A sustentabilidade e as crises

A pandemia, a guerra, a inflação ou outras crises futuras, não podem ser pretexto para aligeirar compromissos das empresas e dos estados. Cumprir as metas da Agenda 2030 da ONU e do Acordo de Paris, até 2030 e 2050, é crítico.

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As empresas não devem usar a pandemia ou a crise da Ucrânia como pretexto para desistir da sustentabilidade Dario Pequeno

Vivemos num tempo de crises profundas: à pandemia sucedeu-se a invasão da Ucrânia, que acelerou a espiral da inflação. Nas crises, o pânico não é bom conselheiro, mas, do ponto de vista ambiental, a urgência de resultados mantém-se, o que implica constância nos objetivos e efetividade na ação. A pandemia, a guerra, a inflação ou outras crises futuras, não podem ser pretexto para aligeirar compromissos das empresas e dos estados. Cumprir as metas da Agenda 2030 da ONU e do Acordo de Paris, até 2030 e 2050, é crítico.

A nova direção do BCSD (Business Council for Sustainable Development) pretende dar continuidade e um novo impulso ao relevante caminho trilhado nestas duas décadas. A sustentabilidade, tanto na sua dimensão ambiental, como social, é, cada vez mais, uma prioridade nas estratégias e planos de ação das empresas membro do BCSD Portugal. A nossa missão é ajudá-las nessa jornada. Nas dimensões ambiental, social e de governance, por vezes denominadas ESG, o escrutínio às empresas é cada vez maior. E ainda bem: as metas com que estamos confrontados em matéria de descarbonização, proteção dos ecossistemas e da biodiversidade, igualdade do género e combate à pobreza não se compadecem com respostas ambíguas ou discursos de circunstância.

A primeira prioridade do novo plano estratégico do BCSD Portugal é a neutralidade carbónica da atividade das empresas. No caso da energia e da mobilidade, responsáveis, em 2020, respetivamente, por 18 % e 26% da emissão de gases com efeito de estufa, as crises são oportunidades para acelerar a transição energética e a eletrificação assente em energias renováveis. No BCSD Portugal esta é uma oportunidade a que damos especial atenção, como o demonstra o recente pacto para a mobilidade sustentável assinado com a autarquia de Braga e mais de 30 empresas da região. Este segue-se à bem-sucedida experiência em Lisboa e o nosso propósito é expandir esta iniciativa a outras geografias.

No novo plano estratégico 2022-2025 acrescentámos à prioridade ambiental, a preocupação social e da igualdade. As crises da pandemia e da guerra têm significado o aprofundar das desigualdades e da pobreza, consequência da precariedade e, crescentemente, da inflação. O BCSD Portugal quer ser um parceiro reconhecido pelo contributo que dá para a criação de riqueza, assente em modelos empresariais sustentáveis e com boas práticas sociais.

Atenção particular merece o tema da igualdade de género, nomeadamente, o acesso das mulheres a posições de poder no universo empresarial nacional. Há progressos em Portugal: O Gender Gap Report do World Economic Fórum mostra que a presença das mulheres em conselhos de administração subiu de 24,6% para 31%. Contudo, apenas 14% das empresas têm mulheres em cargos de liderança. Menor diversidade traduz-se em menor competitividade das empresas, como evidencia, desde 2014, o relatório “Diversity wins, how inclusion matters”, da consultora McKinsey.

No BCSD Portugal, sabemos que stakeholders como o Estado, os consumidores, os investidores e os financiadores são cada vez mais sensíveis ao comportamento das empresas. As empresas existem para oferecer ao mercado soluções sustentáveis e lucrativas, que respondam às necessidades das pessoas e da sociedade. A sua ação em prol de valores e objetivos que todos reconhecemos como fundamentais para a construção de um Mundo mais sustentável, mais seguro e mais justo é imperativa.

Fundado há 21 anos por 34 empresas, o BCSD Portugal teve como seu impulsionador e primeiro presidente o Eng.º Belmiro de Azevedo. Desde então, e sempre integrando a Rede Global do WBCSD (World Business Council for Sustainable Development), temos um trajeto reconhecido de liderança empresarial em Portugal na área da sustentabilidade ambiental. Recentemente, coube-me a honra de assumir a presidência do BCSD Portugal, em representação da BRISA, sucedendo ao Eng.º João Castelo Branco.

É fundamental encontrar um modelo económico e político alternativo, assente na sustentabilidade. O nosso propósito é claro: Somos as empresas que transformam a economia em benefício das pessoas e do planeta. Crescemos e, hoje, temos mais de 140 associados e construímos parcerias com centenas de instituições.