Detidos nos protestos na Rússia poderão ser chamados para as Forças Armadas

Segundo a organização não-governamental OVD-Info, o Governo russo tomou a decisão de recrutar forçosamente algumas das pessoas detidas nos protestos para as Forças Armadas, juntando-as à mobilização parcial decretada por Putin.

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A OVD-Info acusa as autoridades russas de violência contra os cidadãos Reuters/REUTERS PHOTOGRAPHER

Pelo menos 1386 pessoas foram detidas na Rússia nos protestos realizados na passada quarta-feira contra a mobilização parcial de cidadãos decretada pelo Presidente russo, Vladimir Putin. Alguns deles estão a ser alegadamente recrutados para as Forças Armadas, de acordo com a organização não-governamental OVD-Info. Não é ainda conhecido o critério de recrutamento nem o número de pessoas que dele farão parte.

A porta-voz desta organização independente, que rastreia as detenções e já foi declarada como “agente estrangeiro” pelas autoridades russas, Maria Kuznetsova, disse à CNN que, em Moscovo, alguns dos manifestantes detidos pelas autoridades foram “convocados directamente para as Forças Armadas da Rússia”.

“Ameaçaram, inclusivamente, um dos detidos de o processarem caso ele continuasse a recusar a ordem das autoridades”, acrescentou Kuznetsova, relembrando que Governo afirma que a negação do cumprimento da mobilização parcial pode levar a até 15 anos de prisão.

Pouco mais da metade dos manifestantes detidos, cujos nomes foram tornados públicos, são mulheres, segundo informa a OVD-Info, tornando-se este o protesto anti-Governo com a maior participação feminina na história recente do país. Das mais de 1300 pessoas detidas em todo o país, mais de 500 estavam em Moscovo e mais de 520 em São Petersburgo.

Numa primeira reacção perante esta informação, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, recusou-se a negar as afirmações da OVD-Info. Afirmou: “Isso [a medida de recrutamento de manifestantes detidos] não é contra a lei”.

A organização relatou detidos em Moscovo, São Petersburgo, Ekaterimburgo, Perm, Ufa, Krasnoyarsk, Chelyabinsk, Irkutsk, Novosibirsk, Yakutsk, Ulan-Ude, Arkhangelsk, Korolev, Voronezh, Zheleznogorsk, Izhevsk, Tomsk, Salavat, Tyumen, Volgogrado, Petrozavodsk, Samara, Surgut, Smolensk, Belgorod e outras cidades.

Segundo a OVD-Info, a polícia agiu com violência contra os manifestantes e entre os detidos estão vários jornalistas. O Ministério Público de Moscovo advertiu que punirá com até 15 anos de prisão a organização e participação em acções ilegais. Também será punida, administrativa ou criminalmente, a difusão de convocatórias para participar em acções ilegais ou para realizar outros actos ilegais nas redes sociais, bem como fazer apelos a menores de idade para participarem em actos ilegais.

Na quarta-feira, o Presidente russo declarou que o número de pessoas convocadas para o serviço militar activo seria determinado pelo Ministério da Defesa, e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, disse numa entrevista televisiva que 300.000 reservistas com experiência relevante de combate e serviço serão inicialmente mobilizados.

Além dos protestos, a Rússia tem também assistido a um acentuado êxodo de cidadãos desde que Putin ordenou que o Exército invadisse a Ucrânia, há quase sete meses. No discurso que proferiu na quarta-feira ao país, em que anunciou uma mobilização parcial dos reservistas, Vladimir Putin também fez uma ameaça nuclear velada aos inimigos russos do Ocidente.

A ofensiva militar lançada a 24 de Fevereiro pela Rússia na Ucrânia já causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 5916 civis mortos e 8616 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

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