Agricultores espanhóis pedem travão ao envio de água para Portugal

Milhares de agricultores espanhóis manifestaram-se contra a libertação de água para Portugal durante este mês de Setembro, alegando tratar-se de uma “espoliação” unilateral e sem qualquer tipo de diálogo.

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Libertação da água para Portugal “é obrigatória” por força do acordo de Albufeira, diz Governo espanhol Miguel Manso/Arquivo

Cerca de três mil agricultores das províncias de Leão, Zamora e Salamanca manifestaram-se nesta segunda-feira no centro da cidade de Leão para exigir que se encerre a libertação de água para Portugal no âmbito do acordo de Albufeira.

O pacto de Albufeira, assinado pelos dois países em 30 de Novembro de 1998 para a administração e uso da água nas cinco bacias hidrográficas que compartilham, entre as quais a do Douro, regula a protecção e uso sustentável das águas das mesmas.

O presidente da Associação de Comunidades de Rega da Bacia do Douro (Ferduero), Ángel González Quintanilla, disse que os primeiros afectados com as libertações extraordinárias em Santa Teresa, Águeda e Irueña foram os agricultores de Salamanca. “Agora foi a vez das comunidades de Leão sofrerem as consequências da libertação de água que está a decorrer desde dia 9 de Setembro nos reservatórios de Riaño e Porma, no sistema Esla-Valderaduey”, acrescentou.

A Ferduero denunciou que se trata de uma “espoliação” que está a ocorrer de forma unilateral e sem qualquer tipo de diálogo, acusando o Ministério da Transição Ecológica e Desafio Demográfico espanhol de voltar continuamente as costas à irrigação e ao mundo rural.

Após uma reunião com os agricultores na semana passada, o subdelegado do governo em Leão, Faustino Sánchez, sublinhou que a libertação da água para Portugal “é obrigatória” por força do acordo assinado entre os dois países.

Em virtude deste acordo, as duas maiores albufeiras da Bacia Hidrográfica do Douro — Almendra, no rio Tormes entre Salamanca e Zamora, e Ricobayo, no rio Esla, em Zamora, ambas destinadas principalmente à produção hidroeléctrica — terão de ceder a Portugal mais de metade da água que têm actualmente nas albufeiras.

O acordo prevê o envio para Portugal de cerca de 870 hectómetros cúbicos de água armazenada nas albufeiras espanholas da bacia do Douro, dos quais cerca de 650 provêm destas duas grandes albufeiras.

Assim, nas próximas duas semanas, antes do final do corrente ano hidrológico a 30 de Setembro, Espanha deverá ter cumprido aquele acordo e para isso terá de ceder à bacia do Douro portuguesa a quantidade mínima de água represada estipulada no acordo assinado em Novembro de 1998.

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