Marguerite foi filha única, agora tem 101 bisnetos

Aos 99 anos, Marguerite conta com 11 filhos, 56 netos e 101 bisnetos. “Adorei tê-los e ter tantas pessoas à minha volta”, conta sobre os filhos.

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Marguerite “Peg” Koller com a sua família em 2010. Hoje é muito mais extensa Family Photo/The Washington Post

A vida como filha única foi, para Marguerite “Peg” Koller, algo solitária. “Tinha de sair de casa para encontrar crianças com quem brincar”, relembra aos 99 anos, que cresceu em Filadélfia, EUA, e agora vive no condado de Montgomery, no estado norte-americano da Pensilvânia. “Queria mesmo ter irmãos.”

Mais do que apenas um irmão ou irmã, ela ansiava por uma família numerosa. Assim, quando chegou a altura de começar a sua própria ninhada, Marguerite adoptou uma mentalidade de “quantos mais, melhor”. Com William, o marido que vinha de uma fratria de quatro, Marguerite teve 11 filhos, 56 netos e, desde de 19 de Setembro, 101 bisnetos. “É fantástico”, afirma Marguerite, que é chamada de “avó” pelos bisnetos.

Marguerite tem boas recordações de ser uma jovem mãe. “Olho para trás, e não me lembro que tenha sido difícil”, relembra, apesar de haver caos, reconhece. Ainda assim recorda que a excepção possa ter sido, “talvez”, vestir os filhos e prepará-los para chegar à igreja a tempo. Mas as pequenas lutas foram uma bela troca por ter uma casa cheia, defende. “Adorei tê-los e ter tantas pessoas à minha volta”, conta, acrescentando que os seus 11 filhos nasceram num período de 19 anos.

Uma freira perdida

Antes de se casar, Marguerite sentiu o chamamento de Deus. A certa altura, quase se tornou freira. Na adolescência, candidatou-se para entrar para o convento e foi aceite. Apesar da sua esperança em ter uma grande família, sentiu que tinha uma vocação, revela a católica, que mantém a sua fé.

Foi a sua mãe e o então namorado, que mais tarde se tornou seu marido — morreu depois de 66 anos de casamento —, que a convenceram a casar e, em retrospectiva, Marguerite está contente por terem insistido com ela. A sua família, conta, é a sua maior fonte de orgulho.

Em 1942, Marguerite casou com William Koller, um veterano da Segunda Guerra, que morreu em 2008. Juntos criaram a Funerária Koller, em Filadélfia, que ainda hoje existe e é gerida por vários membros da família.

De início, o casal não sabia quantos filhos queria mas, quando começou, não parou. “Nós simplesmente continuámos”, lembra a quase centenária, acrescentando que a sua vida nunca mais foi solitária.

Os filhos, por seu turno, adoraram viver numa casa cheia, onde não faltou acção e entretenimento.

“Foi uma experiência óptima crescer na nossa família”, conta Chris Kohler, 60 anos, que foi a nona a nascer e que casou com um homem com o mesmo apelido, embora escrito de forma diferente. “Mesmo agora, que somos todos crescidos, continuamos a ser grandes amigos.”

Ter os pais, de mão firme, como modelos a seguir aproximou os irmãos, afirma. “Eles tinham uma relação tão boa”, conta a mulher, explicando que dividiam as tarefas domésticas igualmente, incluindo cozinhar e limpar. “Trabalhavam de mãos dadas no negócio da família e em casa”, acrescenta.

“Tinham sempre de estar juntos, sempre de mãos dadas”, continua. “Tinha esperança de encontrar algo assim para mim.” Chris não só queria imitar a relação dos pais, como queria a energia e a plenitude da sua casa de infância.

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Marguerite com o marido William, no início da década de 1940 Family photo

“Tínhamos tantos irmãos e irmãs por perto com quem brincar e ajudar-nos. Isso marcou-me e, por isso, sempre quis ter uma grande família”, lembra a mulher que teve seis filhos e, até agora, 14 netos.

Número de filhos acima da média

Também os seus irmãos tiveram um número de filhos acima da média. A taxa de fertilidade nos Estados Unidos é de 1,78 nascimentos por mulher e a maioria dos 11 irmãos Koller teve mais de cinco filhos.

O mindset de ter muitos filhos passou para a geração seguinte. Greg Stokes, 41 anos, neto de Marguerite, é pai de quatro raparigas. “Vindo de uma grande família, sempre quis pessoas por perto”, justifica. Tem oito irmãos e irmãs. “Penso que todos na minha família queriam ter vários filhos por causa da energia e da excitação.”

Embora seja um dos 56 netos, Greg, que também vive no condado de Montgomery, desenvolveu facilmente uma ligação estreita com ambos os avós. Tem memórias vivas de ter frequentado um clube de natação local com os seus avós e primos no Verão, o mesmo aonde leva suas filhas com frequência.

“Todos tiveram sempre uma relação muito próxima com a avó e o avô e, realmente, um com o outro”, continua Greg, acrescentando que ele e o seu primo viveram juntos na faculdade. “Tínhamos dormidas na casa da avó e do avô e, todas as vésperas de Natal havia uma grande festa.”

A vida traz desafios nem sempre fáceis como a morte de um irmão aos 12 anos e Greg defende que o facto de ter inúmeras pessoas em quem se pôde apoiar durante o seu luto, tornou a dor mais fácil de suportar. “Tem sido, definitivamente, uma experiência muito única”, revela Greg, acrescentando que a maioria da família alargada vive na Pensilvânia.

Parte do que os manteve por perto, continua, é a dedicação inabalável da avó a cada membro da família. “Ela está presente em todas as festas liceu e da universidade”, informa. Aos 99 anos, Marguerite conta com 11 filhos, 56 netos e 101 bisnetos. “Adorei tê-los e ter tantas pessoas à minha volta”, conta sobre os filhos.

Aliás, há seis anos, quando dois casamentos familiares estavam agendados para o mesmo dia, a bisavó conseguiu chegar a ambos, apesar de as celebrações estarem separadas por mais de uma hora de carro. Experiência semelhante teve com duas das cerimónias de final de ciclo dos seus netos.

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Uma fotografia de família de 2013 Family photo

“Ela quis sempre estar presente em todas as graduações, baptizados e festas de aniversário dos nossos filhos”, conta Chris sobre a mãe. “A sua família é a sua vida”, acrescenta, adiantando que a mãe adora participar em eventos marcantes, acreditando que são momentos importantes da vida.

“Não falto a festas”, declara Marguerite, explicando que a sua fé, uma dieta equilibrada e exercício regular, levantando pesos duas vezes por dia, são o segredo da sua longa vida. A mulher transmitiu os mesmos valores aos seus filhos, netos e bisnetos.

Festejos continuam

Quando o filho de Chrissy Balster nasceu, elevando o número de bisnetos para 100, a mulher e o marido levaram o recém-nascido directamente do hospital para casa da avó, para que Marguerite fosse a primeira a vê-lo.

“Não importa o tamanho da família, quão grande ela cresça, quão longe estamos, essas lições que os meus avós começaram há 75 anos estão muito enraizadas em todos nós”, afirma Chrissy, de 34 anos, cujo filho nasceu a 4 de Agosto e recebeu o nome de “Koller William” em homenagem ao seu bisavô.

Apresentar o 100.º bisneto à bisavó, lembra, foi um momento de pura alegria para todos eles, mas especialmente para ela. “Foi tão emocionante reunir estas duas pessoas espantosas”, recorda. “Temos tanta sorte em fazer parte do seu legado.”

Enquanto segurava o bisneto recém-nascido nos seus braços pela primeira vez, Marguerite conta que pensou no seu marido. “Ele ficaria tão entusiasmado”, confessa. Embora se tenha tornado cada vez mais difícil reunir a família, os Koller ainda têm uma festa anual de Natal, bem como encontros frequentes. Também se mantêm ligados através das redes sociais.

Tal como Marguerite nunca perdeu o seu foco, a família, que agora consiste em cerca de 250 pessoas, incluindo os cônjuges, também tenta estar presente em todas as suas grandes celebrações.

Toda a família, incluindo o mais recente bisneto, que nasceu na semana passada e também tem o nome do seu bisavô William, está a juntar-se para celebrar o 100.º aniversário da sua matriarca, que será no dia 28 de Novembro, num clube de campo local.

A bisavó revelou estar entusiasmada por poder conversar com os seus muitos, muitos membros da família. E já foi clara sobre um tema importante: “Vou levantar-me e dançar!”


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: André Certã
Edição: Bárbara Wong

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