Já há pistas sobre como a “medusa imortal” engana a morte

Muitas espécies de medusas conseguem rejuvenescer-se e voltar ao seu estado larvar. Mas, ao contrário das outras que conhecemos, a “medusa imortal” continua a fazê-lo mesmo depois da reprodução. Uma equipa espanhola descobriu variações no genoma destes animais que podem ajudar a explicar este “truque”.

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Medusa juvenil da espécie Turritopsis dohrnii Maria Pascual-Torner
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Medusas no Aquário de Paris (França), um espaço dedicado a 45 espécies diferentes destes animais CHARLES PLATIAU/Reuters

Uma equipa de investigadores em Espanha descodificou o genoma da medusa imortal – um animal capaz de se reverter repetidamente para uma idade jovem , na esperança de descobrir o segredo da sua longevidade e descobrir novas pistas que podem ser aplicadas no envelhecimento humano.

No estudo liderado pelos investigadores Maria Pascual-Torner e Victor Quesada, da Universidade de Oviedo, é mapeada a sequência genética do Turritopsis dohrnii, a única espécie de medusas que sabemos ser capaz de regressar a um estado larvar depois de se reproduzir. O trabalho foi publicado esta segunda-feira na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

Como outros tipos de medusa, a Turritopsis dohrnii tem um ciclo de vida dividido em duas partes. Numa primeira fase, vive no fundo do mar e, enquanto ser assexuado, o seu principal papel é manter-se viva durante períodos de escassez de alimento. Depois, quando as condições são adequadas, as medusas deixam de ser assexuadas e reproduzem-se.

Embora muitos destes animais tenham a capacidade de rejuvenescer para um estado larvar, a maioria das medusas perde esta capacidade quando atingem a maturidade sexual – o que não é o caso na Turritopsis dohrnii.

“Há cerca de 15-20 anos que já sabemos que esta espécie é capaz de fazer alguns truques evolutivos”, diz Monty Graham, especialista em medusas e director do Instituto Oceanográfico da Florida, e que não participou nesta investigação.

Estes truques cunharam a espécie como a medusa imortal, uma alcunha que Monty Graham admitir ser um pouco exagerada.

O estudo procurou compreender o que torna esta medusa diferente, comparando a sequência genética desta Turritopsis dohrnii com a da Turritopsis rubra, uma “prima” genética que não tem esta capacidade de regressar ao estado larvar após a reprodução sexual.

O que os autores descobriram é que a Turritopsis dohrnii tem variações no seu genoma que a pode tornar mais competente a copiar e reparar o seu ADN. Esta espécie também parece ser melhor a manter as extremidades dos cromossomas (os telómeros) intactos. Nos humanos e noutras espécies, o comprimento dos telómeros diminui com o envelhecimento.

Monty Graham aponta que, para já, a investigação não tem qualquer valor comercial. “Não podemos olhar para isto como ‘ei, vamos recolher estas medusas e transformá-las num creme para a nossa pele’”, ironiza o investigador.

Este trabalho importa principalmente para a compreensão dos processos e o funcionamento das proteínas que permitem a estas medusas enganar a morte. “É um daqueles artigos científicos que abrirá uma porta para uma nova linha de investigação que vale a pena aprofundar.”

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