A declaração de Putin “não vai mudar nada”

Reacções da Europa e Estados Unidos mostram apoio continuado à Ucrânia e condenação da declaração de anexação russa. EUA e Reino Unido anunciam mais sanções. NATO repete que “não faz parte deste conflito”.

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O Presidente dos EUA, Joe Biden, declarou que as acções de Putin significam que está com problemas Yuri Gripas/EPA

As reacções de Bruxelas, de outras capitais europeias, e de Washington ao discurso de Putin vieram em catadupa mas quase em uníssono: a declaração de anexação é ilegal e não tem qualquer valor, não mudando nada em termos legais ou no terreno, disseram. O apoio em termos de envio de armas à Ucrânia vai continuar, e houve anúncios de mais sanções à Rússia por este anúncio de anexação ilegal.

Do lado da NATO, o secretário-geral Jens Stoltenberg reagiu ao pedido de adesão da Ucrânia dizendo que a Aliança mantém a porta aberta, mas que o “foco imediato é o apoio à Ucrânia para se defender da invasão brutal da Rússia”, com o limite do envolvimento directo da Aliança Atlântica: “A NATO não faz parte deste conflito”, repetiu. Os países da Aliança Atlântica não têm intenção de desencadear nenhuma acção que resulte no seu envolvimento directo no conflito na Ucrânia e, consequentemente, num confronto militar com a Rússia, já disse várias vezes o secretário-geral.

Uma adesão da Ucrânia à NATO implicaria esta participação directa na guerra. Assim, o pedido feito pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi encarado como uma afirmação política mais do que uma hipótese realizável. Além da oposição da aliança a participar directamente no conflito, há a questão de na prática, o país não cumprir os critérios de adesão (ao contrário do exemplo invocado por Zelensky da Suécia e Finlândia, que têm Forças Armadas alinhadas com os standards operacionais da NATO e que cumprem a fasquia dos 2% do PIB em despesa militar).

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A Rússia anexou formalmente, esta sexta-feira, quatro novas repúblicas, Donetsk, Lugansk, Zaporijjia e Kherson, anunciou Vladimir Putin, num discurso que começou às 15h em Moscovo (13h em Portugal) e durou mais do que meia hora.

Reuters,Joana Gonçalves

Da União Europeia, o Conselho Europeu demorou pouco a publicar uma declaração rejeitando a anexação ilegal. Os governos da UE acusam a Rússia de ter “violado deliberadamente a ordem internacional baseada em regras e violar de modo flagrante o direito fundamental da Ucrânia à independência, soberania, e integridade territorial, princípios fundamentais consagrados na Carta das Nações Unidas e na lei internacional” e de com isto “pôr em risco a segurança global”.

Quanto aos pretensos referendos, “não reconhecemos e não vamos nunca reconhecer” as falsas consultas feitas “como pretexto para mais uma violação da independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia”.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reagiu no Twitter dizendo que a anexação decretada pelo Presidente russo “não vai mudar nada”.

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O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou que “as acções de Putin são um sinal de que está com problemas”, e que os Estados Unidos não vão reconhecer nunca os territórios anexados como sendo parte da Rússia.

Os Estados Unidos, assim como o Reino Unido, reagiram à declaração de anexação anunciando novas sanções. Dos Estados Unidos, foram incluídas mais de mil pessoas e empresas ligadas à invasão da Ucrânia, sendo uma delas a governadora do Banco Central, Elvira Nabiullina, antiga conselheira de Putin, que o Financial Times diz que em privado não terá apoiado a invasão, mas que tem um papel essencial para que a economia russa fosse o menos afectada possível face às sanções.

Mais, os Estados Unidos também lançaram um aviso a outros países que apoiem o esforço de guerra da Rússia, diz a Reuters. “Os controlos actuais de exportação dos Estados Unidos à Rússia podem ser aplicados a entidades em países terceiros que tentem dar apoio material aos sectores industriais e militares da Rússia e da Bielorrússia.”

A governadora do Banco Central também está na lista das novas sanções do Reino Unido, que irá ainda restringir o acesso da Rússia a serviços comerciais e de transacções do Reino Unido, segundo o diário The Guardian, e proibir exportações de cerca de 700 tipos de bens que são essenciais para produção industrial.

A primeira-ministra, Liz Truss disse que não pode ser permitido a Putin “alterar fronteiras internacionais usando força bruta”. Da sua parte, o Reino Unido “vai assegurar-se de que ele perde esta guerra ilegal”, e o seu antecessor, Boris Johnson, fez uma curta declaração no Twitter dirigindo-se a Putin. “O mundo nunca vai aceitar os referendos falsos e a tentativa cruel e ilegal de colonizar a Ucrânia.”

A próxima primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, do partido pós-fascista Irmãos de Itália, criticou Putin, dizendo que este “demonstrou mais uma vez a sua visão de tipo soviético e neo-imperialista que ameaça toda a segurança de todo o continente europeu”. Meloni venceu as eleições numa aliança com dois partidos liderados por apoiantes de Putin: Matteo Salvini e Silvio Berlusconi.

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