Programa de saúde mental nas escolas para 42 mil alunos entre os 12 e os 15 anos

Iniciativa vai estar presente em todas as regiões de Portugal continental com equipas multidisciplinares, que serão integradas, sobretudo, por psicólogos, mas também assistentes sociais e assistentes técnicos das escolas. “É preciso falar sobre saúde mental nas escolas e aumentar o grau de literacia nesta área”, sublinha investigadora.

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Projecto tem duas fases e a primeira decorre este ano lectivo Daniel Rocha

Mais de 100 estabelecimentos escolares, de Portugal continental, vão participar num programa para a promoção de bem-estar mental nas escolas. O projecto tem data de arranque marcada para 2023 e, por isso, vai decorrer ainda durante este ano lectivo com o envolvimento de mais de 42 mil alunos, mas não só: também os professores, as famílias e o pessoal não docente vão participar, conforme anunciou a organização numa sessão de apresentação em Lisboa.

De acordo com a professora e coordenadora da Unidade de Psicologia Clínica Cognitivo - Comportamental (UPC³) – que integra o projecto –, Cristina Canavarro, “é preciso falar sobre saúde mental nas escolas e aumentar o grau de literacia nesta área”. “Isso serve tanto para alunos como para professores, para que saibam lidar com as emoções”, reflecte. Segundo os responsáveis, o programa irá envolver mais de 42 mil alunos do 3.º ciclo (12 aos 15 anos), o que equivale a cerca de 5% dos alunos neste ciclo de ensino, assim como cerca de 800 professores e 2105 famílias.

O Programa “Ao teu lado - Programa de Promoção de Bem-estar Mental nas Escolas” vai prolongar-se ao longo dos próximos quatro anos, segundo a entidade que financia o projecto, a Z Zurich Foundation, que, no terreno, vai trabalhar em parceria com a UPC³ e a EPIS - Empresários Pela Inclusão Social.

A iniciativa vai estar presente em todas as regiões de Portugal continental com equipas multidisciplinares, que serão integradas, sobretudo, por psicólogos, mas também assistentes sociais, assistentes técnicos das escolas, entre outros. Isso vai traduzir-se numa coordenação com os psicólogos que já estão nas escolas, com a rede que a EPIS tem já montada além de um recurso adicional a esses profissionais. Segundo a organização, “no total estarão envolvidos 15 psicólogos (sete da Universidade de Coimbra e oito da EPIS) no programa ‘Ao teu lado'”. “Temos mais uma rede criada com mais recursos humanos que esperamos que depois sejam sustentáveis no tempo. Também estamos disponíveis para formar, e vamos formar, vários psicólogos nesta temática”, avança Cristina Navarro.

Chegar a todo o país

Já a directora da Missão Azul – clube de voluntariado da entidade financiadora –, Liliana Silva, admite que “conseguir uma distribuição que chegasse a todos os territórios foi uma grande preocupação”. “Vamos estar em todos os distritos e grande parte das escolas são também no interior do país”, explica a também directora de Desenvolvimento e Talento e Responsabilidade Social da Zurich Portugal. “Sentimos que são zonas onde não há tanto acesso a estas facilidades. Estes meios e recursos de apoio psicológico não existem no interior da mesma forma [que noutras regiões do litoral] e, por isso, queremos estar presentes”, acrescenta.

O projecto vai contar com duas fases de implementação: a primeira decorre este ano lectivo, altura em que serão realizadas sessões de grupo com a comunidade escolar — alunos, famílias, professores e funcionários — para chamar a atenção para a importância do bem-estar mental e a necessidade de estar alerta para entender os primeiros sinais e sintomas.

Estratégias para regular emoções

Na segunda fase, que decorre nos próximos três anos lectivos, ou seja, até 2025-2026, serão desenvolvidos programas de intervenção dirigidos para os adolescentes e outro para os professores.

No caso dos jovens, o foco estará na promoção de estratégias de regulação das emoções, enquanto para os docentes, o objectivo vai passar pelo reforço das estratégias de regulação das emoções, mas na perspectiva da profissão, promovendo o recurso a estratégias de regulação emocional adaptativas, na hora de enfrentar dificuldades emocionais ou problemas de relacionamento com os alunos.

Para a professora Cristina Navarro, esta capacidade de regulação adquire especial importância depois dos últimos anos de pandemia, em que a comunidade escolar foi obrigada a fechar-se, mais que uma vez, em casa. “Todos somos regulados por emoções e a pandemia teve um impacto enorme em todo este contexto relacional. Todos os confinamentos, as dificuldades de expressão e de contacto, certamente, tiveram um grande impacto.”

E prova disso, diz, é a adesão voluntária das escolas ao projecto. “As pessoas sentem que é algo necessário e se a pandemia trouxe muitas adversidades, trouxe também uma maior abertura para falar melhor deste tema, com menos estigma e menos tabu”, sublinha.

A equipa de investigação irá ainda fazer uma avaliação do impacto e eficácia do programa para perceber se houve um efectivo aumento do bem-estar mental. Com Lusa

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