A Voz e a Alma, ou a poesia de João Monge dita e cantada num recital inédito

Quase a fechar o Lisboa na Rua, a actriz e encenadora Maria João Luís e o fadista Helder Moutinho juntam-se num recital nascido da poesia de João Monge. Sexta-feira no Palácio Pimenta, às 21h30.

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Maria João Luís e Helder Moutinho ALIPIO PADILHA

Penúltimo espectáculo da edição de 2022 do Lisboa na Rua, organizado pela EGEAC, A Voz e a Alma é um recital inédito que nasceu da vontade, partilhada pela actriz e encenadora Maria João Luís e pelo fadista Helder Moutinho, de celebrarem a poesia de João Monge, que já escreveu para ambos em diversas ocasiões. O resultado desse trabalho a três estreia-se na próxima sexta-feira, 16 de Setembro, no Museu de Lisboa - Palácio Pimenta (21h30), com entrada gratuita, só sujeita à lotação do espaço. Os bilhetes (máximo de dois por pessoa) podem ser levantados na bilheteira do Museu, no próprio dia, a partir das 15h.

Sendo todos os textos da autoria de João Monge, na maior parte originais, A Voz e a Alma conta com as vozes de Maria João Luís e Helder Moutinho, acompanhados por três músicos: Ricardo Parreira na guitarra portuguesa, Miguel Silva na viola de fado e Ciro Bertini na viola baixo. O desenho de luz é de Pedro Domingos e a sonoplastia estará a cargo de António Pinheiro da Silva.

“É mais um recital do que uma peça de teatro”, diz ao PÚBLICO Helder Moutinho. “A dramaturgia é toda original. Numas partes a Maria João declama, noutras representa. Nos fados, há o Escrito no destino, um Menor que gravei no 1987 [álbum lançado em 2013] e dois que gravei n’O Manual do Coração [2016]: Amor sem lugar e Condão. O resto são originais escritos para agora.”

Maria João Luís, por sua vez, explica ao PÚBLICO que a dualidade que existe neste espectáculo entre palavra dita e cantada surge da cabeça de João Monge: “O João é que escreve este texto a pensar em mim e no Helder, que tem um repertório com muitas coisas do João. Então ele decidiu pegar nalguns fados tradicionais e escrever para a voz do Helder. Depois faz uma espécie de ‘duo’ com o fado falado, escrevendo uma série de textos e poemas para uma voz feminina, que neste caso é a minha.” Com um alerta, diz ela: “Não é tudo em fado falado, mas vai soar como se fosse.”

Uma ligação antiga

A ligação entre a poesia de João Monge e Maria João Luís já é antiga, como ela recorda. “Eu sou um bocado adicta ao João. Conheci-o de uma forma muito particular, que me tocou especialmente o coração: ele foi ter comigo à minha casa no Alentejo para me convidar para um projecto dele, que fizemos na altura no São Luiz com a Manuela Azevedo [dos Clã], A Lua de Maria Sem. Uma obra belíssima, muito bonita, que foi até editada em disco [em 2011]. Na altura ele apresentou-se com o José Peixoto, que ia fazer a música incidental em cima das partituras do Alfredo Marceneiro. A partir daí, fiquei completamente fã do João e pedi-lhe um texto a seguir: uma adaptação d’As Troianas [de Eurípedes], mas com as mulheres a cantarem cante alentejano.” O projecto, com encenação de Maria João Luís, chamou-se Chão d’Água e foi premiado pela SPA em 2013.

Os ensaios têm decorrido num ambiente de casas de fados, em Alfama. O que, para Maria João Luís, além de novidade, é entusiasmante. “Tem sido uma viagem maravilhosa, divertidíssima. Para já, os ensaios são feitos em casas de fado, o que é uma coisa extraordinária. Nós estamos por ali, chegam os músicos, vamos conversando, e de repente, quando os músicos estão prontos, lá arranca o ensaio. É um prazer enorme sair para uma outra zona e aprender muito nessa zona.” Do lado fadista, Helder Moutinho também diz assinala uma aprendizagem pessoal: “Aprendi muito com a Maria João, especialmente nas divisões. Às vezes não há necessidade de dizer as frases a eito, quando se pode respirar para dar mais ênfase às palavras. E ela faz isso de uma maneira genial.”

Quanto ao espectáculo que agora se estreia, Helder diz apenas: “Abre com Escrito no destino e fecha com um fado corrido cujo nome, se não me engano, é Baixem a luz, por favor. Comigo a cantar e ela a dizer, ao mesmo tempo, em força.” O resto… fica para a noite da estreia.

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