A “Nossa Senhora” da UE: Ursula von der Leyen

Delenda est Cartagho” (Cartago deve ser destruída) Catão (século II a. C.)

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Ursula von der Leyen EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON
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Ursula von der Leyen Reuters/YVES HERMAN

As mais recentes fotografias de Ursula von der Leyen, tiradas durante o tradicional discurso sobre o estado da União, proferido solenemente no Parlamento Europeu de Estrasburgo, faz hoje uma semana, mostram-na enquadrada pela bandeira da União Europeia, a cabeça rodeada de estrelas amarelas sobre fundo azul e ela própria vestida de azul e amarelo. A única cor que destoa, mesmo se é sóbria e discreta, é o vermelho dos lábios. Numa delas, vemo-la mesmo com os dois dedos apontados para cima, como se estivesse a apoiar duas das estrelas que lhe enfeitam a cabeça.

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, o número de estrelas da bandeira da UE não varia conforme o número de países que a compõem – como aconteceu com a bandeira dos Estados Unidos: foram sempre 12, quer fossem 15 os países que acabaram por aprová-la na reunião do Conselho da Europa em 1985, quer fossem 28, e agora 27, mesmo se os Estados-membros estão ansiosos por repor o número 28, com a entrada iminente da Ucrânia, ou mesmo por alargar a União.

E porquê? A razão histórica é fácil de explicar: os pais fundadores da futura UE, eram, na sua maioria, fervorosos católicos; e entregaram a proposta da bandeira a Arsene Heitz, um católico francês, natural de Estrasburgo, que se inspirou na coroa de estrelas citada no versículo 12,1 do Apocalipse (“Apareceu no céu um sinal extraordinário: uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça”), versículo que os católicos costumam evocar nas festas dedicadas à Virgem Maria, que é tradicionalmente representada na iconografia cristã com a coroa de doze estrelas.

Ursula von der Leyen, coroada pelas 12 estrelas do Apocalipse, apareceu, assim, como uma reincarnação da Virgem Maria que, entre 13 de Maio e 13 de Outubro de 1917, terá aparecido aos três pastorinhos, aos quais, segundo revelaria mais tarde a única sobrevivente, a futura “irmã” Lúcia, terá profetizado a conversão da Rússia, mesmo antes de Lenine tomar o poder no que viria a ser a União Soviética e perseguir ferozmente a Igreja cristã-ortodoxa.

Ora, o que veio profetizar desta vez a presidente da Comissão Europeia, em nosso nome e dos outros 26 países da UE nesse discurso solene? Que nós todos, cidadãos europeus que fazemos parte da União, iremos combater sem tréguas o tirano russo, que ameaça a paz na Europa, garantindo que, “com coragem e solidariedade, Putin falhará e a Ucrânia e a Europa prevalecerão”.

Pelo caminho, foi dizendo que, apesar do custo que a Europa está a pagar, “as sanções (à Rússia) estão para ficar”, porque Putin, imagine-se, decidiu utilizar a energia como arma de guerra, para responder às sanções que a UE, entretanto, lhe aplicara.

O que a estadista europeia não explicou, ao anunciar a determinação de prosseguirmos o apoio à resistência ucraniana até à vitória final, foi qual dos cenários se seguirá ao colapso da Rússia de Putin, no caso de, como garante, a Ucrânia ganhar a guerra e expulsar as tropas russas dos territórios entretanto ocupados e da Crimeia.

Vale, por isso, a pena, que nos interroguemos, nós, sobre as possíveis consequências da heróica e vitoriosa resistência do povo ucraniano.

Primeiro cenário: o derrube do governo de Putin e, quiçá, o seu assassinato. O que virá a seguir? Há duas forças na sociedade russa que poderão eventualmente juntar-se para o derrubar, mas que, no dia seguinte, estarão a disputar o poder: os saudosos do comunismo e os “ultras” da direita, que defendem uma nova “abertura democrática”, versão americana, isto é, como fez Ieltsin, a liberalização do mercado, com privatizações e entrega a novos oligarcas das empresas estratégicas do Estado, com as consequências que se conhecem, e que acabou, ao fim de vários litros de vodka, a pedir a Putin para tomar conta da Rússia, a troco de lhe salvar a cabeça. Ou seja, uma guerra civil pelo poder, ou seja, o caos.

Mas admitamos que, ao contrário do optimismo da nossa líder, é Putin quem ganha, eventualmente recorrendo a armas nucleares. Em que estado ficará o mundo, admitindo que a China, a Turquia, a Índia e o Irão, entre outros, nunca se solidarizarão connosco? O que fará a Europa? Vingar a Ucrânia, declarando guerra à Rússia? Ou, pelo contrário, ficando-se apenas por condenações verbais e sanções económicas?

Qualquer dos cenários bélicos, uma vez que a Nossa Senhora Ursula, em nosso nome, exclui a negociação e que um novo milagre de Fátima é improvável, é catastrófico. O mais provável é que, se se mantiver na sua cátedra, nos aponte uma solução desesperada, enquanto o Titanic se afunda: “Fujam! E o último a sair que feche a porta!”

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