Exército israelita admite “alta probabilidade” de ter matado a jornalista Shireen Abu Akleh

Quatro meses depois, Forças Armadas israelitas divulgam conclusões da investigação interna e dizem que um soldado confundiu a jornalista com combatentes palestinianos, mas a justiça militar não vai abrir inquérito aos acontecimentos.

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Shireen Abu Akleh era uma jornalista muito conhecida pelo seu trabalho sobre o Médio Oriente AL JAZEERA HANDOUT/EPA

O Exército israelita admitiu esta segunda-feira que é “altamente provável” que tenha sido um dos seus soldados a matar “acidentalmente” a jornalista Shireen Abu Akleh, em Maio, durante uma operação militar em Jenin. A investigação interna promovida pelas Forças Armadas à morte da profissional da Al Jazeera conclui que o soldado cometeu um erro de identificação e disparou contra a jornalista pensando tratar-se de um combatente palestiniano.

“Não se conseguiu determinar inequivocamente quem a alvejou. É preciso sublinhar que havia soldados israelitas e palestinianos no local. O cenário mais provável é que um soldado tenha disparado erradamente, enquanto ele próprio estava debaixo de fogo”, disse um alto responsável militar israelita durante a conferência de imprensa em que se apresentou o relatório da investigação.

O inquérito concluiu que o tiro foi intencional e que se deveu a um erro de análise do soldado. Mas porque “não há indícios de que tenha sido cometido um crime”, a justiça militar israelita anunciou que não vai abrir uma investigação aos acontecimentos.

Apesar de admitir pela primeira vez a possibilidade de ter sido responsável pela morte de Abu Akleh, o Exército israelita afirma novamente que estava a decorrer um tiroteio naquele momento, uma alegação que foi contrariada logo em Maio por investigações da CNN, do The New York Times e do The Washignton Post e, mais tarde, pela ONU.

Segundo o alto responsável militar, o Exército israelita entrou no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, para fazer detenções e os combatentes palestinianos que ali se encontravam começaram um “tiroteio descontrolado e em larga escala”, cita o The Jerusalem Post. “Os nossos soldados estavam em grande perigo. Houve um tiroteio com combatentes, que lançaram granadas e explosivos, durante uma hora e um quarto, num raio de quase 360 graus”, acrescentou.

Shireen Abu Akleh, de 51 anos e dupla nacionalidade palestiniana e norte-americana, estava no local com outros jornalistas a cobrir a operação militar israelita. Tinha um colete com a identificação de jornalista e um capacete. Foi morta com uma bala na cabeça, disparada a cerca de 200 metros. Outro jornalista, Ali Sammoudi, também foi alvejado e ficou ferido.

Na investigação interna, diz o Exército, foram questionados os soldados que participaram na operação, fizeram-se análises balísticas e forenses e foram ainda tidas em conta as informações obtidas pelos órgãos de comunicação norte-americanos que averiguaram o sucedido.

A família de Abu Akleh reagiu com irritação às conclusões apresentadas pelo Exército, acusando-o de querer “fugir à verdade e evitar responsabilidades”. Em comunicado, os familiares da jornalista pedem “uma investigação completa e um julgamento do Tribunal Penal Internacional”.

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