos Feliciano, 38 anos, vasculha alimentos deitados fora, na esperança de encontrar algo comestível para cozinhar
Carla dos Santos Feliciano, 38 anos, vasculha alimentos deitados fora, na esperança de encontrar algo comestível para cozinhar Reuters/PILAR OLIVARES
Izabela dos Santos, de dois anos, come uma refeição feita com comida que a mãe, Carla dos Santos Feliciano, 38, encontrou num caixote do lixo
Izabela dos Santos, de dois anos, come uma refeição feita com comida que a mãe, Carla dos Santos Feliciano, 38, encontrou num caixote do lixo Reuters/PILAR OLIVARES
Carla Marquez, 36 anos, grávida de seis meses, o marido, Carlos Henrique Mendes, 25, e a filha, Gabriela, 5, moram em São Paulo. Marquez e a família vivem num quarto pago por uma igreja e lutam para alimentar a filha. "Não compramos comida há séculos. Os preços são absurdamente altos. Não tenho nada para dar a ela", diz, em lágrimas
Carla Marquez, 36 anos, grávida de seis meses, o marido, Carlos Henrique Mendes, 25, e a filha, Gabriela, 5, moram em São Paulo. Marquez e a família vivem num quarto pago por uma igreja e lutam para alimentar a filha. "Não compramos comida há séculos. Os preços são absurdamente altos. Não tenho nada para dar a ela", diz, em lágrimas Reuters/AMANDA PEROBELLI
Carlos Henrique Mendes, 25 anos, a esposa, Carla Marquez, 36, grávida de seis meses, e a filha Gabriela, 5
Carlos Henrique Mendes, 25 anos, a esposa, Carla Marquez, 36, grávida de seis meses, e a filha Gabriela, 5 Reuters/AMANDA PEROBELLI
Elvira de Fátima Saraiva, 57 anos, e os filhos Marcio, 34, e Yuri, 21, apanham lixo em Porto Alegre
Elvira de Fátima Saraiva, 57 anos, e os filhos Marcio, 34, e Yuri, 21, apanham lixo em Porto Alegre Reuters/DIEGO VARA